Capítulo: 6

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  Os passos do gerente da funerária ecoavam  no salão vazio, exceto pela três mulheres paradas ao lado do caixão.
  
-- As Senhoras são parentes do falecido?

  Ruby e Dulce olharam para Beatriz incertas sobre como responder.

-- Não, elas são minhas... Irmãs.

  Ruby tossiu e Dulce piscou, surpresa, mas nenhuma das duas se pronunciou.
   O rapaz sorriu e estendeu uma caixa de lenços de papel, cortesia da  casa.

-- É muito bom que  tenham vindo prestar  uma última homenagem ao Sra. Álvarez.

-- Para isso servem as irmãs. - Ruby sorriu e pousou a mão no braço de Beatriz, em uma evidente provocação.

   Uma pequeno grupo se aproximou, e um homem bem vestido complementou Beatriz, deixando óbvio que a reconhecia  como a esposa de Paco.

-- Venha - Dulce cochichou no ouvido de Ruby. - Vamos beber alguma coisa.

   Elas foram para a sala anexa, e Dulce procurou moedas na bolsa para enseri-las na  maquina de salgadinhos.

-- Obrigada Dulce. Eu estava faminta! - Ruby agradeceu, abrindo o saco de batatas fritas. - Não me lembro da última vez que comi... Sempre gostei de comer, e agora com o bebê, eu não paro de mastigar!

     Dulce ouvia a esposa mas jovem de Paco tagarelando, porém não registrava as palavras. Olhava para ela, mas os olhos da cor âmbar não focalizavam nada. Seu corpo parecia flutuar com a estranha sensação de que nada daquilo era real.

-- Doutora? A senhora está bem?

  Dulce assentou lentamente e a encarou.

-- Como consegui ficar tão calma?

-- Não sei. Acho que o bebê me deixou mais forte. - Ruby ergueu os ombros, mastigando ruidosamente as batatas fritas.

-- Vc tbm era casada com Paco!

-- A situação é muito estranha, mas o que posso fazer?

-- Odiá-lo? - Dul perguntou como se quisesse permissão para isso.

-- Não posso odiá-lo. Ele é o pai do meu filho.

-- Mas Veja o que ele fez pra nós!

-- Sei que Paco agiu mal, só que ele está morto agora, já foi punido não acha?

   Dul suspirou. Era inútil tentar uma conversa madura com aquela criança.

-- Está fazendo exames Pré-natais? - mudou de assunto para um tópico que ela dominava com mais facilidade.

-- Ainda não. Na verdade, fiz o teste de gravidez em casa e repeti duas vezes para ter certeza. - Ela se aproximou e disse em tom de confidência: -  A fita ficou azul. Isso quer dizer que vai ser menino?

-- Não. - Dulce evitou se irritar com a pergunta.

-- Ótimo pq quero que seja menina. Paco também queria.

-- Vcs conversaram sobre ter filhos?

-- Oh, sim! Ele queria quatro, duas meninas e dois meninos. - Ruby sorriu e acariviou o ventre. - Este aqui veio antes do que havíamos planejado. Mesmo assim, Paco ficou tão feliz que insistiu para nos casarmos imediatamente.

   Dulce olhou para as mãos sem saber o que dizer. Para seu alívio, o gerente da funerária caminhou até elas para avisar que o velório se encerraria em dez minutos, e que o corpo seria levado até Leander, para jazigo da família.
   Elas retornaram ao salão principal e assistiram quando o gerente fechou o caixão. Depois dois rapazes levaram o caixão para o carro fúnebre, e as três esposas  seguiram atrás deles.

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