Alain se sentou ao meu lado na mesa do orfanato que é extremamente gigante para caber todos os órfãos.
Todos começaram a ir descendo e tomando seus lugares na mesa. Um por um descendo as escadas. Conhecia todos os rostos muito bem. Alguns eu odiava, como Adrien. Outros... o que falar?
Bem, citando Adrien, ele foi o último a chegar, junto do seu novo colega de quarto, Louis.
Ambos se sentaram juntos e o mais perto que conseguiram de mim.
Olhei para baixo da mesa. As mãos de Alain estão apoiadas nas suas pernas e às vezes elas agarravam o tecido na calça, mostrando seu nervosismo por está diante não só de uma, mais agora de todas as crianças/adolescente do orfanato.
Sinto minhas veias pulsarem pela vontade que tenho de segurar suas mãos e garantir que todos vão ser gentis. Eu preciso que eles sejam, porque no meu primeiro dia ninguém foi gentil, ninguém é ainda.
Mas tudo bem, era eu. Alain não, não Alain. Céus, não ele! Que problema tem se as pessoas fossem legais uma vez na vida?
Aí que bato a cabeça e me lembro. As pessoas são cruéis, o mundo é cruel. E, principalmente, o amor é cruel.
Olhei de volta para baixo, percebendo que minha mão estava quase lá, aonde queria estar. Estraçalhada em umas das mãos de Alain.
A afastei rapidamente, tentando me controlar. Não devo fazer isso, é errado, é como cometer suicídio.
Pelo amor de Deus, Maurice, controle-se!— Jantar servido, crianças! — exclamou Amélie Audrey, nossa cozinheira que, sinto muito dizer, não cozinha nada bem. Mas não a nada que não dê para se acostumar. O problema é que toda vez que como, sinto falta da comida da mamãe.
— Você estava certo — Alain sussurrou para mim. — A comida não é das melhores.
Acabei deixando uma risada escapar. Suas bochechas ficaram vermelhas como de costume mas ele também acompanhou minha risada.
Alguns órfãos nós olharam torto. Acho que era estranho ver finalmente Maurice Victorine se dando bem com alguém.
É que eles não entendem que Alain me entende. Ele é como algo que eu odeio admitir.— Parece que estão se dando bem. — Adrien disse, de repente, com desprezo na voz.
Alain se encolheu do meu lado, com as bochechas mais vermelhas. Não sei se é pela vergonha ou se Adrien está o assustado. Porque se ele o estiver assustando, eu odeio Adrien mais do que nunca. E, olha, eu achei que já o odiava o suficiente antes.— O que você quer, Adrien?
— Oi, você é o Alain, não? — perguntou, me ignorando. Ele apenas respondeu com uma balançada de cabeça rápida. — Seja bem-vindo, eu sou o Adrien.
— Prazer, Adrien.
— O prazer é todo meu! — abriu um sorriso forçado. — É verdade que você é gay?
Eles não vão ser gentis, as perguntas vão começar e Alain vai se sentir mais quebrado.
Não, eu preciso que sejam gentis. Já não basta aqueles malditos cortes no braço de Alain... será que são só mesmo feridas deixada pelo acidente de carro? Eu ainda duvido muito.— Adrien, cala a porra da sua boca. — sussurrei, mas claro que o maldito loiro me ignorou.
— Então, você é gay? Sim ou não?
— Sim.
— Como aconteceu o acidente de carro?
Cerrei os dentes.
— Adrien, já chega.
— Maurice, por favor, eu estou tentando conversa com o Alain.
— Está tentando conversa ou fazer um interrogatório?
— Verdade, como você conseguiu sobreviver? — Louis pergunto dessa vez, tentando ajudar. Pelo visto, Adrien agora tinha um colega de quarto que era a cara dele. Bom para ele, bom para mim.
— Eu realmente não quero falar sobre isso.
Olhei para Alain. O momento perfeito para ver o que mais ninguém viu, ele tinha derramado uma lágrima mas a limpou rapidamente. Enquanto o resto das lágrimas continuaram presas, já que ele as segurava.
— Qual é, não precisa ter vergonha, a gente te entendem, também somos órfãos.
— Entendem? — perguntei, sem evitar um sorriso. — Vocês não conheceram seus pais.
Adrien suspirou fundo e decidiu me ignorar mais um vez.
— Você pode mudar de quarto, Alain.
— Por que eu mudaria?
— Todos aqui sabemos que Maurice é insuportável.
Mordi o lábio inferior, extremamente nervoso. Será que Alain concorda com eles?
— E-eu não acho.
— Não acha ou está dizendo isso por que ele está aqui?
— Ah, eu...
— Vamos, fale sobre o acidente de carro, parece interessante.
Alain coçou os olhos, respirando fundo em seguida. Ele precisa chorar. Todo mundo precisa às vezes.
— Alain, não precisa responder se não quiser.
— Cala a boca, Maurice! Deixe o menino!
— Eu?
— Sim!
Peguei na mão de Alain e me levantei com ele da mesa.
— Deixem vocês ele! — gritei, irritado. — Não percebem que essas perguntas machucam?
— Maurice, tudo bem.
— Não tá tudo bem, Alain — o puxei e ele não hesitou. — Vamos embora.
Ele me acompanhou até voltamos de volta para o quarto.
Com certeza a Senhora Dubois vai nós matar por temos subido para o quarto antes de terminar de comer. Bem, ela que se foda.
Soltei a mão de Alain assim que entramos no quarto e me arrependi na mesma hora. Queria segurar sua mão mais, até deixamos um simples aperto de mão se transforma em um abraço, e então, um abraço de transforma em um beijo.
O que diabos está acontecendo com você?!— Me desculpa — sussurrei, abaixando a cabeça. Não consigo encarar seus olhos. — Eles são idiotas.
— Aquelas perguntas não me incomodaram.
— Não precisa mentir para mim... sabe por quê?
— Por quê?
— Porque eu te entendo.
— E-entende?
— Também perdi meus pais de maneira horrível. Cheguei aqui com 10 anos e me fizeram perguntas horríveis.
Eu me lembro das perguntas.
Seu pai é um assassino?
Sim.
Você sente vontade de matar?
Não, por quê?
Porque se você seu pai matou sua mãe, o que impede você de matar todos nós?
Tomei coragem para olhar para cima de novo, encarando aqueles lindos olhos verdes. Tudo nele é quase tão perfeito.
Acho que estou enlouquecendo.— Alain.
— O que?
— Não precisa mentir para mim. — repeti.
Finalmente, as lágrimas desceram dos seus lindos olhos verdes.
Quero tanto dizer que ele fica bonito até mesmo chorando.
Sem pensar duas vezes o abracei e ele chorou em meus braços.
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A cidade do amor
RomanceÀs vezes eu me pergunto, o que pode ser pior do que viver em Paris, a cidade do amor, mas não conseguir acreditar nele?