E tudo aconteceu como o casal planejou. Frankie chegara no mesmo horário de sempre, esgotado, ofegante. Literalmente acabado. Escusado narrar como foi o dia no trabalho. Sua cara já dizia tudo. Depois que tomou o banho, se enxugou e vestiu a cueca samba-canção, que era praticamente o seu pijama. Foi até à sala assistir o noticiário do dia e depois se dirigiu à sala de jantar onde tomou sopa de letrinhas feito carinhosamente por sua esposa Deby. De fato a mulher caprichou no prato, afinal era a última refeição que preparava ao querido esposo.
— Estava delicioso, amor. — agradeceu Frankie mordendo a orelha da esposa. Quando Frankie fazia aquilo, na verdade era um convite para os dois transarem. Deby já conhecia, por isso disse que ia tomar um banho gostoso e hidratar a pele.
— Assim que sair do banho preparo o seu café, e vamos pra cama, está bem?
— Está bem, meu amor. Enquanto isso vou assistir um pouco de TV.
Deby foi eufórica para o banho. Se tremia como se estivesse tendo um orgasmo, com Narcisio metendo no cuzinho dela, a rola bem lubrificada com sabonete. Era a hora de preparar a surpresinha para Frankie.
Saiu do banho já vestida e foi direto para à cozinha. Colocou a água para esquentar e tamborilava os dedos no fogão para que o líquido fervesse logo. Assim que a água esquentou, adicionou o veneno de rato e as duas colheres de café. Mexeu até borbulhar e pronto. O café estava pronto. Serviu na xícara levando até o esposo porém este cochilava como um anjinho.
— Aff! Mais essa agora! — exclamou Deby.
Narcisio acompanhava tudo pelas frestas do piso.
— Amor. Amor. Está dormindo? Aqui está o seu café.
— Ah...oi amor. Desculpe. Estava muito cansado. Aliás, ainda estou. Obrigado. Hum, está cheiroso como sempre.
— Caprichei. Quero você bem acordado esta noite pra me levar nas alturas.
— Eu também estou com muita vontade. Você fez biscoitos? Essa sonequinha me deu uma fome.
— Mas você acabou de jantar, amor.
— Eu sei, eu sei. Mas é que não me encheu. Acho porque não almocei hoje. Fiz só uma merendinha.
— Cuidado com essas merendas. Fazem mal, amor. Eu não quero que tenha uma úlcera.
— Obrigado, amor. Prometo almoçar bem e na hora exata.
— Vou pegar os biscoitos.
Deby não podia deixar de fazer as últimas vontades do marido, por isso foi pegar os biscoitos, mas quando voltou, viu Frankie se contorcendo, cuspindo espuma pela boca.
— Frankie, Frankie... Você está bem?
Do canto escuro do corredor, saiu Narcisio acudindo a futura mulher.
— Deixe -o. — disse o garoto.
— Ele está morrendo?
— Acho que sim. Nossa, amor! Mas como é feio ver alguém morrendo.
Frankie se debatia pelas cômodas, derrubando tudo à sua frente.
— Parta, Frankie! Sinto muito. Mas parta!
— Por que, Deby??? Por que fez isso comigo...? — ele chegou a dizer.
— Você não é bem vindo na nossa casa. Agora parta. Não resista, Frankie. Vai doer mais.
E Frankie partiu, em meia a surpresa de ver sua esposa que tanto amava o matando para ficar com o amante novinho.
— Feito. — disse Narcisio.
O casal estava aliviado.
— E agora, meu Deus. E agora???
— Ei, ei. Calma, meu bem. Já está tudo programado, você esqueceu?
— Não. Eu sei. Mas é diferente.
— Não vai me dizer que se arrependeu?
— Não, bebê. Claro que não. Mas peraí, deixe eu me restabelecer. Ele foi meu companheiro por quase vinte e cinco anos. Caralho! Foi realmente muito feio.
