Capítulo : 1

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  --  A posto que essa jóia custou a Paco uma perna e um braço!

     Rindo da referência espirituosa a profissão do marido, a dra. Dulce Maria Álvarez desviou o olhar do pingente de diamante que segurava nos dedos e olhou para sua auxiliar.

-- Aniversário? -- Zoraida Gómez perguntou com uma ponta de inveja.

Dulce assentiu, afastando a mão para admirar o pingente sob outro ângulo.

-- Faremos seis anos de casados esta semana.

-- É mesmo um homem especial! Igualzinho ao meu Eddy.-- a enfermeira ironizou.

-- Achei que estivesse apaixonada por ele.

-- E estou. Aliás, tenho o pressentimento de que ele vai me pedir em casamento, mas não sei se é isso que quero.

-- Admita VC gosta do Eddy!

-- Oh, é claro que gosto. O problema é que ele não é o melhor amante do mundo.

-- Sexo não sustenta um casamento. - Opinou Dulce com expressão séria.

-- Para VC é fácil dizer... Ainda está em Lua de Mel com Paco Álvarez depois de anos!

    O ventre de Dulce se aqueceu ao pensar no marido.

-- Ficarmos distante um do outro por tanto tempo mantém a chama acesa eu acho.

    Depois de tanto tempo, ela começava a se aborrecer com a agenda de viagens de Paco. Desejava ter com ele mais intimidade emocional, porém começava a acreditar que o marido tinha receio disso. E parecia tentar compensar sua ausência com presentes caros, como aquela joia magnifica.
   No entanto, o colar não aliviará a opressora sensação de que havia alguma coisa errada nos últimos meses. Talvez estivesse apenas se sentindo solitária, Dulce  pensou. A final,não via Paco havia uma semana.
   Mas, por que estaria pensando naquilo!? Paco parecia normal ao telefone, e ansioso pra voltar pra casa. Não havia motivo para pensar que o casamento feliz estivesse menos intacto do que no dia anterior.
  Então, qual seria a razão daquela espécie de premonição de que o relacionamento estava a beira de uma crise?. então olhou do pingente para a enfermeira Parada diante da mesa com uma pilha de fichas dos pacientes que ela atenderá.

-- Quantos pacientes atendemos hoje? Perdi a conta.

-- Cinqüenta e dois, e a maioria foi de pacientes seus.-- Zora ajeitou os formulários com cuidado. -- O dr. Morán já foi embora, e aposto que VC ainda nem almoçou. Eddy e eu vamos jantar fora esta noite. Quer ir? -- perguntou Zora sorrindo.

-- Obrigada mais não posso. Nós nos mudamos faz seis meses e até hoje não terminei de tirar os livros de Paco das caixas. Aquela bagunça está me deixando louca! Por que não sai mais cedo? Eu fecho a clínica.

-- Ah eu agradeço! Nós nos veremos amanhã.-- A enfermeira parou na porta.-- Oh, quase me esqueci... Seu irmão te telefonou de novo.

   Dulce abriu um sorriso e agradeceu. Sozinha, massageou as têmporas, o que seus pacientes pensariam se descobrissem que seu irmão não era apenas um ex- condenado, mas que também vivia sob o mesmo teto que ela?
    Christian cumprirá penas de dois anos na penitenciária estadual e agora precisava de um lugar para ficar. Sabiamente, havia pensado em sua "amada irmã", como ele próprio havia declarado em tom charmoso ao ligar no final de semana.
    A presença de alguém em sua vida organizada a deixava pouco confortável, sua preciosa privacidade seria violada, mas como única parente de Christian, sentia-se moralmente obrigada a ajuda-lo.
   A porta se abriu, e Zoraida colocou a cabeça para dentro da sala de Dulce.

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