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À noite, Frankie chegava esgotado do trabalho. Era mais um dia deplorável, o movimento fraco, fregueses entrando em seu estabelecimento apenas para pesquisar preço e trazer terra. Aquilo era o inferno. Já não sabia mais o que fazer.    

Nunca tinha passado por uma situação tão drástica assim em sua vida. Não estudei pra isso, ele dizia, a cabeça quente chiando como uma frigideira no fogo.

Naquela mesma noite, Deby tinha preparado um espaguete e frango ao forno com ovos cozidos e azeitonas como seu esposo gostava. Narcisio acordou umas oito da noite com a cara inchada de sono e os cabelos sobre a face. Como esse menino dorme, pensou Deby. Narcisio foi até a sala e ligou a tv sem pedir permissão dos donos; Deby viu o rapaz ali, esparramado no sofá como se estivesse em sua própria casa. Bom, a própria mulher disse para ele ficar a vontade e não se acanhar por nada, porém não sabia que o garoto era tão folgado assim. 

— Narcisio, o jantar está na mesa. – disse Deby, cortesmente. 

— Já?! — disse o rapaz, bocejando.

Até então Frankie ainda não tinha visto o visitante. Estava tão atordoado que nem se dera por conta, só percebeu quando o garoto se encontrava sentado no seu lugar de sempre na cadeira da mesa de jantar. Deby não teve coragem de pedir para que o menino sentasse noutro lugar. Não queria ser tão mesquinha. Lembrou-se quando estudava e cada aluno tinha a sua cadeira. Ai daquele que se sentasse na cadeira do coleguinha. Era briga na certa. 

— Boa noite. — disse Frankie na sala de jantar. Narcisio, como um bom garoto, veio a cumprimentá-lo.

— Boa noite, senhor Frankie. Tudo bem com o senhor?

Frankie sorriu. Era sempre simpático com pessoas bem educadas. Lhe era até estranho, em certo ponto. Quase sempre se topava com pessoas carrancudas no seu trabalho que não desejavam um bom dia sequer.

— Tudo bem, sim. Você é o Narcisio, não é isso?

— Isso. Passarei alguns dias aqui para fazer uma prova. Agradeço muito a estadia de vocês, visto que não conheço quase nada da cidade.

— Sim. Rápido você vai se adaptar. Mas então, — disse o patriarca só agora percebendo que o garoto sentara em seu lugar. — que prova é esta que você irá fazer?

— É de um concurso público. 

— E este concurso será para quê? — perguntou Frankie.

— É da marinha. 

— Olha só, que bom. — disse Frankie. — Boa sorte então. — continuou Frankie se servindo do espaguete. — Este era o meu sonho, entrar para marinha. Infelizmente não tive sorte. Hoje já estaria quase aposentado.

— Obrigado, senhor.

Naquele instante Fernanda entrava na sala com seu fone de ouvido e com a cara toda pintada.

— Aceito um boa noite da sua parte, Fernanda. — sugeriu Frankie.

— Como?! 

— Tire o fone de ouvido na mesa, quantas vezes tenho que te falar isso!

— Beleza. — redarguiu a garota.

— E por que está toda pintada assim? Por acaso vai sair?

— Vai rolar uma festa na casa da minha amiga. A Bárbara, que passou em direito. 

— Sim, a Bárbara. Faz tempo que não a vejo. Mande meus parabéns a ela, filha. — disse Deby.

— Beleza.

— Ano que vem sou eu. — disse Narcisio tirando uma coxa de frango. — Quero muito fazer engenharia. 

— Você tem ótimas Intenções, garoto. Mas sugiro estudar bastante porque a concorrência está em alta, principalmente aqui na capital. — comentou Frankie.

— Estou ciente. Por isso estou me dedicando bastante.  — redarguiu o garoto tirando mais duas coxas de frango. Quando Frankie resolveu tirar sua parte, só encontrou asas e pescoço na bandeja. Narcisio tinha comido tudo. Para não fazer caso, Frankie comeu apenas seu espaguete. Odiava asa de frango, principalmente de frango magro.

— Ei, Fernanda, que tal levar o Narcisio com você para a festa? — sugeriu Deby.

— Eu ia adorar. — se apressou Narcisio.

Fernanda quase se entala com um osso de galinha. 

— A festa é meio que restrita, mãe. Acho que não rola.

— Como assim restrita, menina?! Seu primo não é nenhum estranho, não. Não tem nada a ver levá-lo.

— Pode ter sim a ver, mãe. Eu não sou a dona da festa e a dona, no caso a Bárbara, como é meio chatinha, pode frescar pra porra.

— Olha o palavrão , garota. — reparou Frankie. Odiava o palavreado chulo da filha.

— Qual o número da Bárbara? Deixa eu ligar pra ela.

— Ai, mãe. Ela pode até dizer sim por educação mas iria achar chato pra caralho, digo, caramba. 

— Duvido se ia. A Bárbara me ama, adorava meus bolinhos de batata doce. Me dê o número, deixa eu ligar pra ela agora e perguntar.

Narcisio achou excitante o modo como Deby se envolveu  comprando até mesmo briga com a filha.

Fernanda passou puta da vida o número para a mãe que discava com a mão esquerda na cintura.

— Alo, Bárbara? É a Deby, mãe da Fernanda. Como você está? Então, primeiramente quero lhe parabenizar pelo vestibular. Você merece. Uma menina super estudiosa e uma ótima companhia pra minha filha. Continue assim que voce vai muito longe. Sim, sim, você merece tudo de bom. Mas então, Você vai fazer uma festinha hoje na sua casa não é? Mais que merecido, tenho certeza que será um festão. Então, deixa eu te falar, um sobrinho meu, que veio do interior, está muito interessado em ir. Teria algum problema? Não?! Ah, que bom. É que a Fernanda disse que a festa seria restrita por isso liguei a você para não ter problema. Então ele já vai se aprontar também, tá. Ele irá com a Fernanda e o namorado. Beijos e mais uma vez parabéns. Prontinho. — disse Deby desligando o telefone. — Você pode se aprontar para ir, Narcisio.

— Obrigado, tia. — mastigou sorrindo o garoto olhando para cara de Fernanda que revirava os olhos de raiva. Frankie e a menina olhavam a mulher que parecia feliz por ter vencido uma com a filha.

Dormindo com o Sobrinho Onde histórias criam vida. Descubra agora