— Eu entendo, amor, e respeito muito este momento. Mas não podemos continuar com o corpo dele aqui na sala; alguém, sabe-se lá quem, pode bater na porta, pode ser até mesmo a Fernanda. Daí como vamos sair desta? Temos que agir logo.
— Você tem razão. — disse Deby beijando a face do esposo assim como Judas. — Vamos agir logo levando o corpo até à garagem.
Deby pegou os braços e Narcisio as pernas do presunto levando até à garagem onde depositaram no porta-malas do Fiat Palio 2017. Deby ficou bastante emocionada, porém muito aliviada por tudo ter ocorrido bem. Agora era só esperar Narcisio chegar e dizer: pronto! Está feito, amor. Ele está enterrado a sete palmos no lugar combinado.
Narcisio se responsabiliza de levar o defunto e o enterrar na estrada que ligava ao interior que morava. Sabia que aquelas terras eram terras inóspitas, sem chances de alguém aparecer ali e bancar o arqueólogo.
Deby se apressou em limpar a cena do crime deixando tudo como estava e foi para à sala assistir algo e esperar o amado chegar.
Já dera meia-noite e nada do novinho retornar.
— Meu Deus! E se a polícia o parou pedindo sua carteira e vasculhando o porta-malas do carro? Ai, não quero nem pensar nesta hipótese. Mas ele está demorando demais.
Narcisio havia pedido para que Deby não ligasse, que esperasse ele ligar, porém Deby não se conteve e ligou, mas aconteceu que não obteve respostas então começou a ficar demasiadamente preocupada.
— A polícia o pegou, tenho certeza. Agora eles irão bater na minha porta. Narcisio terá que dizer a verdade então seremos dois presos. Olha a minha para tudo isso. O que irei dizer à minha filha, à minha família e a de Frankie...? Se arrependimento matasse eu já estava morta. Mas ainda posso fazer isto. Não conseguiria sobreviver a estas coisas. Seria muita pressão. A corda... sim, a corda. Eu sei fazer o laço. Terei que fazer isto, sei que é indolor, só preciso fazer do jeito certo.
Deby preparou o nó de forca e subiu na mesa, pronta para se suicidar.
— É o certo a se fazer. Eu sou uma assassina. Não devia ter matado meu marido, mereço à morte. Narcisio saberá se sair desta. Ele não teve culpa alguma nesta trama. A única culpada de tudo isto sou eu.
E, antes de saltar para a morte, ouviu o som do carro e a confortável voz de Narcisio dizendo: amor, está feito!
Tirou a corda do pescoço, em prantos, e correu para os braços do amado.
— Amor, amor. Ai, eu tava tão preocupada. Achei que alguma coisa tivesse dado errado. Você demorou tanto. Meu Deus, estou tão nervosa que mal consigo falar direito.
— Calma, vida. Ocorreu tudo bem.
— Eu achei, sei lá, que a polícia tivesse abordado você e descoberto o corpo de Frankie no porta-malas. Fiquei este tempo pensando nisso. Pensei em ligar pra você, mas lembrava que não devia. Por que não me ligou, amor?
— Desculpa, amor. Se você está deste jeito, tão eufórica, imagina eu. Cada peso de terra que eu tirava com a pá, achava que tinha alguém me bisbilhotando. Fiquei em pânico, você não sabe o quanto. E na hora de jogar o corpo do tio Frankie então... Não quero nem me lembrar. Me senti uma pessoa má, um inimigo de Deus, sei lá.
— Ai, amor, me perdoa por ter pensado só em mim. Mas vamos ser positivos. Tudo já passou. Frankie sumiu, está fora do nosso caminho, agora será apenas nós dois e mais ninguém.
O casal se abraçou comemorando o desfecho. Estavam tão pensativos com o que fizeram que nem transaram naquela noite.
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Dormindo com o Sobrinho
Mystery / ThrillerDeby é uma mulher madura, de quarenta e quatro anos. Dona de casa, um tanto que solitária. Para tirar o vazio da alma, Deby usa a internet para não se sentir só. É conhecida nas redes sociais como Loba, voraz por sexo virtual. Mas acontece que a vid...