Capítulo: 2

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-- Pela última vez, moça dê-me o anel de Esmeraldas.

    Sentindo-se impotente, ela tirou a joia do dedo e a entregou.

-- Obg! Agora o par de brincos de diamante.

-- Não! Não posso entregar os brincos! Eram da minha tia avó!

Dulce naquele momento tentou não chorar, mas falhou miseravelmente.

-- Por favor... Pare de chorar. -- O homem pediu com certa simpatia. -- Estou apenas tentando alimentar minha família. Desculpe mas foi você que casou com um trapaceiro, eu não tenho culpa do que esta acontecendo.

  Furiosa ela engoliu as lágrimas e levou as mãos trêmulas ás orelhas e tirou os brincos e os entregou sem encará-lo.

-- Só falta o pingente de diamante.

-- Mas Paco me deu de presente pelo nosso aniversário! -- ela protestou.

-- Eu sei. Fui eu quem o vendeu, a propósito feliz aniversário de casamento.

  Uma onda de fúria cresceu dentro dela, tomando o lugar do sentimento de auto piedade.

-- Seu... Seu monstro!

-- Vou lhe dá uma escolha doutora. -- Ele propôs, sem se abalar com a hostilidade. -- O pingente ou o anel de casamento.

  Tremendo ela passou a corrente pelo pescoço e jogou no chão.

-- Fique com esse maldito pingente, mas va embora!

   Ele a encarou por alguns segundos, e uma emoção que se assemelhava a compaixão reluziu nos olhos verdes. Com movimentos lentos, apanhou o colar, e o guardou no bolso e estendeu-lhe a cópia de um formulário preenchido e assinado.

-- Seu recibo. -- avisou, guardando o restante dos papéis. -- A propósito doutora... Eu realmente estou com indigestão.

   Dulce por sua vez arregalou os olhos perplexa. Como ele ousava?. De súbito, ele sorriu, revelando dentes brancos e perfeitos, então se despediu com uma inclinação de cabeça e saiu.
     Longos minutos se passaram até que Dulce conseguisse regular o ritmo da respiração. Seu corpo todo tremia. Seria verdade? Paco havia mesmo feito aqueles empréstimos absurdos? A mudança que havia notado nele durante os últimos meses estaria relacionada aquelas dívidas ou a outra mulher, como ela suspeitará?
    Apanhou o telefone e discou o número do celular do marido, sem obter resposta. Uma raiva lenta poderosa invadiu seu peito e cenas de um casamento de seis anos se desenrolaram em sua mente como filme em câmera lenta. O encontro com Paco na Conferência médica, o namoro conciliado com a apertada agenda de viagens dele, o casamento e a rápida Lua de Mel na Jamaica...
    Ambos haviam se acomodado a rotina pouco convencional, com Paco viajando na maior parte do tempo, e ela perfeitamente ajustada a sua vida regrada e tranquila. Ele não se importou em deixa-lá em St. Louis e se mudar para uma cidade pequena.
    Uma tempestade desabou quando Dulce atravessava o estacionamento da clínica, e ela entrou no BMW encharcada dos pés a cabeça. A primavera havia chegado a Smiley, Missouri com chuvas ocasionais pela tarde, assim como havia ouvido na meteorológista da Rádio local naquela manhã.
    Desolada, ela pegou o celular e tentou ligar para o marido novamente, e mais uma vez a ligação caiu na caixa postal. Entre preocupada e furiosa, ela rumou para casa.
   A casa dela, corrigiu num repente de mágoa, lembrando-se de que receberá o velho casarão em Smiley como herança de sua tia avó. Ai saber disso, não hesitará em mudar da agitada St.Louis para a pacata cidadezinha. Paco havia concordado prontamente, pois Smiley ficava no centro de sua área de vendas. A princípio, ela acreditará que pudessem passar mais tempo juntos. Contudo, nos últimos seis meses, as ausências do marido haviam se tornado ainda mais frequentes.
   Ela amava aquela casa. O casarão vitoriano lembrava os verões de sua infância, em que ela passava duas preciosas semanas com a tia do pai Rosa Maria. A tia a guiara com dedicação por sua infância e adolescência, compensando a ausência de seus pais. Em sua formatura, lembrou-se com um aperto no peito, recebeu de sua tia os brincos de brilhante que havia pertencido a sua mãe.
    Manobrou o BMW e atravessou o jardim dos fundos que o Sr. Herrera havia classificado como "Descuidado". Com um arrepio, recordou-o da descrição precisa que ele fez da casa, e a necessidade de falar com Paco se tornou imperativa.
   Superando o medo, ela entrou pela cozinha e apanhou o telefone na parede sobre a pia e discou o número de Paco. Tensa, ouviu a gravação metálica informar que o telefone estava fora de área.
    A seguir telefonou para o Banco e constatou, horrorizada que seu saldo era de vinte e dois dólares e noventa centavos.

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