Blue Hill (Morro Azul)

Raquel

     Chovia muito. Sentada na minha cama, eu podia ver os relâmpagos refletirem nas gotas que escorriam no vidro da janela. Seria mais um dia? Será que ele voltaria? Meu corpo doía de cima a baixo. Minhas mãos suavam frio. Eu não conseguia desviar o olhar da janela. Sentia meu corpo todo tremer. Eu estava com medo.
    Ele sempre vinha me machucar. Me pegava com força, me batia com coisas dolorosas, dava socos, tapas, pontapés... Fazia sexo comigo sem meu consentimento, me abusava, me rasgava a alma...
    Já se fazia uma semana que ele não vinha, mas mesmo assim eu tinha medo...
    A porta do meu quarto se abriu rapidamente, e eu me encolhi contra a parede.
    - Calma meu amor, sou eu.
      Abracei minha mãe com força.
    - Eu vou te tirar dessa casa meu amor, eu vou te livrar disso! Ele não vai mais te incomodar, eu prometo...
    - Onde vamos?
    - Você vai meu amor.
    - Mas...
    - Venha comigo filha, por favor.
      Saímos na chuva, andando por subidas, gramas, calçadas, pedras e todo tipo de solo. Andamos naquela chuva forte por mais ou menos uma hora, até chegarmos a um morro, aparentemente uma favela, pois haviam várias casas próximas. Subimos uma subida, até chegarmos a uma escada.
    - Fique aqui filha.
      Eu tremia, e estava com medo. Não sabia o que estava acontecendo. Mamãe voltou, e segurou minha mão.
    - Ouça bem filha, você vai ser cuidada com muito amor e carinho, vai viver bem! Vai honrar todos esses anos de sofrimento, tanto meu, quanto seu. Promete pra mim?
      Balancei a cabeça positivamente. Ela sorriu. Pude ver, mesmo entre a chuva e seus cabelos bagunçados.
    - Eu te amo meu amor. Lembre-se que será para sempre a minha benção.
      Ela acariciou meu rosto e me abraçou forte, sussurrando que me amava, dizendo que seria melhor assim e que seria pro meu bem.
      Fui entregue a uma senhora baixinha, de cabelos grisalhos e rosto acolhedor. A abracei, e quando olhei pra trás, já não via mais minha mãe.
       
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