Capítulo 24

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Alain me empurrou para longe.
Perdi meu equilíbrio mas o recuperei antes que pudesse cair no chão.
Encarei Alain, ele está totalmente vermelho e com uma expressão confusa.

— D-desculpe! — ele gaguejou.

— Tudo bem, eu acho — eu disse, me aproximando dele de novo. — Você não quer me beijar?

— Não!

— Você disse que ainda me amava.

— Isso não significa que você pode sair me beijando assim!

— Então o que isso significa?

— Eu não sei — ele desviou o olhar. — Eu realmente quero ir embora.

— Alain, qual é?

— Eu só quero ficar sozinho.

— Não fui eu que escrevi aquela carta!

— Eu sei, acredito em você.

— Mas por que não parece acreditar?

— Maurice, eu realmente quero ficar sozinho.

— Alain...

— As coisas não funcionam do jeito que você quer, ok?

Ele se virou para mim e foi embora. Dessa vez, não o impedi, apenas sentei no sofá, derrotado.
Eu não sei se deveria me sentir feliz, por ter o beijado depois de tanto tempo, ou me sentir triste por aquele beijo não ter valido o mesmo para ele.
Tiro meu celular do bolso e vejo todas as mensagens que mandei para Alain em todo esse tempo. Isso é equivalente as cartas que ele me mandou mas eu nunca respondi. Quando respondi, não era exatamente eu.
Percebo que Alain tinha deixado a "minha" carta  em cima da mesa. A pego e releio mais uma vez.
Maldito Louis, nunca deveria ter deixado ele me consolar naquele dia que Alain foi embora e eu me senti deslocado. Se eu tivesse sido o mesmo de sempre, ignorando a todos, talvez eu teria recebido as cartas de Alain, recuperado o contato com ele. E mesmo longe, uma hora iríamos nós ver de novo. Iríamos nós amar de perto de novo. A distância não importa, se até agora eu o amo. A cada segundo, eu o amo mais, a cada minuto, horas, dias, semanas, meses eu o amo mais. Estou destinando a amá-lo para sempre, não importa o que eu faça. Nossos corações se prenderam e isso é horrível.
Deito no meu sofá e começo a chorar. Não posso deixar Alain agora que ele está tão perto. O que eu vou fazer?

Me sinto o mesmo bobo adolescente outra vez e eu odeio isso. Odeio os girassóis em minhas mãos e o odeio cada verso do poema favorito de Alain, que talvez já não seja mais o favorito dele. Também odeio Alain, odeio seus olhos verdes, seu maldito sorriso, e principalmente, odeio o amor. Odeio tudo isso e mais um pouco.
Mas hoje é um dia que eu nunca odiei tanto a saudade.
Segurei os girassóis mais firme em minhas mãos e só consigo pensar que é agora ou nunca.
Me levantei e caminhei até a porta. A abri e me surpreendi ao ver Alain bem ali.
Suas bochechas ficaram vermelhas e ele abriu um pequeno sorriso.

— Oi. — ele falou, baixinho.

— Oi.

— Eu iria bater agora, sabe? — ele ficou mais vermelho. — Caralho, desculpa!

Alain escondeu o rosto, totalmente envergonhado.

— Tudo bem, eu iria te ver agora.

Aos poucos, ele foi tirando a mão de frente do seu rosto.

— Sério?

— Entra, deve estar frio aí fora.

Ele assentiu e entrou. Fechei a porta.

— Não precisa fingir que não viu os girassóis. — eu sussurrei.

— Ah, eu...

— É óbvio que são pra você, são suas flores favoritas, não?

— Você ainda se lembra. — ele disse, pegando os girassóis.

— É claro que eu lembro — eu disse. — Assim como lembro o que eu queria fazer de frente a torre eiffel mas não pude, porque você tinha ido embora.

— Maurice, me desculpa.

— Não, não é culpa sua. Assim como não é culpa minha não ter conseguido ler suas cartas.

Ele encarou as flores e então tomei coragem para começar:

Eu te dei todo meu amor,
e mesmo assim você foi embora.

Alain regalou os olhos e então apenas continuei:

— Eu estava lá quando ninguém estava,
e mesmo assim você foi embora.

— Eu me mostrei à você,
e mesmo assim você foi embora. — Alain continuou dessa vez. — Eu fiz tudo por você,
e mesmo assim você foi embora.

— Porque todo mundo sempre vai embora,
até você.

Ele abriu um pequeno sorriso e suas bochechas coraram. Então, consigo perceber que durante esse tempo, esse poema não fez sentindo apenas para mim. Ele também fez sentindo para Alain. Fez sentindo para nós 2. É simplesmente o nosso poema.
Me aproximei um pouco mais dele e segurei em sua mão que está livre, já que a outra segura os girassóis.

Até do meu poema favorito, você lembra.

Eu lembro de tudo, amor, jamais te esqueci e jamais te esqueceria.

Ele me abraçou, e óbvio, correspondi.

Vem comigo? — perguntei.

Para onde?

Para onde eu queria te levar desde do começo.

Tudo bem.

Ele deixou os girassóis sobre a mesa e pegou em minha mão. Assim, saímos de mãos dadas dali.

A cidade do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora