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Ficar sozinha em casa era mesmo tediante. Deby as vezes ficava louca com aquela rotina, por isso ia para a internet jogar conversa fora. Ou aquilo era só um pretexto? Era dona de uma comunidade de uma dessas redes sociais, o Lobas Ferozes onde mulheres maduras sedentas por sexo se reuniam para conversar e, quando não, arranjar um namorado virtual. E Deby tinha mesmo vários namorados virtuais. Eram homens casados, garotos na puberdade, viúvos, lésbicas, enfim... Muitos também se sentiam solitários assim como Deby e entravam nos chats onde passavam o dia inteiro jogando conversa fora.

— Você teria coragem de trair o seu marido, de verdade? — perguntou Du, o preferido de Deby, do outro lado da tela, depois do sexo virtual que acabavam de fazer, o garoto limpava o pau com papel higiênico, satisfeito da transa.

Deby ficou pensativa, mexendo no mouse. Aquela mesma pergunta de sempre, que lhe deixava irritada. "Até voce, Du", até você, Du. Que droga! A mulher fazia sexo virtual porque gostava, era como uma terapia. Novos amigos, pênis de derivados tamanhos, conversas picantes, amigos de verdade que sempre estavam presentes quando precisava de um ombro amigo. O mundo virtual era um mundo novo para ela, totalmente diferente do que vivia ali, naquela casa, gomando a roupa do marido e lavando as calcinhas da filha.

— Não. — ela respondeu depois de um longo silêncio. — eu não o trairia. Na verdade eu o amo. 

— Você ama o seu marido?

— Sim.

— E por que se exibe na web cam pra mim? Meio que contraditório não é ...?

Deby não acreditou. Até você, meu preferido, com esses questionamentos toscos. Puta que pariu, os homens as  vezes são irritantes, conseguem cortar o clima apenas com palavras desconexas. Infantis demais.

— Não. Não é contraditório, Du. Por que está me perguntando isto? Você nunca me fez esses tipos de perguntas. Não somos felizes como estamos? Fazemos amor, trocamos palavras de carinho, afeto, tesão. Damos bons conselhos uns aos outros. Porra! Eu sinto prazer pra caralho. Faço isso porque gosto. Mas também estou aqui mais pela a amizade sua.

— Dizem que sexo virtual é uma forma de se fazer sexo também. A partir do momento que os dois sentem prazer mutuamente, eles estão transando. Então, obviamente, estão traindo o matrimonio.

— Aff, Du. Você está igual o Vítor. Igualzinho.

— Vitor? Mas que Vítor.

Puta merda! Para Deby, Du era seu único namorado virtual, ela sempre deixou claro aquilo. Sabia que Du também tinha outras, era um putão da net. Fazia sexo com as suas amigas também. Porém tudo em segredo. Ninguém revelava o segredo de ninguém. Segredo que todo mundo sabia.

— Ah, não é ninguém. Apenas um cara que me enche o saco.

— Apenas um cara que lhe enche o saco?

— Sim.

— Mas como assim? Enche o saco de quê?

— Conversar, me conhecer melhor, essas coisas. Você sabe.

— Não, eu não sei não.

— Sabe sim, Du. Para de bancar o puritano que disso você não tem nada.

— Por que está dizendo isso, Debysex?

— Eu sei que você tem outras.

— Eu tenho outras? Sempre fui fiel a você.

— Há, há, há.

— Por que está rindo feito doida?

— Ah, Du. Você me mete chifre, pensa que eu sou boba, é?!

— Quem te falou isso?

— Ah, Para, Du! Você é um dos mais galinhas que já conheci. Você já é mais que manjado das minhas amigas. Fodedor virtual de primeira. Engana fácil as garotas por ser bonito e atlético.

— Isso é calúnia! Quem te falou isso. Me diz nomes.

— Eu não vou dar nomes. Não sou maluca. Tenho fotos sua que elas me enviaram, Du. Tenho várias fotos sua quer saber. Falamos muito de você no nosso grupo particular no face. Tem menina que é morta de apaixonada por você lá, eu também já fui boba, louca por você. Mas abri os olhos.

Deby deu uma rápida vasculhada na sua galeria de fotos e enviou mais de dez fotos de Du se exibindo para outras mulheres, amigas de Deby.

— Está aí a prova, Du. Você é um galinha. Mais rodado que não sei o que.

— Ora, mas ...

— Nada de ora mais, Du. Você não me deve nenhuma desculpa. Você tem a sua vida e eu tenho a minha. Cada um faz dela o que quiser. Eu tenho mais de quinze namorados virtuais aqui, mas eu nunca trairia mesmo meu esposo.

— Eu não sei.

— Escuta aqui, eu amo o meu esposo e o respeito pelo homem que é. É ele quem coloca comida na minha mesa e me veste. Nunca me deixou triste por banalidades e é sempre um cara atencioso comigo. 

Para evitar mais perguntas idiotas, Deby bloqueou o cara. Não precisava de respostas para o que fazia. Sabia que aquilo era errado. Não precisava que ninguém viesse lhe esfregar aquilo na cara.    

Mas acontece que assim que desligou a cam, Deby chorou. Adorava Du. Mas acontece que aquilo não estava mais lhe dando o prazer como no começo. Era gostoso, ah se era. Ela bem sabia. Adorava se maquiar, era das poucas vezes que usava seu estojo de maquiagem, já que andava saindo tão pouco devido a condição do esposo. Se exibir na cam era o seu maior entretenimento. Receber elogios dos garotos não tinha explicação. Adorava, se sentia mais mulher, mais jovem, se sentia amada por eles que também eram quase sempre carinhosos, fazendo amor gostoso, não desligavam a cam quando gozavam, muito pelo contrário, eram atenciosos, falavam sobre os seus dia a dia.

Mas agora era diferente. As pessoas mudam com o passar do tempo. Começavam a querer saber demais, se envolver demais e Deby não queria aquilo, para ela o que valia era o prazer de uma boa conversa e aquela foda gostosa enfiando o vibrador na xota.

"Por hoje é só", pensou Deby quando encerrou a ligação com Du. "Chega de idiotas. Chega de tudo isso. Não posso mais continuar com essa vida, com esse teatro todo".

Dizendo isso, Deby foi em configurações e clicou em excluir conta. Parou por um segundo. Será que era aquilo que queria mesmo? Dar um fim naquela vida de loba, do mundo do sexo virtual. Sim, estava obstinada a fazer aquilo mesmo. Não podia mais sacanear com Frankie. Então Deby  clicou em excluir.

Você tem certeza que deseja excluir sua conta?

Não contou conversa e excluiu a conta que tinha mais de quatro mil amigos. Não sentiu nem um pingo de remorso mas fez uma ligação para uma de suas amigas administradores do grupo que era dona e lhe passou a comunidade alegando que iria dar um tempo e quem sabe voltaria daqui algum tempo. Para Deby, não teria mais volta. A sua carreira como Loba havia se encerrado. Então pegou sua vassoura e começou a varrer a varanda da casa. O outono parecia já estar chegando. As folhas mortas caíam tristes no chão. 

Dormindo com o Sobrinho Onde histórias criam vida. Descubra agora