Após a ceia dos patrões Rogéria apressou a arrumação da cozinha, correu na cabana, pegou um vestido dos que ganhou de Tobias e voltou para se arrumar, iria para o encontro com Pereira saber qual a tarefa que ele iria lhe pedir. Quando ela sai na cozinha encontra a venenosa da Rosa tomando um copo com água.
- Humm para onde a dondoca vai tão formosa? - pergunta.
- É da sua conta? - responde ríspida.
- Amiga relaxa eu só estava brincando. Sua inimiga aqui não sou eu. - fala com um meio sorriso, dá outro gole na água e diz: - A sinhá quer que você limpe as janelas do andar de cima amanhã antes do almoço.
- Sim senhora eu limparei. - responde com ironia já se retirando, mas ainda ouve:
- Cuidado por aí, uma viúva solta a noite com roupa de mucama não é toda noite que os capatazes veem.
- Pode deixar Rosa, não vou me agarrar com os seus capatazes. - fala apressando os passos para sair de perto dela.
Com medo de ser seguida, Rogéria faz um caminho mais longo para o riacho, atrasando assim sua caminhada e percebendo que alguém se aproxima galopando, esconde-se nos matos com medo de ser pega por algum capataz da fazenda e seja punida por tentativa de fuga. Escondida ela vê que quem galopa no meio da noite estrelada é o duque e intrigada com o horário, fica curiosa para saber onde ele esteja indo, instintivamente começa a lhe seguir com certa distância, pela diferença de locomoção.
"Para onde ele está indo?" Se pergunta isso enquanto caminha no meio do mato com dificuldade e cuidado para não ser vista. "Está indo ele para algum encontro?" Um ciúme invade suas veias e ela começa a se sentir infantil por sua atitude. Mais na frente ela vê o riacho e vê que Pereira já está lá com mais um homem e o duque que acaba de descer do seu cavalo. Ela sente medo do que possa acontecer e lembra de que lhe foi ensinado que na adversidade ela podia confiar em Deus.
- Deus, me protege ali naquele lugar, obrigada por tudo que fez até agora e se não for pedir demais que meu coração seja imune a beleza alheia e meus desejos sejam só para meu prometido que nem imagino quem será na atual conjuntura do meu viver. Mas por favor que eu não venha cair em mãos erradas. - Encerra a oração e sai de dentro dos matos se fazendo ser vista pelos três homens que nem imaginam que ela estava escondida. Passa as mãos nervosa pelo vestido e os cumprimenta com um boa noite.
- Que bom que veio. - Pereira lhe diz com aquele jeito áspero de falar. - Pensei que não iria ter coragem de sair no meio do mato a noite.
- Não tenho medo de nada. - fala olhando para o duque nesse momento e seu coração fraqueja ao imaginar que ele possa lhe fazer mal.
- Que bom! Então tomamos a decisão certa. - diz o duque com um meio sorriso. - Achei que Pereira estava louco quando falou que você daria para nossa meta.
- Podem me explicar o que devo fazer? - falo um tanto nervosa pelos olhares dos três em mim.
- Sente-se. - O capitão fala ríspido.
Sento no tronco de árvore que está diante dele e o olho com uma grande interrogação. Não tenho a menor ideia do que eles querem e nem quem é o terceiro homem ali comigo.
- Bom Rogéria. - Pereira começa falando e caminhando de um lado para outro. - Você já sabe que o Tobias está no quilombo não é? - afirmo com a cabeça. - Então... nós estamos precisando de alguém para alfabetizar os escravos. - fala e faz uma pausa passando as mãos na cabeça e apontando para o homem estranho perto de mim. - Esse é pastor João Freire, recém chegado da capital e braço direito de Tobias. Foi o menino quem disse que você sabia ler e escrever e que já deu aulas.
- Eu contei para ele que alfabetizava os negros da fazenda. - digo abaixando a cabeça e lembrando dos meus alunos.
- Temos algumas das crianças que ensinava lá conosco. - o pastor fala sorrindo.
- Como iria fazer para ir no quilombo? Estou como... - iria falar a minha verdade mais olho para o duque e completo. - Sou apenas uma escrava.
Pereira me olha, olha para o duque eu não sei se posso confiar nele, lindo, rico e ao mesmo tempo tão distante de mim. - Todos aqui são de completa confiança Rogéria. - ele diz percebendo que freei a verdade.
- Bom não importa. O que importa é que se você aceitar podemos nos organizar e lhe levar lá. Claro que vão ser duas vezes na semana e que terá que ir com um de nós três a princípio. No futuro penso em te libertar e deixar você lá fixa. - O duque fala calmo e fico olhando para ele falando com uma naturalidade mágica.
- Isso mesmo, tudo pode acontecer e é importante que vá com um de nós três. - Pereira fala.
- Eu topo. - falo levantando do tronco e tentando parar de me sentir acuada pelo duque.
- Nós temos uma moça aventureira aqui. - o pastor fala rindo. - Tem noção que está aceitando algo que pode lhe custar sua vida?
Eu o olho com um meio sorriso, consigo ser firme nas palavras para lhe responder? Imagino que sim então respondo. - Tem noção que colocar minha vida em risco é só o que tenho feito? Lá na fazenda tem uma sinhá com inveja de mim porque me acha mais bonita que ela, fui tirada do convívio com meus pais porque alguém se achou no direito de pegar minha mãe para ser sua escrava particular, a única pessoa que teve a boa vontade em me ajudar abandonou tudo para cuidar do próximo em um quilombo. Porque eu não posso alfabetizar os meus semelhantes? - o olho com olhar duro e firme e sinto o sorriso do duque de satisfação.
- Está é sua missão.
- Obrigada Pereira por confiar ela a mim. Mas pode me explicar o porque de querer que eles saibam ler?
- Eu explico enquanto voltamos para a fazenda já é tarde, daqui a pouco a ronda passará e não vão lhe ver em casa. - o duque diz me apontando o caminho. Eu o olho com desconfiança e Pereira me incentiva a ir com ele, indo sentindo contrário com o pastor.
- Eu não vou montar no cavalo. - falo um pouco baixo demais.
Ele rir e responde: - Não se preocupe vou puxando relâmpago enquanto caminhamos a luz da lua. - fala rindo e me fazendo girar os olhos, será que esse duque se acha o rei?
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Uma Escrava, uma missão
SpiritualKara é uma jovem filha de fazendeiros, se vê sendo vendida como escrava em véspera de completar quinze anos, mas ela não desfalece, o amor e paz que traz dentro de si lhe dão forças para continuar a viver e prosseguir na missão que Deus colocou em s...