Confissões de família (2/4)

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Com muita insistência, e paciência, eu consegui evitar uma segunda rodada de discussão e levar Sophie para fora do apartamento com a desculpa de "preso dentro de casa ninguém fica saudável", acabei indo pelos caminhos de trás do prédio para evitar que o réptil nos visse indo na direção do parque, acabamos pegando um caminho alternativo, mesmo que mais longo, para chegar até o local do desaparecimento.

- Você tem uma hora até ele suspeitar de que não estamos nos arredores do prédio - Comentei me afastando e me sentando em um banco.

- Uma hora? Eu não preciso de meia hora no máximo - Ela andou pelo local interditado pela polícia enquanto era observada pelo único guarda presente no local - O senhor deveria avisar o seu superior ou o responsável pela investigação do sequestro que vocês julgam ter acontecido aqui, o que tem aqui não vai dar provas sobre para onde foram.

- Srta. Adler, eu sei da sua fama mas isso claramente é um equívoco - Ele cruzou os braços.

- Esse barro vermelho, ele não está puro, tem sangue seco nele, vê essas marcas mais escuras - Ele apontou para uma parte do solo apoiando um joelho no chão - Um pouco mais ali a frente tem traços de cocaína, eu consegui recolher um pouco mais cedo e mandar para um especialista nisso.

- Está sugerindo um assassinato?

- Sim eu estou, comunique seu superior e peça para vir aqui junto com os responsável da investigação para recolher o máximo possível do sangue e descobrir se é da vítima ou da pessoa que ela veio encontrar isso é algo extremamente impot. . .

- Sophia Alexia Adler Holmes! - A voz de Mycroft ressoou no parque vindo de trás de mim que olhei rapidamente o vendo apoiado em seu guarda-chuva perto de uma árvore, ele parecia furioso.

- Ah qual é, réptil! - Sophie se afastou do guarda indo em direção ao moreno enquanto eu me levantava do banco - Qual o seu problema? Você não tem que ser um exemplo de babá! Eu sei me virar, apenas finja que fez o que tinha que fazer e receba o que é que vá receber disso depois.

- Eu não posso receber nada sem fazer o meu trabalho - A voz de Mycroft parecia esconder algo, mas talvez tenha sido uma falha na minha percepção - Você vai voltar pra casa, aja como uma adulta e tenha responsabilidade!

- Você me trata como se eu fosse ele, eu não sou o seu irmão! - Minha parceira de irritou o segurando pelas abas do blazer que ele vestia sobre a camisa e o sacudiu - Acorda, Ice man! Você não tem controle algum sobre mim, eu não sou a sua irmãzinha psicopata, nem o seu irmãozinho lunático, cuide do que é SEU problema e me deixe em paz!

Ela praticamente rosnava enquanto o Holmes mais velho apenas a encarava com certo traço de desdém no olhar, ele parecia estar pensando friamente no que dizer e fazer a seguir.

- Eu tenho meus motivos pra cuidar do seu estado atual - Ele disse segurando os pulsos da sobrinha tirando as mãos da mesma de perto de si.

- Ah claro! Até porquê você nem poderia ter feito isso uns 17 anos atrás não é? Quando eu tinha sete anos e estava nas mãos de uma mãe maluca e ninfomaníaca e você sabia! - Ela o empurrou.

- Sophie, você me disse que tinha 19 anos quando me conheceu, depois desses três anos você deveria ter 21 anos agora, 17 anos atrás você teria no máximo quatro anos - Disse confusa com aquela matemática toda.

- Não Rosamund, eu te conheci já com 21 anos, foi mal mas você talvez não fosse confiar em alguém tão mais velha que você, é só cruzar a idade atual do seu pai com a época em que ocorreu o caso com a minha mãe, mas isso não vem ao caso - Ela voltou a encarar Mycroft.

- Eu tinha motivos para não te tirar dela.

- Claro que tinha, o seu irmão não quis assumir paternidade!

- Como acha que tem o mesmo nome que eu, Sophie? Ele assumiu sua paternidade, ele só não podia ficar com você - Ele endireitou sua postura - E foi por minha causa.

