XXIII

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Após receber a curiosa ligação da freira Dalila, o delegado colocou fim a visita da equipe ao sanatório. Era preciso voltar a rotina policial, independente dos acontecimentos.
A viatura contava com quatro membros da polícia civil. Entre eles um católico, outro espírita, ainda um umbandista e o delegado, que é ateu.
-Sei não, doutor. O que aconteceu com o Tiago me cheira mal. Tem mão do tinhoso aí... - falou o experiente inspetor e tamboreiro na umbanda.
-Não começa, Sivaldo. A gente mal conhecia o cara, vai que ele tinha algum problema - retrucou o delegado.
-Com todo o respeito, doutor e sei que ainda é cedo, mas o que aconteceu com ele não tem explicação.
-Estamos deixando alguma coisa passar, precisamos nos ater aos detalhes e mergulhar no caso - decretou o delegado.
A viagem seguia seu rumo sem mais percalços, a estrada vazia indicava que logo estariam na casa do padre.
Até chegarem no trevo da cidade de Barra do Ribeiro e se depararem com algo no mínimo estranho, pra não dizer sinistro.
Haviam pendurado somente a cabeça dum boi na placa de boas vindas da cidade. De longe era possível perceber a brutalidade do corte para desmembrar a cabeça do restante do corpo do animal.
O delegado parou o carro no acostamento e todos desceram. O inspetor comentou algo envolvendo crimes de abigeato, mas aquilo não era somente roubo de gado. Rapidamente a equipe analisou o local e, para azar de todos, não encontraram nada. O local estava "limpo".
Mateus, escrivão há mais de dez anos e católico fervoroso, foi escolhido para retirar a cabeça do local e atirar no matagal ali perto. Ele cortou a corda que mantinha a cabeça do animal suspensa e com luvas, a pegou pelos chifres. Um arrepio lhe percorreu o corpo. Após uma pequena caminhada ele arremessou a cabeça do boi no matagal. O vento assoviou forte e Mateus quase pode jurar que ouviu alguns sussurros. Ele ficou algum tempo observando o matagal quando...
-Que foi, vai levar pra casa? - gritou Sivaldo, tirando Mateus dum breve mergulho pra lá de sinistro.
A equipe embarcou no carro e o delegado acelerou rumo a cidade. Um pressentimento negativo tomava conta da equipe, ainda que nenhum deles houvesse compartilhado uma palavra sequer.

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