Blue Hill (Morro Azul)

Raquel

    Minha cabeça doía. Meus olhos ardiam e meu corpo tremia. Percebi que minha boca estava dormente, e alguma coisa estava presa entre meus dentes. Mordi, passei a língua, tentei sentir ao máximo, até perceber que era um pano. O canto da minha boca estava ardendo e meu maxilar doía. Meus calcanhares estavam presos com uma corda, assim como meus pulsos. Eu estava deitada. O chão era frio e eu podia sentir a friagem passar pela fina camada de roupa com que eu estava. Comecei a me mexer, tentando olhar ao redor. Nada ali me era familiar. Relaxei o pescoço, deixando com que chegasse ao chão novamente e fechei os olhos. Onde é que estou? Onde vim parar e como? Estou perdida! Tudo estava escuro. Só consegui distinguir uma cadeira e uma cama naquele breu. Fechei os olhos mais uma vez, e comecei a ouvir passos que se aproximavam, e me era familiar. Meu coração acelerou e comecei a forçar um grito, mas não saía. O desespero só aumentava e comecei a chorar. Sentia as lágrimas descerem pelo canto do olho, passar pela bochecha e ir de encontro com meu cabelo. Ouvi o som de uma porta se abrir e por um segundo, minha respiração parou. Esperei os segundos seguintes.
      - O que faz perdida por aqui minha querida? Justo aqui?
        Comecei a chorar compulsivamente tentando me soltar daquelas coisas que me prendiam. Queria sair correndo dali. Senti seus dedos apertarem meus braços e me levar pra perto dele. Eu podia sentir sua respiração no meu ouvido.
      - Você continua com o mesmo cheiro...
        Meus gritos saíam abafados.
      - Não precisava ter fugido. Sei que sua mãe te levou pra longe de mim, então tive que cuidar dela. Não vai mais dar trabalho, tenho certeza...
         Chorei com mais desespero ainda.
     - Fique quieta agora tá bom? Bem quietinha.

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