- Você? Por que você faria isso? Não queria arruinar sua carreira tendo seu nome ligado a filha de uma meretriz que, por acaso, também é sua sobrinha?

- Foi para o seu bem que eu não permiti que ele te criasse.

- Ah entendi, até porquê a minha mãe quase me prostituir é bem melhor do que viver com meu pai, o namorado dele e uma irmã postiça - Ela comentou com ironia.

- O meu temor não era problemas físicos ou mentais, Sophie, eu fiquei um tanto apreensivo pelo simples fato do meu irmão poder induzir você ao mundo mais escuro de Londres, eu já tive que buscar um irmão mais novo que você em meio a becos e prédios abandonados por causa de drogas, se existe um Deus só ele sabe o estado que eu já cheguei a encontrá-lo, eu não precisava fazer o mesmo com a filha desse irmão, sabe-se lá o que você poderia se tornar depois disso - Mycroft tentava disfarçar as emoções daquelas lembranças com um rosto frio e apático.

- Então você tinha medo de eu ficar como ele ou me tornar um novo Magnussem. . . Até parece, chega a ser patético, o SEU irmão ficou assim porquê você FALHOU no seu papel como irmão, VOCÊ deixou ele se afundar em drogas devido a um trauma feito por OUTRA FALHA SUA! Não cuidou dele e não cuidou da sua irmã, se tivesse cuidado dela, ela não teria assassinado uma criança! Não teria destruído a cabeça do seu "querido irmão" e provavelmente eu nem estaria aqui! - Ela gritava com ele a plenos pulmões - Você, com SUAS falhas achou que seria melhor eu crescer em meio a dinheiro e prostituição, ah que bom samaritano você é, Myc!

- Sophie, já chega - Segurei o braço de minha amiga tentando a afastar mas ela se soltou.

- Você não sabe do que está falando, Sophia - Mycroft cerrou os punhos - Você age como se soubesse o que eu tive que fazer, como se soubesse o quanto eu tentei. Você não faz ideia como é ser o irmão mais velho de alguém normal quando você é extremamente o inverso disso, viver em meio a livros, estudos próprios e rotina agitada enquanto o seu irmão mais novo é simplesmente alguém inteligente mas normal - Ele trincou os dentes como se estivesse se esforçando para não elevar o tom de voz - Você não entenderia nem se estivesse me meu lugar hoje, o quão difícil é ser alguém que se arrepende de não ter estado presente perto de quem você se importava por medo de essa pessoa acabar como você, não faz ideia de o quanto pode machucar alguém, ver que, depois de todo o vento leste ter ido embora, as coisas não vão voltar ao normal mesmo depois que o esquecimento vem, ver tudo que você tentou evitar acontecer de forma ainda pior. Se eu tento te ajudar hoje e tentei ajudar antes, foi para evitar falhar de novo.

- Eu sinto muito, réptil, mas você falhou - Ele suspirou e saiu do local a passos rápidos pegando um táxi assim que chegou na rua fora do parque.

- Sophie! - Eu tentei alcançar ela quando percebi que ela não pretendia ficar mais ali, mas Mycroft segurou a manga do meu casaco antes que eu conseguisse ver sua movimentação.

- Ela precisa acalmar a cabeça - Ele suspirou voltando a sua expressão rotineira - Todos nós precisamos aparentemente.

- É um mal dos Holmes - Comentei suspirando e dando de ombros.

- E o mal dos Watson é continuar tentando ir atrás de nós nesses momentos. . . Bem, aceita um café, chá ou um chocolate quente? Eu sinceramente já estou parado aqui a tempo de mais.

- É acho que um café vai ajudar um pouco nessa situação, criaturas de sangue frio gostam de coisas quentes também não é, réptil? - Pela primeira vez ele não parecia ofendido com a piada, isso oficialmente é assustador.

- Quem sabe? - Ele saiu andando enquanto eu o seguia e entramos em um carro preto que parecia saber exatamente o horário de chegar.

Sophie Adler A Filha De Um Gênio Onde histórias criam vida. Descubra agora