Confissões de Família (3/4)

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A viagem entre o parque e a cafeteria foi tomado por um silêncio enlouquecedor, Anthea estava no banco da frente, junto ao motorista, Mycroft permanecia próximo a janela ao meu lado encarando o vidro, não sei se estava olha do o próprio reflexo ou a paisagem, mas estava estático e aquela energia pesada que os Holmes tem o dom de deixar no ambiente quando estão concentrados em algo era irritante.

- Chegamos – Disse a mulher no banco da frente e logo estávamos fora do veículo – Tenham um bom dia.

Assim que chegamos perto da porta do estabelecimento, o carro saiu com a mesma calma que havia chegado no parque. Nós estamos ainda em silêncio, o Holmes mais velho apenas olhava vez ou outra para as próprias mãos que pareciam vacilar no cabo do guarda-chuva quando ele não prestava tal atenção nelas, talvez fosse nervosismo pela situação que ocorreu entre ele e Sophie no parque, talvez fosse apenas um problema que eu não havia me dado conta antes.

- Eu sei que mantive distância do apartamento por bastante tempo desde que você ainda era pequena, mas eu nunca me dei muito bem com nenhuma forma de família – Ele quebrou o silêncio assim que pedimos nossas bebidas quentes e sentamos em um mesa longe de tudo.

- Acredite, eu não sou da sua família de loucos – Respondi me jogando no estofado do sofá que circulava a mesa na parte próxima a parede.

- Sherlock parece considerar bem o seu pai como parte da família, e Sophia parece considerar o mesmo sobre você – Ele permanecia no mesmo tom desdenhoso de sempre, mas não ousava relaxar a postura no móvel nem por um único momento, estava tenso.

- Nah, eu sei que os dois pombinhos do 221B se pegam e tal, mas. . . Família é quem a gente considera, não os laços e parentescos comuns que a gente assume por sangue ou relacionamentos – Ele continuou me encarando sem dizer uma palavra – Tá você não entendeu bem, eu estou querendo dizer que seu não me considero parte da família que você considera como sua, então você não é como se fosse um “tio ausente”, é mais como um amigo chato da família.

- As coisas na “família que eu considero minha” nunca foram um exemplo, eu também não consideraria todo mundo como parte dela, já imaginou alguém como eu tendo a informação de ter o tio Rudy na mesma família? – Ele sufocou um riso.

- Tio Rudy? – Perguntei confusa.

- Foi quem teve a ideia de levar Eurus a Sherringford, no começo. . . Mas ele ainda era um velho travestido de mulher, estaria tudo bem, se ele soubesse como fazer isso – Ele bufou mais como forma de desprezo do que como alívio.

- Como assim “Soubesse como fazer isso”?

- Digamos que ele parecia mais um tio bêbado das festas natalinas que os outros decidem usar de piada do que um travesti.

- Maquiagem de olho na testa, batom no olho e vestido posto do avesso?

- Algo como isso – Ele pareceu olhar para as partículas de poeira que passam em frente a sua visão – Acho que realmente só nosso pai é normal, talvez nem mesmo ele.

- Defina.

- Eu e Sherlock nos achávamos idiotas até conhecermos as outras crianças e vermos que era o contrário, o mundo está cheio de idiotas e nós só somos. . . Diferentes. Quem sabe o papai apenas não está acostumado demais a viver com pessoas desse tipo pra ver que ele também não é normal.

- Talvez seja, mas ainda seria bom eu e meu pai não sermos os únicos normais com uma ligação tão direta com vocês – Eu ri e uma garçonete trouxe meu capuccino e o café de Mycroft – Então, sobre a mistura de raposa com lontra, o que a gente faz? Eu não sei onde ela foi, e você?

Sophie Adler A Filha De Um Gênio Onde histórias criam vida. Descubra agora