Sem pode fazer muita coisa o coronel tira a menina de dentro da casa grande, precisa conversar com ela, lhe fazer entender que precisa lhe ajudar. Leva ela para a ala da senzala onde se lava e passa as roupas da casa grande, é uma área melhor e que está sendo vigiada dia e noite, seria bom para ela ficar ali.
- Rogéria, por favor vamos conversar. - ele diz a parando no meio do caminho.
- O que o senhor quer? Quer dizer que me comprou para eu servir de brinquedo nas mãos da sua mulher? Que eu ser vendida não era o bastante, precisava ser humilhada e descobrir tudo que descobri agora? - ela diz magoada.
- Calma menina, não sei o que ela tem contra você e nem o que houve na cozinha, mas quero ajudar. - ele diz tentando lhe convencer.
- Pois fale coronel eu estou lhe ouvindo. - ela diz seca.
- Eu amo uma negra que está no quilombo. Por isso quero saber onde fica, ela não sabe que a amo e que a única coisa que faço nesse mundo é tentar ficar perto dela. Preciso que me ajude a vê-la e que se possível leve um recado meu para ela.
- Porque eu lhe ajudaria coronel?
- Pedro disse-me que o coronel iria lhe comprar e o interceptei e comprei você das mãos dele.
- Para hoje sua mulher fazer o que fez? Está se sentindo vingado ou vão me botar no tronco?
- Por Deus menina o que Isaura lhe disse:
- Vai fingir que não sabe que ela odeia minha mãe e que quer se vingar em mim? - diz voltando a sentir que irá chorar e querendo segurar as lágrimas.
- Quem é sua mãe? - ele indaga e ela percebe que ele não sabe da verdade.
- Ela não lhe disse nada não é? - diz diminuindo o tom de voz.
- Não e se quiser não precisa me dizer, só saiba que meu único intuito em lhe comprar foi para quando Lucas chegar você ainda esteja aqui. Eu acredito no amor e sei que ele a ama. Em troca só quero ver minha Jurema.
- Desculpe coronel eu estava muito fora de mim. Lhe ajudo com a Jurema, sei quem é e levo o recado, quanto lhe levar lá vamos esperar ou Pereira ou Lucas aparecer.
- Pereira não vai voltar menina. Ele hoje enquanto o coronel Abílio estava aqui, Pereira roubou uma escrava na fazenda dele, parece que uma preferida do coronel e fugiu. Talvez nunca mais nós o vejamos.
- Minha mãe. - ela diz e cai num choro com as mãos para cima agradecendo a Deus a mãe está livre.
- A escrava particular do Abílio é sua mãe? - o coronel se espanta.
- Sim, é minha mãe e agora graças a Deus e ao Pereira ela não está mais no porão.
- Olhe vai ficar ajudando aqui nas roupas, é uma área vigiada e não vai ter como ninguém lhe ofender, só não se meta no caminho da Isaura.
- Eu pudesse nunca mais olhava para ela, mas infelizmente não posso. Pode deixar que não vou para casa grande.
- Como faz para ir no quilombo e voltar?
- Geralmente eu era acobertada por Pereira ou o Duque, mas estão longe e não sei, com tanta perseguição contra mim por aí.
- Vamos dar um jeito e como sabe ler pode ler minhas cartas para Jurema?
- Claro que leio e ela é minha aluna nesses dias lhe manda cartas também.
- Agora eu vejo o que o meu cunhado viu em você além da beleza.
- O senhor é muito bom para estar casado com ela. - Rogéria diz e se arrepende por ter falado. - Obrigada pela ajuda.
- Vou pensar como fazer com suas fugidas. - ele diz dando as costas e Rogéria fica ali parada olhando para o homem que Deus colocou no seu caminho.
- Oi. - Pedro diz se aproximando.
- Oi moleque! - ela diz o puxando para um abraço. - Obrigada viu por ter me livrado de Abílio.
- Não há de que, também estou farto do coronel ficar suspirando perto do lago, Rosa fica se oferecendo e ele nem a toca.
- Você é muito sábio, vai ser um ótimo guia pro seu povo.
- Vai trabalhar aí?
- Sim, até o dia que Deus permitir.
- Ela vai lhe deixar em paz um dia, não ligue para o veneno dela não. - ele diz me abraçando e volto a chorar.
- Minha mãe está livre, um dia estarei também. - digo abraçada a ele.
- Tobias me incubiu de ficar indo com você para dar aulas.
- Viu Tobias?
- Ele esteve aqui, estava preocupado com você e agora o quilombo tem um rei e uma rainha e ele está mais livre.
- Como assim?
- O Pereira e uma escrava, estão liderando o quilombo.
- Minha mãe Pedrinho. A mulher que fugiu com Pereira é minha mãe.
- Mas ela vai casar com Pereira?
- Não sei amigo, só sei que devo a vida dela a ele.
Os dois entram de mãos dadas onde Rogéria passará mais tempo agora e as negras que trabalham ali lhe acolhem com amabilidade. Rogéria apesar de tudo está feliz, tudo que sua mãe passou não foi fácil e agora estava livre. Amanhã daria um jeito de ir até o quilombo, falar com Jurema e ver sua mãe. No final das contas Deus tem sempre o melhor para nós ela pensou.
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Uma Escrava, uma missão
SpiritualKara é uma jovem filha de fazendeiros, se vê sendo vendida como escrava em véspera de completar quinze anos, mas ela não desfalece, o amor e paz que traz dentro de si lhe dão forças para continuar a viver e prosseguir na missão que Deus colocou em s...