Oi meus amores!
Estava muito ocupada esses dias por isso estou voltando hoje, mais um capítulo da nossa escrava querida!
Ao se vê só na casa, ela senta-se na cadeira perto da janela e um filme começa a passar em sua mente. Pensa na sua infância, nos seus alunos, nos seus amigos, nos escravos que eram como amigos para a família, nos seus pais e sente suas bochechas húmidas pelas lágrimas que insistem rolar em seu rosto. Olhou ao seu redor para a casa tão singela e ao mesmo tempo aconchegante, iria ter que se acostumar ali. Era isso ou ser vendida no mercado negro. Olhou a sua pele, não era uma jovem muito branca como as moças da aristocracia eram, havia puxado mais para a família da mãe, seus bisavós que eram índios e todos tinham os olhos esverdeados, menos ela que nasceu com os olhos num tom de mel escuro.
- Trouxe algo para você comer. – a avó de Tobias falou um pouco baixo, olhando o aspecto sofrido da jovem a sua frente. – Venha sentar aqui. – indica a cadeira da pequena mesa que havia ali.
- Estou com pouca fome. – a jovem diz, levantando e indo até a senhora.
- O que comer já serve. – a velha simpática e com jeito acolhedora insiste. A menina não consegue se esquivar, diante de tanto mimo. Seca as lágrimas, passa as mãos no vestido já sujo e vai até a mesa comer.
- Acha que vão me deixar trabalhando na casa grande? – pergunta após um breve silêncio entre as duas. Onde Rogéria comia calada e a velha lhe observava.
- O que sabe fazer?
- Eu ensinava as crianças ler e escrever na fazenda. – diz abaixando a cabeça para o prato que ainda estava farto do sanduíche, bolachas, bolo e suco de laranja.
- Não ensinam as crianças por aqui. Mas vou ver como faço, os patrões vivem fora e o Pereira fica por dono na ausência deles. Falarei com ele antes que o feitor veja você.
- Como são tratados os escravos aqui?
- Digamos que somos tratados melhor que na fazenda Abiaí e pior que na fazenda Primavera de onde veio.
- Usam senzalas?
- Não só elas, mas também temos tortura e o famoso tronco. O feitor é um cara ruim, nossa sorte é a compaixão que Pereira tem com agente.
Rogéria faz uma cara assustada, temendo encontrar-se com esse feitor e volta a comer seu lanche.
Ainda estão em silêncio quando Tobias entra afobado falando pelos cotovelos, característica típica dele que Rogéria já observou.
- Vó, vó... Vó! – ele grita desde antes de entrar na casa.
- Onde é o fogo menino? – a velha pergunta com calma.
- Vamos para a fazenda Abiaí agora, uns escravos fugiram e vamos procurar, não sei quando retorno, vim lhe avisar que Pereira não retornou a fazenda por causa disso então não sei o que fazer com ela. – diz apontando a menina assustada para ele.
- Calma menino. Estarei aqui e tomo conta dela. – a mulher diz pegando no braço de Rogéria e puxando um pouco para trás como se a protegesse de algo. – Você diz ao Pereira que eu vou colocar ela para trabalhar na casa grande até vocês voltar e ver como fica.
- Tenho medo do feitor. – ele diz com jeito esgotado.
- Eu também, acho melhor fica aqui na casa, fico escondida. – ela diz olhando para a velha em sua frente.
- Pereira nos coloca em cada situação. Deixa de vir em casa para sair procurando escravos dos outros. – a velha diz revoltada.
- Vó volte para a casa, feitor estava por perto da cozinha quando passei, não deixe saber que temos Rogéria aqui. É boa a ideia de esconder ela até nossa volta. – ele diz fechando a janela da frente da casa. – Avisarei aos nossos vizinhos e creio que irão nos ajudar.
Assim ficou decidido e cada um foi fazer o que tinha que fazer, Rogéria se sentiu só novamente e agora com um medo dentro de si, o feitor lhe ver ali. Abriu a sacola que a senhora lhe trouxe e tinha roupas limpas, parecidas com as roupas que as escravas usam para trabalhar na casa grande, decidiu tomar um banho e tirar o vestido que sua ama de leite lhe fez com tanto carinho e que agora não passava de um trapo sujo e rasgado. Suspirou amargando sua atual realidade e quando entrou no quarto para colocar as coisas nele, viu em uma mesinha um livro e se dirigiu até ele.
- Uma Bíblia. – disse passando a mão no livro e tirando dele a poeira existente. – Encontrei algo que ler, passar o tempo, apesar de nunca ter lido a Bíblia, será um bom passatempo.
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Uma Escrava, uma missão
Tâm linhKara é uma jovem filha de fazendeiros, se vê sendo vendida como escrava em véspera de completar quinze anos, mas ela não desfalece, o amor e paz que traz dentro de si lhe dão forças para continuar a viver e prosseguir na missão que Deus colocou em s...