Gregório

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    Depois que a festa terminou e o salão foi todo limpo, todos começaram a se retirar e voltar para suas casas. Recebi muito abraços e agradecimentos por tudo o que havíamos feito. As casas já estavam sendo mobiliadas por conta de cada morador. Tudo era motivo de alegria e eu estava feliz por aquilo.
    Quando voltei pra casa, me deparei com Raquel sentada em uma das cadeiras da cozinha, segurando uma caneca com café. Quando notou minha presença, colocou as mãos na mesa e se preparou para levantar. Dei dois passo pra frente e a segurei.
      - Não se incomode. Fique a vontade.
        Ela se sentou novamente, balançando a cabeça. Não pude deixar de reparar nela. Usava uma calça de moletom preta e uma blusa cinza, pés descalços e o cabelo preso num rabo de cavalo. Peguei um copo no armário e o enchi de água. Bebi tudo em quatro goles. Me virei na direção dela.
      - Como você está?
        Ela segurou a caneca com as duas mãos e soltou um suspiro.
      - Estou bem. Feliz por tudo isso que está acontecendo. Minha mãe de volta e bem, minha melhora, todo esse projeto que você criou, as novas casas para essas pessoas. Estou alegre com tudo isso. E você?
      - Bem e satisfeito. Acho que meus pais estão orgulhosos.
      - Mesmo não os tendo conhecido, tenho certeza que sim.
        Ela sorriu e sorri de volta. Coloquei o copo na pia e andei em sua direção.
      - Aceita sair comigo?
      - Como?
      - Sair comigo, naturalmente. Amigos lembra?
      - Amigos não se beijam.
      - Discordo. Mas então, aceita sair?
      - Não sei se devo. E se Candinha precisar de ajuda em algo?
      - Sua mãe pode ajudar não pode?
      - Certamente, mas não sei se...
      - Só diga se sim ou não.
        Ela se levantou e deixou a caneca na pia.
      - Tudo bem, só me deixe pegar um sapato.
        Balancei a cabeça e a deixei passar. Corri até o quarto, peguei um papel e uma caneta, escrevi em um rabisco ao menos legível o seguinte: 

     eu e Raquel saímos, não se          
     preocupem, voltaremos e             estaremos bem. Ass: Gregório.

      Deixei o vaso de flor de peso pro papel não voar e esperei.
 
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Blue Hill (Morro Azul)Onde histórias criam vida. Descubra agora