No Quilombo a mãe de Rogéria finalmente estava conseguindo ficar em pé, se sentia mais forte e não estava mais sentindo tanta dor. Pediu a Pereira para ir buscar a filha, ela seria a prova viva de que a menina não é escrava, já que toda documentação delas foi queimada na fazenda Primavera. Eles estavam vivendo juntos na mesma cabana, Susan Castelli não o amava, mas como estava viúva e o capitão arriscou a própria vida para a salvar ela aceitou morar com ele. O capitão estava enamorado dela, mas iria respeitar o seu tempo para se aproximar mais intimamente, embora toda a comunidade já comentasse que os dois estão morando juntos.
- Eu vou fazer melhor do que tirar ela de lá. - Pereira diz segurando sua mão que repousava no colo. - Vamos para o baile de máscara em homenagem a princesa, tiramos a menina das garras daquele povo e ajudamos Lucas e Tobias com a segurança da princesa.
- Ela corre perigo?
- Sim estão pensando em matá-la.
- Quem está pensando nisso? - ela fala se levantando e fazendo com que ele solte sua mão.
- Os que são contra aos abolicionistas. Tememos que a guarda da princesa esteja corrompida e por isso vamos proteger ela nós mesmos. Vou para a fazenda combinar tudo com eles, pretendo resolver tudo até amanhã e você e sua filha poder se ver novamente.
- Obrigada Pereira, não sei como lhe agradecer. - ela diz se aproximando dele e beijando de leve seu rosto.
Ele pensa em pedir amor mas havia prometido que não iria cobrar nada dela, fechou os olhos e agradeceu mentalmente o gesto de carinho. Ele havia se apaixonado só por uma pessoa na vida e essa havia morrido, era a filha de Dona Maria, prometeu proteger a velha e vai aproveitar para soltar ela também. - Eu vou indo para a fazenda, aproveitar que é noite e minha visita pode passar desapercebido. - ela assente e lhe entrega uma bolsa com lanche para o percurso. - Não precisa Susan.
- Deixe eu cuidar de você, retribuir tudo que faz por mim. - ela diz passando a mão por seu braço em um gesto carinhoso. - ele olha para sua mão, segura e dando um beijo nos nós dos seus dedos diz: - Eu lhe gosto muito. - ela sorri e ele parte com destino a fazenda Riachuelo. O quilombo fica a mais ou menos uma hora da fazenda Riachuelo e logo ele chegará.
Na fazenda...
Rogéria não saiu do quarto da princesa, essa mandou Sara avisar que estava com enxaqueca e que faria as refeições no quarto não querendo ser incomodada. Quando perguntaram pela escrava a informação dos guardas que ficavam na porta da princesa, disseram que estava servindo a princesa. Mas na verdade ela ainda estava se recuperando, as feridas estavam bem melhor, devido os cuidados de Sara nela o convívio das duas havia melhorado muito e Sara lhe contou que não aguentava mais ouvir o tanto que ela era legal e inteligente da boca do duque, as três começaram a rir e o clima era de harmonia pelo menos no quarto da princesa.
Em alguma parte da fazenda Tobias se via agoniado por não saber notícias de Rogéria e decidiu tirar satisfação com o duque pelo sofrimento da jovem.
- Preciso falar com o senhor. - ele diz passando pelo duque no caminho que leva as cocheiras. O duque aponta para um local e ambos entram com cara de poucos amigos.
- O que deseja rapaz? - ele pergunta com cara feia, não gosta de Tobias, imaginar que ele pensou em ser algo a mais que amigo com sua amada lhe dava náuseas e o jeito que Rogéria o tratava quando se viam era muito meloso. Ela nunca o havia tratado assim, ele pensava.
- Quero saber como e onde ela está. - o rapaz foi direto ao ponto, ele culpava o duque por todo o sofrimento da jovem, ele poderia ter tentado fazer algo para evitar mais não fez.
- Só precisa saber que ela está bem. - ele diz e vai saindo do local quando Tobias pega em seu braço. O duque olha para o braço e para o rapaz e diz: - Saia do caminho dela rapaz, ela vai ser minha esposa e não o quero perto dela.
Os dois começam a discutir sobre ela e acabam saindo na tapa, a felicidade que o capitão do mato chega e os aparta tirando Lucas de cima de Tobias.
- Estão loucos? - ele pergunta segurando ainda o duque. Os dois se olham e Tobias abaixa a guarda e o duque também.
- Pode me soltar capitão eu não vou tentar nada. - ele diz olhando para Tobias.
- Nós passamos do limite. - Tobias diz.
- Por qual motivo brigavam? - o capitão pergunta.
Os dois se olham e o duque fala: - Eu me excedi no ciúme que sinto do jeito que Rogéria trata ele. Peço perdão. - o capitão balança a cabeça confirmando e emenda: - A menina só tem olhos para o duque, Tobias é como um irmão que a salvou de uma tempestade. Normal ela ter carinho por ele, mas não se compara com o jeito que ela olha para você.
- No começo até pensei que gostava dela para coisas de homem, mas vendo depois o jeito dela comigo nunca a desejei realmente como mulher, sinto carinho por ela como de uma irmã. Aliás nunca gostei de uma mulher para dizer que quero me acostar a ela. - ele diz mentindo para aliviar o clima, sabe que a amiga ama o duque e que será feliz ao lado dele, sabe que ela nunca o olharia para namorar, então é melhor não piorar.
- Podemos falar sobre o que me trouxe aqui então? - o capitão diz olhando para os dois.
- Podemos sim capitão. - o duque diz e Tobias afirma com a cabeça.
Então o capitão começa a traçar com eles os planos para a festa do dia seguinte e como vão agir, tudo que eles tem que proteger e se surpreende com a revelação de Lucas: - A princesa Isabel já conseguiu todas as assinaturas da abolição dos escravos, amanhã no baile ela irá proclamar a toda a corte brasileira e em Portugal estarão em festa também pelo mesmo assunto. Rogéria a ajudou escrever todas as cartas que faltavam e já chegaram nos seus destinos, fazendo com que os mais nobres venham a esse baile já sabendo o motivo. A polícia também virá pois na ocasião entregarei meu cunhado e minha irmã as autoridades pelas atrocidades cometidas contra o próximo aqui na fazenda e ainda terá uma surpresa que não sei qual é.
Quando Lucas terminou de falar os outros dois estavam boquiabertos. Não sabiam o que dizer, era o sonho de todos eles que esse dia chegasse. Tobias abraçou o capitão e este falou: - Muita alegria no dia de hoje estou sentindo, então vamos trazer todos os guerreiros do quilombo para proteger a princesa amanhã, poderá ter alguma revolução e não queremos a vida dela em risco.
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Uma Escrava, uma missão
EspiritualKara é uma jovem filha de fazendeiros, se vê sendo vendida como escrava em véspera de completar quinze anos, mas ela não desfalece, o amor e paz que traz dentro de si lhe dão forças para continuar a viver e prosseguir na missão que Deus colocou em s...