Confissões de família (1/4)

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Como eu havia dito, assim que Sophie se recuperou nós nos mudamos para o apartamento novo. Ela concordou em pagar o preço da compra do apartamento ao invés de dividir um aluguel, no fim ela pagou a maior parte.


Estaria tudo resolvido e a vida de nós duas seguiria em frente, se não fosse uma decisão de meu pai como uma garantia da saúde de Sophie.



- O que ele está fazendo aqui!? - Minha amiga apontava para a figura na porta.



- Foi ideia do meu pai. . . E em parte do seu também - Respondi tentando esconder minha vontade de gargalhar.



- Acredite eu também não me sinto lisonjeado em ter que te servir de babá por um mês - Mycroft dizia entrando com uma pequena mala.



- Um mês!? Rosamund me mata de uma vez - Ela se jogou dramática na sofá.



- Ah vamos, não é culpa dele ou minha de você precisar de uma babá. Eu avisei para você cuidar melhor da sua saúde, em um dia na hospital descobriram mais problemas em você do que com Sherlock em uma semana - Ela me olhou com uma expressão séria.



Essa era nossa situação atual, estávamos em um apartamento novo que havíamos acabado de terminar a arrumação, eram dois quartos, uma cozinha com sala de jantar junta a sala e um banheiro, bem mais espaçoso do que a maioria, mas não tão grande como uma casa, e agora tínhamos Mycroft como um convidado que ficaria lá no sofá por um mês.



- Vai me dizer por quê exatamente está aqui? - Ela se sentou no sofá olhando o outro.



- Seu pai, meu querido irmão, te conhece o bastante para saber que você não vai tomar os medicamentos sem uma rigorosa supervisão - Sophie bufou, ele estava certo - Além de que sabemos que Rosie não tem tempo pra supervisionar isso o tempo todo e eu. . . Bem digamos que tenho certo ganho com isso. Por outro lado, John Watson me mandou aqui para evitar que você assuma qualquer caso, também tenho certo ganho nisso.



- Você realmente vai ser minha babá só pra ter algo em troca? Que família unida eu tenho - E o tom irônico apareceu.



- Tem coisas envolvendo esse "trabalho" que você não seria capaz de entender, você fez questão de herdar isso do seu pai - Agora ela estava com raiva, muita raiva, mas ocultava isso muito bem num rosto apático.



Sim, esse seria o maior mês de toda a minha vida, durante três dias eles discutiram por tudo e qualquer razão e isso agravava ainda mais quando Mycroft decidia provocar a sobrinha apontando tudo que ela tinha de semelhante a Irene Adler e Sherlock Holmes, é sempre bom lembrar que ela odeia ser comparada com seus pais. Para minha sorte, no quarto dia Sophie decidiu sair do apartamento e dar uma volta, obviamente ela não foi sozinha, mas antes eles discutindo lá fora e longe de mim do que dentro de casa, infelizmente isso só durou um dia.



- Rosie! - Ela chamou da cozinha, devia ser algo importante então eu fui - Você viu a última notícia do jornal? Um sequestro em uma rua não muito longe daqui.



- Você não pode fazer parte de nenhum caso até terminar o tratamento médico - Mycroft retrucou sentado na cadeira da mesa.



- Vocês querem parar!? - Eles pararam e me encararam com surpresa - Sophie, não sei se você está muito em condição de assumir um caso, mas se eu te impedir você vai fazer do mesmo jeito.



- O que alguns meses de convivência não fazem não é? Já sabe até meu comportamento - Ela comentou irônica.



- Anos, e isso é pior que um casamento de adolescentes apaixonados - Corrigi recebendo um olhar de raiva - E você Sr. "Eu mando em tudo", deveria estar ajudando, não enchendo o meu saco com essas discussões infantis, você nem mora aqui!



- Eu não estou aqui por minha vontade, além de que não é apenas culpa minha - Ele ajeitou a postura na cadeira - Se ela não fosse tão cabeça dura e irresponsável, eu nem teria que estar aqui e, mesmo que tivesse, seria muito mais fácil.



- Ah. . . Isso me dá até déjà vu - É, nisso eu não poderia negar, Sophie tinha a quem puxar. . . De ambas as partes.



- Eu entendi esse comentário - Ela respondeu se sentando sobre o balcão da cozinha.



- A ideia era essa, "mon ange" - Eu sorri e ela piorou o olhar de raiva.



- Eu sou obrigado a ver essa confirmação dos boatos? Não estou ganhando nada pra isso - Ele suspirou cruzando os braços sobre o peito como se esperasse uma explicação para o apelido, talvez ele consiga mais tarde.



- Vão me explicar ou não? Que diabos de caso é esse caso de sequestro? - Perguntei já me irritando com aquela mudança de assunto.



- Um garoto, 16 anos, saindo do colégio, sumiu duas ruas depois do parque onde ele parou para encontrar alguém. Quem é esse alguém não é informado, aparentemente ele apenas comentou com amigos que iria encontrar alguém lá mas não disse mais nada, o caminho não tem nada a ver com a rota que ele costumava fazer para ir de volta pra casa - Sophie disse se ajeitando no balcão.



- E como você sabe disso tudo? - Mycroft estreitou os olhos, ele estava suspeitando daquilo.



- Você é uma ótima babá, réptil, muito bom mesmo - Ela riu, provavelmente ela conseguiu distrair ele o suficiente pra interrogar alguém.



- E como você espera resolver isso? A polícia pode fazer isso sozinha - Perguntei me recostando no arco da porta.



- Não ela não pode - Ela pulou do balcão me olhando.



- E por que diz isso?



- Porque eu fui até o lugar e encontrei marcas de sangue e vestígios de cocaína.



- Então o garoto era um viciado com dívidas e foi morto - Ah isso parecia fácil demais.



- Sim, Rosie, ou um traficante que foi vítima de um viciado violento e sem dinheiro pra pagar a cocaína e a polícia não percebeu.



- O assunto está ótimo mas você não vai sair dessa casa, não dessa vez - Mycroft se levantou a encarando fazendo a mesma se aproximar dele.



- Eu adoraria ver você tentar - Ela retrucou de modo desafiador com um meio sorriso.

Sophie Adler A Filha De Um Gênio Onde histórias criam vida. Descubra agora