Diário do Fred - O serial killer

XIV

Era quase noite e já passara do horário de fechar as portas da igreja. Apesar do dia ter sido desgastante, a sensação de dever cumprido era revigorante. Em tempos difíceis, era esse sentimento que afastava toda descrença, que fazia valer sua escolha de se tornar padre.
Antes de ir para casa o emissário de Deus naquela pacata cidade se pôs de joelho e rezou. Mais agradeceu do que pediu. E já no final da oração ele sentiu uma brisa gelada invadir a igreja e apagar algumas velas. As luzes piscaram e o padre teve um mau pressentimento. Assim que terminou a oração ele se dirigiu a sala da sacristia para se trocar. Ele ainda abotoava sua camisa quando o som duma porta fechando com força lhe assustou.
-Já estou indo, só um momento - disse o padre, na intenção de acalmar algum fiel apressado.
Assim que o padre deixou a sala da sacristia ele deu de cara com uma igreja na penumbra, onde somente a luz natural do fim do dia iluminava o local. Uma das portas estava fechada e logo ele deduziu que não era nenhum fiel atrasado, foi somente o vento. Seu dia finalmente chegava ao fim e, ao fechar as portas da igreja, através do reflexo de um dos vitrais da igreja ele viu alguém de vestes negras, olhando fixamente para ele. O padre se vira e não vê ninguém. Devia ser uma ilusão de ótica, reflexo dum dia cansativo. E assim que ele tranca as portas da igreja...
-Padre... - ele ouve uma voz sussurrada, vindo de dentro da igreja.
Rapidamente ele abre as portas da igreja e corre para dentro. Não há ninguém. Mas estranhamente aquele vitral em que ele jurava ter visto alguém havia trincado. A brisa gelada novamente invade a igreja e causa calafrios no padre. Ele faz o sinal da cruz, caminha lentamente para a saída, dá uma última olhada no vitral e fecha as portas. Na rua já é noite, a temperatura é agradável e estranhamente não há vento. O Padre após um dia cansativo não reparou em nada, só desejava chegar em casa e tomar seu cálice de vinho.