Era uma tarde de primavera, Kara estava na sala com alguns escravos. Ela os alfabetizava desde que sua avó Filomena morrera e lhe pediu quando adoeceu que desse continuidade a sua missão.
- Kara, preciso das crianças no jardim. - Disse sua mãe com calma.
- Daqui meia hora estarão todos lá mamãe. - ela responde sem olhar para a mãe, concentrada nas continhas que Leon acabara de responder.
Leon era seu melhor amigo, filho de Luísa a cozinheira da casa, era um escravo de pele clara e que fora criado dentro da casa grande, junto com Kara. Essa é filha única dos Castelli, apesar do Sr. Marcelo Castelli ser um fazendeiro de uma das fazendas de cacau de Ilhéus na Baía bem conceituado; ele é um homem simples e que trata negros e brancos do mesmo jeito. Isso é mau interpretado por outros fazendeiros e ele tem sofrido ameaças.
- Pronto crianças, continuaremos amanhã, vão ajudar a senhora no jardim por favor. - diz Kara fechando o livro e colocando na poltrona ao seu lado.
- As vezes penso que você tem mais de dezoito anos. - Luísa diz entrando com a bandeja de suco e bolo de laranja.
- Mas farei quinze no final de semana. - responde Kara recebendo o mimo da criada.
- Será uma linda festa! - Luísa diz sonhadora.
- Não me agrada esses saraus, mas papai insistiu tanto que concordei.
As duas se calam ao ouvir um grande alvoroço vindo do lado de fora, se entre-olham e vão para a janela ver o que se passa do lado de fora. Quando Luísa olha fica preocupada e imediatamente diz:
- Suba menina e se tranque em seu quarto. - Diz Luísa aflita.
Antes de Kara pensar em se mexer, elas ouvem uma voz grossa e arrepiante do capitão do mato:
- Ninguém vai a lugar nenhum. Por favor sentem aqui. - diz com uma arma apontada para as duas.
Luísa segura na mão de Kara e a puxa até a poltrona. Kara está como que em choque e se deixa ser guiada pela escrava. Luísa teme que algo ruim aconteça com ela, todos sabem que eles saqueiam as fazendas e matam os donos. Teme pela patroa e pela menina que viu nascer. - Vai ficar tudo bem. - sussurra olhando para Pereira.
- Quer ajuda aqui? - pergunta um rapaz ao entrar, vestido como capanga e também portando uma arma. - Lá fora está tudo organizado.
- Organizaram como Tobias? - pergunta ele puxando do bolso uma corda e apontando para as mulheres lhe dando entender que quer que as amarre.
- As crianças na carroça, escravos em fila amarrados por idade e a senhorinha na vossa carruagem. Ele diz amarrando as mãos de Kara.
- Mamãe! - Ela sussurra e Tobias a olha assustado.
- Quer dizer que ela é a filha do Marcelo? - Pereira o capitão do mato pergunta, já lhe apontando a arma engatilhando-a em sua direção. - Não queremos herdeiros vivos não é mesmo? - diz puxando Kara com brusquidão fazendo com que Luísa tema pelo bem da menina.
- Não senhor ela é minha filha. - Luísa grita. - Ela não é filha da casa, só chama a senhora de mamãe porque é criada aqui dentro junto com meu outro filho. - diz olhando para Kara com medo que ela a desminta.
- Marcelo tem uma filha. Não está mentindo? - ele questiona.
- A senhorinha está na corte já faz anos. - diz olhando para Kara como que lhe rogando que não a desminta.
- Levo elas para onde? - diz Tobias pegando Kara das mãos de Pereira e puxando a velha pela corda amarrada ao pescoço.
- O que temos aqui? - Pereira diz olhando para as duas e para o livro que está no chão e provavelmente caiu quando Kara foi puxada por ele. - Sabe ler escrava? Então essa vai me render mais dinheiro. Tobias, a negra vai para junto dos outros, a garota vai com você, sabe o que fazer. - ele diz passando as mãos nos cabelos cacheados de Kara, essa olha para a sua ama de leite e deixa rolar uma lágrima, fazem uma despedida silenciosa e são interrompidas com Tobias as puxando.
- Kara você vai no cavalo comigo. Não se preocupe não vou lhe machucar. - Tobias diz enquanto amarra a negra na fila junto com os outros escravos.
Kara procura com a vista seu amigo Leon e não encontra torcendo que ele tenha se salvado.
- Pronto agora você me espera aqui que vou terminar minha missão. - Tobias diz prendendo as mãos dela na cela do cavalo. - Vai ficar presa só porque não posso levar bronca de Pereira.
- Tobias não é? - ela fala. - O que vão fazer com a fazenda?
- Não olhe menina não vai gostar. - ele diz dando um sorriso amarelo, entendendo que ela é apegada a tudo ali.
Sai e se junta com outros capangas, recebendo de um deles uma tocha e se aproximarão da casa tornando-a uma grande fogueira, Kara observava aquilo tudo com muita dor, não conseguia impedir que as lágrimas parassem de rolar e começou a pedir a Deus que ajudasse a todos.
Oi gente!!
Voltei com mais um livro. Espero que leiam e comentem.
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Uma Escrava, uma missão
EspiritualKara é uma jovem filha de fazendeiros, se vê sendo vendida como escrava em véspera de completar quinze anos, mas ela não desfalece, o amor e paz que traz dentro de si lhe dão forças para continuar a viver e prosseguir na missão que Deus colocou em s...