A noiva vermelha (2/3)

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Por um momento eu pensei que aquele seria apenas mais um caso qualquer com um pouco de bizarrice que era necessária para chamarem minha amiga pra ajudar, porém tudo se esclareceu quando Sophie se aproximou mais de mim colocando o celular entre nós e a mesma voz com modulação começou a soar.

- Vocês não adivinhariam quem é, adivinhariam? – O tom sarcástico se fazia presente.

- Oziel – Sophie não escondia seu nojo em saber quem estava do outro lado da linha.

- Fico lisonjeado em saber que você memorizou meu nome, Sophie Holmes – Ele sabia como a irritar, ela odiava que a chamassem assim.

- Por que tanto tempo para fazer outro alvoroço?

- Eu precisava de tempo, eu gosto de fazer as coisas na hora, sem guardar nada em conserva.

- Então isso tem a ver com você?

- Claro que tem, eu nunca gostei que rissem de mim, agora ela não vai rir nunca mais.

- E como você fez? – Oziel riu do outro lado da linha.

- Esse é seu trabalho Srta. Adler, pelo menos eu acho que é. . . Só espero que você não seja suspeita de nada, mas você não tem ligação não é? – E a ligação foi encerrada.

- O que ele quis dizer com “Você não tem ligação”? – Perguntei um pouco intrigada.

- Eu não sei mas nós chegamos – Ela dizia abrindo a porta do carro que havia parado e eu a segui.

- Ainda bem que chegou – Hopkin se aproximou correndo com Lestrade em seus calcanhares, aparentemente ele era seu supervisor – Está tudo ainda em seu devido lugar, como costuma querer.

- Ok obrigada – Ela respondeu ao detetive se aproximando de duas árvores curvadas onde no meio havia um altar improvisado.

Eu me aproximava com cuidado, não queria correr o risco de danificar pistas, as cadeiras estavam bagunçadas como se os convidados tivessem entrado em pânico, as próximas ao caminho que dividia elas em dois grupos na direita e esquerda estavam mais alinhadas de modo a deixar o caminho maior, o socorro deve ter vindo pro ali. Quando cheguei próxima ao altar vi o corpo da moça estirado lá, estava de barriga pra cima, o vestido antes branco tinha manchas vermelhas na altura das costelas do lado direito, mas parecia vir de trás de suas costas já que tinha uma poça embaixo do corpo que fazia o sangue manchar também o véu e a parte de trás da barra de sua roupa.

- Que nome você pensaria para isso, Rosie? A noiva sangrenta? O jogo de O. ? – Ela fazia piada com os títulos de minhas publicações.

- Foco no trabalho, tem alguma ideia do que houve? – Era melhor desviar do assunto.

- Umas cinco talvez, pode ter sido uma cirurgia mal feita, ou seja, pontos fracos com linha errada, mas isso implica em Oziel ter tido acesso ao hospital ou ameaçado algum dos envolvidos na cirurgia, isso chamaria atenção provavelmente durante o pós cirúrgico – Ela virou o corpo com cuidado o analisando na parte onde parecia a fonte daquele mar de sangue.

- E as outras quatro?

- É melhor eu guardar para mim e testar antes de falar – Ela se afastou guardando a lente que estava usando para analisar os detalhes do corpo.

- Por que não fala agora?

- Qual a graça que vocês veem em saber as teorias falhas ao invés de só saber a certa?

- Deixa vocês mais humanos talvez? – Ela me olhou com uma cara de ironia – Sim eu sei que tecnicamente você usa de coisas desumanas física, emocional e eticamente, mas mesmo assim.

- Que? Eu não disse nada – Ela se levantou saindo andando do local dando sinal para os detetives finalmente trabalharem depois de tanto esperar por ela.

Mais uma vez ela me deixara para trás e sem nenhuma informação ou pista do que estava pensando, talvez fosse mais útil eu voltar para casa e descansar para o trabalho do dia seguinte, eu também ia olhar as opções de casas em Soho, já que Sophie ia ajudar financeiramente, eu não precisava me preocupar com um aluguel junto as despesas, poderia ser um apartamento ou casa própria mesmo, é eu teria um dia longo depois daquilo.

Eu não tinha demorado muito depois de chegar quando minha amiga me ligou.

- Rosie você entende sobre vestidos de noiva? – Ela raramente começava uma conversa com um “Oi”.

- Talvez, por quê?

- Sabe me dizer se vestidos que usam como base um espartilho pode ter força suficiente para estourar suturas?

- Se a pessoa que está apertando o espartilho tiver força e raiva o suficiente para querer deixar a noiva sem ar talvez sim.

- Interessante. . . Falo com você depois – E desligou.

Aquela pergunta já esclarecia a hipótese de que ela estava suspeitando de alguém, isso talvez fosse algo bom, significava que Oziel não era tão esperto quanto achava ser. Eu pensei isso, e pensei por certo tempo, até que meu pai entrou em meu quarto com uma expressão confusa. Ele não se deu ao trabalho de falar nada, apenas me mostrou uma notícia em seu notebook, o título dizia:

“Filha do famoso detetive Sherlock Holmes é suspeita de assassinato previamente elaborado”

Só aquele título já seria suficiente para deixar minha parceira furiosa, mas talvez o resto também fosse o suficiente para deixar ela pior que isso. A manchete continuava dizendo que a moça, cujo nome ainda não tinha sido revelado, havia consultado Sophie poucas semanas antes de sua cirurgia, sendo também seu segundo caso não bem sucedido e sem solução, sendo o primeiro o caso “Dia de tédio com borboletas”. Num resumo, eles diziam que ela tinha muitos motivos para querer a mulher morta, já que o caso não tinha sido resolvido graças a um erro da própria cliente e que fora encontrado traços de DNA da detetive particular nas amarras do espartilho suspeito de ter arrebentado as suturas do espartilho, a prova definitiva seria que Sophie consegue muito bem se disfarçar e que fez um disfarce para ser uma das responsáveis pelo vestido da noiva, apertando demais o espartilho que precisou apenas que a vítima se movimentasse para começar a abrir o corte cirúrgico.

- Ela não fez isso, depois daquele carro bomba na mansão Holmes ela se dedicou totalmente em descobrir quem era o tal Oziel, não tem como ela ter tido tempo pra matar essa garota – Meu pai sabia que era verdade, mas ele sabia bem o que meu padrinho era capaz de fazer quando estava com raiva e drogado ao mesmo tempo, Sophie poderia não ser diferente.

- Eu não posso dizer muito. . . Ela é filha de Sherlock Holmes afinal, o homem que apontou um bisturi para um homem influente e estava louco o suficiente para dizer que não estava fazendo nada.

- Beleza você não vai me ajudar, eu já entendi – Olhei quem havia escrito a matéria e me surpreendi ao ler que o responsável pelo mateira era uma tal de “Policial Donovan” – E eu sei exatamente onde resolver isso.

Desci as escadas o mais rápido que puder para sair do Flat, Michael Donovan, era o único policial com esse nome, era o único que investigava as coisas relacionadas aos Holmes com tamanho desgosto ao ponto de usar qualquer prova contra eles de forma a parecerem culpados, mas geralmente a mídia não comprava essa ideia, mas dessa vez havia DNA e uma rixa muito grande envolvida, ele com certeza estava se aproveitando da situação do jeito errado.

Sophie Adler A Filha De Um Gênio Onde histórias criam vida. Descubra agora