Capítulo: 25

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  Dulce María percebeu, depois de alguns quilômetros na estrada que a parte ruim de dirigir era dar ao passageiro liberdade total para encará-la.

-- Há alguma coisa no meu rosto? - Perguntou ela incomodada com o olhar de Alfonso.

-- Algumas sardas.

-- Acho que passei muito tempo no sol cuidando do jardim. tenho que deixá-lo apresentável pra vendas da casa.

-- É que pena, sabendo o quanto você ama aquele casarão.

    Disse ele e ela concordou em silêncio. Somente ela sabia o quanto chorava todas as noites ao pensar no assunto.

-- Tenho que voltar a praticar medicina e não posso fazer isso aquí em Smiley.

-- Pois acho que está desistindo cedo demais.

-- Pra você é fácil dizer. Sou eu quem tem que conviver com os comentários suasurrados e os olhares causadores sempre que saio a rua.

-- Acredite, eu sei como é ser alvo de fofocas, em Smiley as pessoas parecem me ver como um gângster ou algo do tipo.

-- Por causa da pequena cicatriz na sobrancelha? - Dulce comentou olhando de relance para a mesma. - A final como conseguiu?

-- Com meu irmão. Éramos crianças e estávamos brincando de guerra. Ele atirou uma pedra e eu me coloquei no caminho. Simples assim.

-- Poderia ter sido pior! - disse ela e ele bugou sorrindo sem vontade.

-- Com dois meninos em casa, minha mãe tinha assento fixo na sala de espera do pronto socorro.

   Ela riu e voltou a atenção na estrada.

-- Onde ele está?

-- Na Alemanha. Alejandro seguiu carreira Militar.

-- E seus pais?

-- Meu pai morreu quando eu era adolescente, e minha mãe se casou de novo depois eu sai de casa e me mudei para Key Valley.

-- Key valley? - Dulce se surpreendeu. - É só outro lado de St. Louis.

-- Isso mesmo. Seu irmão me contou que você e Paco moraram lá por um tempo. - Ele se calou ao perceber a tristeza estampada no rosto dela. - Sinto muito. Eu não deveria ter mencionado isso.

-- Não se preocupe, Paco foi parte da minha vida por muitos anos. É natural que muita gente ainda o mencione. - Ela o ficou de relance. - Eu nunca perguntei isso a você, mas... O que achava dele?

-- Parecia um bom homem, mas eu sabia que ele tinha problemas financeiros. Estava sempre desesperado, fazendo apostas malucas.

-- Tentando ganhar dinheiro o bastante para sustentar três esposas... - Ela completou com desdém. - Eu me arriscaria a dizer que Paco era um jogador compulsivo.

-- Não sei o termo técnico para isso, mas certamente ele extrapolou todos os limites.

  Dulce apertou a mão no volante com mais força. Odiou-se por não ter interpretado a contração em seu estômago no dia em que se casou com a incerteza em vez de expectativa. Foi capturada pelo momento e pelo espírito do marido. Não havia nada casual em Paco tudo que ele fazia era especial.

-- Você tem falado com a esposa mais jovem? - A voz de Alfonso interrompeu suas divagações.

-- Sim, liguei pra Ruby diversas vezes pra ter certeza que ela está fazendo os exames pré-natais.

-- Como se sente a respeito disso?

-- Como uma médica.

-- Eu quis dizer se você não se aborrece por saber que ela vai ter um filho de Paco.

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