Capítulo 12

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É sempre fácil colocar um sorriso no rosto e dizer que está bem, todos acreditam e nem se quer tentam olhar no fundo dos seus olhos. Mas hoje é uma dia impossível para fingir, colocar um sorriso em meu rosto. Uma vez no ano, isso se torna impossível para mim. Não consigo fazer nem Alain, que é tão inocente, acreditar em mim. Porém, eu também me sinto horrível por mentir. Quem mais merece saber além dele?
É difícil engolir essa verdade, mas eu preciso tanto de Alain quanto ele precisa de mim.

— Maurice, é sério, eu sou sincero contigo então pode ser comigo? — ele perguntou e percebi a irritação em sua voz.
Esfreguei meus olhos, sentindo vontade de chorar. Hoje é o aniversário da minha mãe, ela faria 49 anos se aquele monstro não a tivesse tirado de mim. Desde que vim para cá, todos os anos em seu aniversário eu levo margaridas para seu túmulo, que eram suas flores favoritas. Mas eu faço tudo isso escondido, pois eu sei que a Senhora Dubois jamais me deixaria visitar o túmulo da minha mãe. No começo, ela deixava, mas depois ela disse que ficar indo e vindo daquele cemitério só me faria ficar pior. Mas eu não parei, eu fiz uma promessa. Levar as flores favoritas dela para o túmulo, para comemorar seu aniversário. Lembra-lá que o maldito monstro está preso e que eu estou bem e seguro no orfanato.
Levanto a cabeça e Alain está esperando que eu diga alguma coisa, com os braços cruzados. Acabo deixando meu primeiro sorriso daquele dia escapar. Mamãe se importaria se eu levasse Alain para o seu túmulo hoje e dissesse que ele é o meu amor?
Mamãe, estou me arriscando no amor, tudo bem?

— É aniversário da minha mãe. — sussurrei, observando a raiva em seu rosto mudar para tristeza.

— Maurice, eu sinto muito.

— Já disse que não precisa sentir.

Ele respirou fundo e se sentou ao meu lado.

— Eu sei que você odeia quando dizem que sentem muito, mas eu realmente não sei o que dizer, desculpa — ele colocou sua cabeça em meu ombro e me senti um tanto confortável naquela data especial. — Também odeio quando dizem que sentem muito por meus pais.

Deixei mais um sorriso escapar e eu meio que odeio isso. O que mamãe deve achar de eu sorrir enquanto ela está morta?
Alain pegou nas minhas duas mãos e as apertou o mais firme possível.

— Mas não precisa ficar assim, tenho certeza que a sua mãe não quer te ver triste.

— Será?

— Sim, eu tenho certeza.

Sorri mais uma vez e dessa vez não me senti tão mal. Ele tem razão, não tem? Por que mamãe gostaria de me ver triste? Mamãe sempre desejou minha felicidade.

— Pode vim para um lugar comigo mais tarde?

— Claro!

Sorri. Vou deixar mamãe conhecer o amor da minha vida. Ela vai ama-ló.

— Quando você disse que iríamos sair eu não imaginei que isso significaria fugir do orfanato! — ele cruzou os braços. — Não vou fazer isso, é loucura!

— Não estamos fugindo, vamos voltar.

— E se a Senhora Dubois nos pegar?

— Relaxa, eu faço isso uma vez por ano e ela nunca desconfiou.

— Certeza?

— Certeza. Não precisa ter medo.

Ele coçou a nuca.

— Não sei, não, Maurice.

— Por favor, é importante para mim e eu quero que você esteja lá.

Suas bochechas ficaram vermelhas.

— Tudo bem, eu vou.

— Obrigado — abracei-o. — Está pronto?

— Sim, vamos logo antes que eu mude de ideia!

— Legal!

Conferi mais uma vez nossas camas, que estavam com almofadas por de baixo de um coberto. Típico de um adolescente que tenta fugir, e o pior que funciona, parece que estamos dormindo perfeitamente.
Abri a porta e olhei por todos os ângulos do corredor. Peguei na mão de Alain e saímos correndo para a sala, aonde nós escondemos atrás do sofá.

— Presta atenção! — sussurrei. — As chaves ficam na cozinha, fique aqui que eu vou pega-lás.

— Maurice...

— Fique aqui, por favor. — interrompi.
Alain hesitou por um tempo mas concordou, então dei uma olhada em volta da sala antes de sair de trás do sofá e correr para a cozinha.
Fiquei entre o vão da porta, observando a nossa cozinheira que ainda estava lá. Então, corri, para me esconder de baixo da mesa.
Ela tirou seu avental e coçou a testa, parecia cansada. Então, olhou em volta da cozinha, me fazendo me encolher mais de baixo da mesa.
A cozinheira então apagou as luzes e saiu pela porta da cozinha.
Esperei um pouco, para ter certeza que ela havia ido embora. Então, peguei meu celular para iluminar meu caminho. As chaves estavam penduras no lugar de sempre e as peguei, voltando então para a sala.

— Voltei — sussurrei para Alain, assim que me escondi de volta no sofá.

— Graças a Deus! Pensei que tinham te pegado!

— Eu nem demorei tanto assim.

— Demorou sim!

Soltei uma risada fraca, mas mostrei as chaves para ele.

— Agora só temos que sair — peguei em sua mão de novo. — Vamos.

Dei mais uma olhada de novo na sala e então saímos da sala, caminhamos até as portas do fundo, já que era muito arriscado ir pelas portas da frente, a Senhora Dubois sempre ficava por lá.
Com as chaves, abri as portas e eu e Alain saímos.

— Caramba, você conseguiu mesmo!

— Claro que consegui.

— Então, aonde vamos?

Guardei a chave no bolso e depois passei meu braço em volta do seu ombro.

— Você vai ver.

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