Dulce María percebeu, depois de alguns quilômetros na estrada que a parte ruim de dirigir era dar ao passageiro liberdade total para encará-la.
-- Há alguma coisa no meu rosto? - Perguntou ela incomodada com o olhar de Alfonso.
-- Algumas sardas.
-- Acho que passei muito tempo no sol cuidando do jardim. tenho que deixá-lo apresentável pra vendas da casa.
-- É que pena, sabendo o quanto você ama aquele casarão.
Disse ele e ela concordou em silêncio. Somente ela sabia o quanto chorava todas as noites ao pensar no assunto.
-- Tenho que voltar a praticar medicina e não posso fazer isso aquí em Smiley.
-- Pois acho que está desistindo cedo demais.
-- Pra você é fácil dizer. Sou eu quem tem que conviver com os comentários suasurrados e os olhares causadores sempre que saio a rua.
-- Acredite, eu sei como é ser alvo de fofocas, em Smiley as pessoas parecem me ver como um gângster ou algo do tipo.
-- Por causa da pequena cicatriz na sobrancelha? - Dulce comentou olhando de relance para a mesma. - A final como conseguiu?
-- Com meu irmão. Éramos crianças e estávamos brincando de guerra. Ele atirou uma pedra e eu me coloquei no caminho. Simples assim.
-- Poderia ter sido pior! - disse ela e ele bugou sorrindo sem vontade.
-- Com dois meninos em casa, minha mãe tinha assento fixo na sala de espera do pronto socorro.
Ela riu e voltou a atenção na estrada.
-- Onde ele está?
-- Na Alemanha. Alejandro seguiu carreira Militar.
-- E seus pais?
-- Meu pai morreu quando eu era adolescente, e minha mãe se casou de novo depois eu sai de casa e me mudei para Key Valley.
-- Key valley? - Dulce se surpreendeu. - É só outro lado de St. Louis.
-- Isso mesmo. Seu irmão me contou que você e Paco moraram lá por um tempo. - Ele se calou ao perceber a tristeza estampada no rosto dela. - Sinto muito. Eu não deveria ter mencionado isso.
-- Não se preocupe, Paco foi parte da minha vida por muitos anos. É natural que muita gente ainda o mencione. - Ela o ficou de relance. - Eu nunca perguntei isso a você, mas... O que achava dele?
-- Parecia um bom homem, mas eu sabia que ele tinha problemas financeiros. Estava sempre desesperado, fazendo apostas malucas.
-- Tentando ganhar dinheiro o bastante para sustentar três esposas... - Ela completou com desdém. - Eu me arriscaria a dizer que Paco era um jogador compulsivo.
-- Não sei o termo técnico para isso, mas certamente ele extrapolou todos os limites.
Dulce apertou a mão no volante com mais força. Odiou-se por não ter interpretado a contração em seu estômago no dia em que se casou com a incerteza em vez de expectativa. Foi capturada pelo momento e pelo espírito do marido. Não havia nada casual em Paco tudo que ele fazia era especial.
-- Você tem falado com a esposa mais jovem? - A voz de Alfonso interrompeu suas divagações.
-- Sim, liguei pra Ruby diversas vezes pra ter certeza que ela está fazendo os exames pré-natais.
-- Como se sente a respeito disso?
-- Como uma médica.
-- Eu quis dizer se você não se aborrece por saber que ela vai ter um filho de Paco.
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Um Amor de Verdade
RomanceDulce Maria Álvarez tinha tudo pra ser feliz: Um casamento perfeito com um homem que era o sonho de toda mulher, a profissão que sempre sonhará ter e uma linda casa na pacata cidadezinha de Smiley. Então,por que ela tinha a sensação de que uma Catá...