Capítulo 22

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— Maurice?

Ergui uma sobrancelha, confuso.

— Como sabe meu nome?

O garoto não responde, ele apenas parece paralisado no lugar, como uma estátua.

— Está tudo bem com você? — perguntei, mas não veio nenhuma resposta.
Decidi me abaixar para pegar as coisas que tinha caído da caixa. Depois de um tempo, ele também se abaixou e começou a me ajudar.
Com tudo dentro da caixa, ele a pegou de volta nas mãos.
Ele ficou em silêncio por um tempo, apenas encarando o chão, mas não dava nem um sinal de que iria embora.

— Entre — eu disse, abrindo um pouco mais a porta e ele entrou. — Pode deixar a caixa aqui. Fique a vontade.

Então, ele colocou a caixa sobre a mesa do centro da sala e se sentou no sofá.

— Quer beber alguma coisa? — perguntei. — Água? Café? Chá?

— Desculpe, mas não teria alguma bebida alcoólica?

Me lembro de que ainda tinha uma garrafa de vodka na geladeira.

— Eu já volto.

Enquanto caminhava para cozinha, tive mais certeza de que aquele não era Alain. Não acredito que um dia um garoto como ele beberia bebidas alcoólicas. Com certeza não é o meu Alain.
Voltei com um copo de vodka em mãos e entreguei à ele.
Me sentei ao seu lado, em silêncio, enquanto ele bebia.
Quando terminou, ele colocou o copo sobre a mesa e coçou a nuca.

— Você não se lembra de mim?

Me virei para ele, sentindo meu coração bater rápido.

— Eu acho que não. — menti, ainda não acreditando que em minha frente podia ser Alain.
Ele abriu um pequeno sorriso. Sorriso esse que fez meu mundo parar por um instante.

— Maurice, sou eu, Alain.

Fiquei paralisado. Então era ele mesmo, bem em minha frente?
Fiquei paralisado, apenas o encarando, sem saber o que fazer. Meu coração está pulando de alegria, meu coração quer que eu o trague para perto e o beije, depois que eu diga que senti a falta dele. Mas meu cérebro acha melhor manda-ló ir embora, pois ele já fodeu com a minha vida o suficiente.
Porém, eu não obedeço nenhum dos dois. Eu apenas abaixo minha cabeça e começo a chorar silenciosamente.

— Por que você foi embora? — eu perguntei. — Você foi embora sem avisar e nem ao menos respondeu minhas mensagens.

— Maurice, eu...

— Você acabou comigo! — interrompi. — Sai da minha casa!

— Maurice, espera, eu...

Me levantei do sofá e o segurei pelo pulso.

— Sai da minha casa agora, seu idiota! — gritei. — Eu te odeio!

Então, chegou a vez dele de começar a chorar.
Soltei seu pulso e ele se levantou do sofá.
Logo, ele pegou sua caixa e correu para fora.
Assim que ele se foi, fechei a porta com tudo.

Nunca foi assim que eu planejei as coisas. Todas às vezes que eu encontrava com alguém que se parecia com Alain, eu me alegrava. Saia para abraçar, beijar, admitir como ele me deixou saudades e deixa-ló explicar porque sumiu. Mas eu parava quando via que não era meu Alain. Então pedia desculpas e voltava para casa, enquanto a pessoa me encarava com pena.
Agora, que eu encontrei com meu Alain de verdade, as coisas saíram do controle. Eu senti tanta raiva. Me pergunto se eu machuquei ele, segurando seu pulso com tanta força.
Olho para janela, a neve está mais intensa agora, o que me obriga a ter que fechar as janelas e as cortinas.
Eu falei para ele que o odeio. Sou um grande mentiroso. Quero poder voltar no tempo e fazer diferente, mas talvez seja melhor assim.
A porta começa a bater. Tiro o cigarro dos meus lábios e vou atender.
Quando abro, é ninguém menos do que Alain. Por algum motivo, era o que eu esperava.

— Alain, por favor, vá embora.

— Maurice, espera — ele segurou a porta que eu tentei fechar. — Eu sei que me odeia, mas eu ainda te amo. Podemos pelo menos conversar? Eu prometo que depois você não precisa nem mais olhar na minha cara.

Fiquei um pouco surpreso.
Abri e fechei a boca várias vezes, com vontade de declarar que eu ainda o amo também. Mas em vez disso, apenas abri a porta para ele entrar.
Mais uma vez, ele está sentando em meu sofá de novo e eu sentando ao lado dele.

— Maurice, nunca foi minha atenção não responder suas mensagens — ele começou a falar. — Minhas mães fizeram uma surpresa para mim antes de irmos viajar, elas me deram um celular novo e eu acabei perdendo seu contato, porque troquei meu número.

Admito, tinha vezes que eu pensava que isso tinha acontecido. Afinal, minhas mensagens nunca chegavam para ele.

— Por isso, eu te escrevi uma carta, avisando que mudaria de cidade e pedindo para você mandar seu número, mas você nunca respondeu.

— Carta?

— Sim.

— Nenhuma carta chegou para mim.

— Nenhuma? — ele sorriu, um pouco sarcástico.

— Não.

— Mas você me respondeu. Apenas uma vez, mas respondeu.

— Respondi?

Ele suspirou fundo e continuo:

— Eu te mandei muito mais cartas depois daquelas, ainda com esperança que você pudesse me responder, até que você finalmente me respondeu.

Ele tirou uma carta do bolso e me mostrou.

— Eu deveria ter jogado a fora, mas não consegui e a guardei.

Olhei para ele e para o papel em minhas mãos. Confuso, comecei a ler:

Querido Alain.
Para de me mandar cartas, eu não sinto sua falta, eu nunca te amei de verdade. Agora, eu estou com Louis, sabe? Ele é meu namorado. Ele sim eu amo de verdade. Então apenas pare de mandar cartas, esqueça que eu existo.

Ass: Maurice.

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