Candinha

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   Noite difícil. Dormi, porém não consegui descansar. Levantei da cama e fui andando pelo corredor. Levantei um pouco a cortina da cozinha e constatei que o dia havia amanhecido nublado. Resolvi fazer um café novo. Enquanto esperava a água ferver, me sentei no sofá, e comecei a lembrar do dia em que Raquel apareceu. Já havia se passado quatro meses desde aquele dia, e não sabíamos basicamente nada sobre a garota. Somente aquelas poucas palavras que ela havia deixado escapar. Ainda quero ouvir mais dela, com certeza.
    Percebi que desde a chegada dela, Gregório ficou desnorteado. Passei a vê-lo com um pouco mais de frequência em casa, saindo em minoria. Passou pela minha cabeça ele poder estar...
    - Vai deixar a água ferver até sumir é?
    - Querido, por favor! Não me assuste assim... Estou velha, lembre-se que tenho um coração meio fraco!
      Levantei cambaleando, tentando me recuperar do sobressalto e fui até o fogão. Despejei a água no café e deixei o resto ser feito pelo coador. Olhei para Gregório, apontando o sofá.
    - Senta aí filho. Quer conversar um pouco?
    - Tudo bem. Faz muito tempo mesmo...
    - O que?
    - Faz muito tempo que não converso com alguém decentemente...
    - Bom, estou aqui na sua frente. Pode falar o que quiser.
    - Quero perguntar umas coisas.
    - Pergunte. Se eu puder responder...
      Ele esfregou uma mão na outra, parecendo apreensivo. Passou uma das mãos pelo cabelo, bagunçando alguns fios.
    - Acho que essa conversa pode ficar melhor com um café, o que acha?
     Ele sorriu. Me movi rapidamente, não queria perder tempo. Peguei duas xícaras do armário, passei uma água e coloquei o café nelas.
    - Aqui está. Acho que vai ajudar, afinal o dia amanheceu meio frio.
      Estendi uma das xícaras fumegantes na direção dele, sorrindo. Ele a pegou, e já logo tomou um gole.
    - Vamos lá. Sabe que pode confiar em mim querido...
    - Claro. Afinal, estou com você desde pequeno.
       Sorri e coloquei a xícara vazia em um caixote perto de onde estava Gregório. Ele terminou o café e também deixou a xícara ao lado da minha.
    - Você aceitou ela desde o início?
    - Raquel?
    - Isso.
    - Sim, claro! Foi algo que não pude deixar do lado de fora daquela porta.
    - O que realmente aconteceu Candinha?

     **

   

 
     

Blue Hill (Morro Azul)Onde histórias criam vida. Descubra agora