Candinha

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    Gregório agradeceu a todos que se propuseram a ajudar na busca de Raquel. Depois de alguns dias, ele me disse que havia passado a guarda do morro para um de seus grandes amigos. Conhecendo Gregório como conhecia, sabia que não erraria. O abracei, e disse que a escolha havia sido bem tomada. Agora ele ficaria em casa. Era um homem bom, ajudava em que fosse preciso e amava Raquel. Eu podia ver isso em seus olhos, suas atitudes. Resolvi tirar a prova. Caminhei até a porta de seu quarto e bati.
    - Entra.
      Andei com passos firmes até ele, que se sentou na cama, dando lugar ao seu lado para que eu pudesse sentar.
    - Olá filho.
    - Oi Candinha. Aconteceu alguma coisa?
      Ele fez menção de se levantar, pensando que era algo acontecendo com Raquel, mas o segurei.
    - Se acalme querido, ela está bem. Mas preciso conversar com você sobre ela.
      Ele se ajeitou na cama, cruzou as pernas e me olhou nos olhos.
    - Pode dizer.
    - Filho, todo esse tempo que estamos com ela, cuidando, criando, querendo ou não, ela se tornou alguém de casa, nós a acolhemos.
    - Sim, é claro.
    - Então, eu sempre estive muito atenta a tudo aqui dentro, e notei todas as suas mudanças.
     Ele engoliu em seco, mas continuou com a mesma postura.
    - Percebi que esteve mais dentro de casa, andou mais preocupado. E ainda mais agora, com tudo isso que aconteceu, vi todo o seu desespero pra que ela fosse encontrada.
    - Fiz minha parte, assim como faria com qualquer outro.
    - Entendo filho, mas sinto que tem algo a mais. Posso ver em seus olhos, mesmo que tente esconder.
      Ele deixou os ombros caírem e se deitou no meu colo, me deixando perplexa, pois nunca tinha feito algo do tipo. Mesmo assim, acariciei seus cabelos.
    - Me diga filho, o que está sentindo?
    - Eu não sei Candinha. Eu nunca senti algo tão forte assim. Já tive coisas que passaram perto, mas nada assim tão intenso, tão...
    - Real?
      Ele se levantou, mantendo-se apoiado nos cotovelos.
    - Isso. Nunca pude sentir algo tão real. Mesmo já tendo passado por tanta coisa.
      Segurei seu rosto, fazendo com que olhasse para mim.
    - Filho, você gosta de Raquel?
    - Eu não gosto Candinha, eu não gosto, eu...
      Beijei sua mão e me levantei. Se ele não queria falar, eu não o forçaria a nada. Andei até a porta, mas parei.
    - Você não esperou que eu terminasse.
      Olhei na sua direção.
    - Eu não só gosto, como eu amo essa menina, eu a amo Candinha, e não sei o que fazer, eu não sei...
      Ele começou a chorar, e fui em sua direção. O abracei, e deixei que chorasse o tanto que quisesse.
    - Eu te amo querido. Vai ficar tudo bem.
      Ele apertou minha mão, e eu sabia que era uma resposta.

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Blue Hill (Morro Azul)Onde histórias criam vida. Descubra agora