XXI

23 3 1
                                    

Se houvesse sinalização eletrônica, Lázaro certamente seria multado por dirigir em alta velocidade. Mais detetive que jornalista no momento, ele ignorou a sinalização de "cuidado escola" e tantas outras e cruzou a cidade em questão de minutos.
Lázaro sabia que tinha de estar na casa do padre antes da polícia, ou não haveria teoria alguma. Ele respirou aliviado quando reparou que não havia viatura nenhuma no local, somente a freira Dalila sentada na calçada.
-E então freira?
-Você tem menos de uma hora. O delegado está em Porto Alegre - disse a freira, com a voz embargada.
-Ok! E obrigado pela confiança.
-Tem coisa estranho aí, Lázaro. Isso não é de Deus. Tome cuidado... - falou Dalila, fazendo o sinal da cruz e deixando o local.
Para não afetar seu julgamento e observação, Lázaro preferiu não saber de nada. Sendo assim, ele entrou às cegas na casa do padre. Estranhamente reparou que não havia energia elétrica e o ar parecia mais gélido que o habitual.
Com a lanterna em mãos ele revirou a casa, feito um cão farejador e notou que não havia sinais de luta ou arrombamento. Até chegar na cozinha e encontrar o corpo do padre. O sangue já seco no chão, os olhos abertos e sem brilho e o tom de pele pálido paralisaram o investigador-jornalista. Na semana passada ele havia se confessado com o padre e agora investiga sua morte.
"A vida é realmente um sopro e se nem o responsável de espalhar a palavra de Deus na terra está livre da morte, imagine nós" - pensou Lázaro.
Após alguns instantes de paralisia devido ao choque, Lázaro saca sua câmera e começa a tirar fotos da cena. O flash ilumina a cozinha e causa uma estranha sensação de estar sendo observado em Lázaro. Ele se vira e não há ninguém, somente ele e o corpo do padre.
O alarme do celular desperta e indica que está na hora de ir, a polícia já deve estar chegando. Rapidamente Lázaro apaga suas digitais da maçaneta e dá uma última olhada no padre e assim que ele fecha a porta.
-Me ajude! - disse uma voz, quase inaudível, vindo de dentro da casa.
Lázaro estremeceu e lentamente abriu a porta, seu corpo arrepiou por inteiro e, parado na porta ele iluminou a casa com a lanterna. Não havia ninguém e ele deveria estar escutando coisas.
Se Lázaro fosse mais cuidadoso ele teria reparado na foto que estava caída no chão, em meio aos cacos de vidro, aquela com a primeira missa do padre João Francisco e que agora inexplicavelmente tinha o rosto do padre borrado.

Diário do Fred - O serial killer Onde histórias criam vida. Descubra agora