Gregório

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    Meu coração estava aos pulos quando bati na porta do quarto dela. Os segundos pareciam horas, e minha respiração falhava. Bati mais uma vez, mais uma e mais uma. Resolvi falar.
    - Olha, desculpa por ter sido grosso com você quando tivemos aquela conversa, que não durou praticamente nada. Não sei se me entendeu, mas eu tenho medo. Lá fora é perigoso demais. Sei que não é fácil ficar dentro de casa, mas é pro seu próprio bem. Se não me entender agora, espero que consiga mais tarde. Só preciso falar com você e saber como está. Estamos morando na mesma casa, então seria bom se tivéssemos um bom convívio não acha?
      Os segundos de silêncio me matavam por dentro. O coração batia forte no peito, me dando a sensação de que ia sair pela boca. Apoiei a testa na porta.
    - Raquel, por favor, fala comigo. Eu preciso que fale. Veja, dessa vez estou pedindo pra entrar, já está melhor não é?
      Deixei um riso abafado sair pelo canto da boca. Comecei a achar estranho aquele silêncio todo. Fiquei andando de um lado e do outro esperando.
    - Eu não consigo esperar mais. Só quero falar com você, ver você e tentar deixar isso tudo mais tranquilo, por favor, estou me esforçando!
      Não aguentei mais e abri a porta de vagar. Procurei por ela no escuro, chamei pelo nome e nada.
    - Não por favor. Me diga que não.
      Bati a mão no interruptor e uma luz fraca surgiu, mas o bastante pra visualizar o quarto e saber que ela não estava ali.
    - Droga, droga, DROGA! Puta merda garota!
      Corri pra fora do quarto, trombando com Candinha no corredor toda esbaforida.
    - O que houve querido? Brigaram mais uma vez?!
    - Ela não está aqui Candinha, ela não está aqui!
       Vi seu semblante mudar do susto para o medo.
    - Não me diga que...
    - É o mais provável! E eu não posso ficar parado...
    - Gregório, por favor filho, não faça nenhuma besteira!
    - Escuta Candinha, eu viro esse morro de cabeça pra baixo e se precisar viro a cidade também, mas eu encontro essa menina!
      Enquanto me dirigia pra fora, pude ouvir ela murmurar alguma coisa. Com certeza uma de suas orações. E que bom.

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Blue Hill (Morro Azul)Onde histórias criam vida. Descubra agora