Gregório

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    Escuro. Tudo o que consigo ver são algumas cadeiras, um armário surrado num canto e duas portas. Andei na direção de uma e girei a maçaneta, mas estava trancada. Fui até a outra e fiz o mesmo, só que essa estava aberta. Entrei com cuidado, e dei de cara com um corredor. Comecei a andar, prestando muita atenção em tudo. Observando com cuidado, notei que uma das portas estava encostada. A empurrei com cuidado e um bafo quente me atingiu. Adentrando mais o quarto, pude ouvir murmúrios. Andei tateando até encontrar o que parecia um colchão. Eu não enxergava nada. O lugar era escuro ao extremo. Tateei o colchão até sentir algo. Ao tocar mais, pude sentir que aquilo se encolheu com medo, e então eu soube que era uma pessoa. Era ela.
      - Rachel, sou eu.
        Ao reconhecer minha voz, começou a murmurar. Pude sentir seu corpo tremer. Ela estava chorando.
      - Vou te tirar daqui, fica calma.
        Minha voz saía em murmúrios. Eu estava com o coração socando meu peito. Uma vontade de chorar me atingiu violentamente. Comecei a procurar o que a segurava, e encontrei as cordas. Os nós eram firmes e difíceis de desfazer, mas como uma iluminação divina, encontrei lugares frouxos, provavelmente de tanto ela se mexer. Puxei com mais força, estava ficando desesperado por não conseguir enxergar, e acabei quebrando um dos pés da cama. Fechei os olhos com força.
      - Me desculpa.
        Tirei a corda do pé da cama e tateei pra ver onde estavam amarradas, e era em um dos pulsos dela. Aquela era a única que não havia um lugar frouxo, mas de tanto eu mexer, o nó se desfez.
      - Tudo bem, consegui desfazer os nós, agora vou te pegar.
        Passei o braço pelas costas dela e por baixo das pernas. A peguei com facilidade da cama e caminhei com cuidado até a porta. Quando saí, olhei pra baixo, e era ela mesma. Com uma mordaça de pano na boca, fechava os olhos com força, certamente por conta da luz. Estava suja e com os cabelos bagunçados. A segurei com mais força pra perto de mim.
      - Tudo bem, vamos pra casa agora.
         Comecei a andar até a saída e vi Candinha perto do carro. Sorri, mas ela não.
      - Cuidado filho!
        Me virei a tempo de enxergar um homem correndo na nossa direção.

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Blue Hill (Morro Azul)Onde histórias criam vida. Descubra agora