Capítulo 23

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Releio e releio várias vezes a carta, tentando me lembrar quando escrevi aquilo. O problema é que não adianta lembrar algo que eu nunca fiz.
Releio mais uma vez e penso em Louis. É claro que foi ele.
Deixo a carta sobre a mesa e começo a coçar meus olhos, sem saber o que fazer ou o que dizer.

— Desde então eu parei de mandar cartas — Alain disse. — Mas eu nunca te esqueci.

Me encostei no sofá, esperando que Alain continuasse a falar, e ele continuou:

— A última vez que nós vimos pessoalmente, você disse que me amava, e que não era para eu esquecer isso — ele passou a mão sobre sua cicatriz no pescoço e forçou um sorriso. — Eu nunca esqueci. Outros garotos se apaixonaram por mim, mas eu nunca tentei nada, porque você nunca saia da minha cabeça e do meu coração.

Afastei o olhar, me sentindo péssimo. Enquanto eu namorei Louis por um tempo, apenas para tentar, Alain não tentou com ninguém. Ele me esperou, mesmo depois daquela carta horrível.

— Eu tenho que admitir, eu e Louis namoramos por um tempo — eu disse. — Mas eu não escrevi essa carta, nunca recebi uma carta sua.

— Então quem escreveu?

— Não é óbvio? Louis! Ele te odiava.

— Sendo ele que escreveu ou não, a carta faz todo sentindo.

— Como assim?

— Eu fui embora e você simplesmente me esqueceu e ficou com Louis.

— Isso não é verdade.

— Sabe o que isso não é? Justo! — ele gritou, e vi lágrimas descerem dos seus olhos. — Eu pedi tanto para te esquecer e nunca te esqueci. Enquanto você fez isso tão fácil. Deve ser porque você nunca me amou de verdade.

Ele se levantou, de repente, secando as lágrimas.

— Eu preciso ir embora.

Sem pensar duas vezes, me levantando também e o puxo pelo pulso. Não vou deixar ele pensar que eu nunca o amei de verdade, sendo que eu o amo ainda.

— Eu fiquei com o Louis porque eu pensei que te esqueceria — comecei a falar, segurando seu braço com força, para que ele não fosse embora. — Mas adivinha? Nunca te esqueci. Não funcionou. Por isso terminei com ele, nunca o amei de verdade, diferente de você. Eu o amo até os dias de hoje, eu não te odeio. Eu te amo.

Ele soltou do meu braço, mas não foi embora. Em vez disso se sentou novamente.
De novo, ele começou a mexer na sua cicatriz no pescoço, me deixando mais curioso em saber em como isso aconteceu.

— O que é isso no seu pescoço?

Ele abaixou a cabeça.

— Eu estava melhorando da depressão, até parei de ir ao psicólogo, apenas estava tomando remédios.

— Isso é bom, eu acho.

Ele olhou para mim por um tempo e depois desviou o olhar.

— Mas depois da sua carta, que parece não ser sua, eu voltei para o começo de tudo — ele começou a brincar com os dedos, como sempre fazia quando estava nervoso. — Você foi o motivo de eu estar melhorando e quando eu vi que não tinha mais você, cai para dentro do fundo do poço mais uma vez. Minhas mães me levaram para um novo psicólogo, mas não adiantou muita coisa.

— Por quê?

— Sinceramente, nunca me senti confortável com ele como me sentia com a minha antiga psicóloga — me respondeu. — Enfim, minhas doses de remédios aumentaram mais uma vez, cada dia eu estava pior.

— E o que tudo tem a ver com a cicatriz? — perguntei, um pouco mal por ver que eu, a mesma pessoa que o colocou lá em cima, o fez despencar de novo.

— Eu tentei me matar.

Eu paralisei no lugar.

— Como?

— Eu peguei uma faca e pressionei contra meu pescoço. Tentei me matar.

Sem saber o que fazer, segurei a mão de Alain e o puxei para um abraço. Ele parecia um tanto surpreso mas não me importei. O abracei o mais forte que pude.
Ele tentou se matar. Quase perdi o amor da minha vida para a morte de novo e eu nem iria ficar sabendo, por causa do que o maldito Louis fez, me proibindo de ler as cartas de Alain.

— Maurice?

Me afastei aos poucos.

— Desculpe.

— Eu vou embora agora — ele se levantou. — Já disse o que tinha que dizer.

— Mas eu não.

Ele olhou por cima do seu ombro e me encarou.

— O que quer dizer?

Abri um grande e sincero sorriso, um tipo de sorriso que eu pensei que jamais daria outra vez, pois só Alain consegue o arrancar de mim.
Me levantei e caminhei até ele, segurei em sua mão, fazendo o ficar cara a cara comigo. Mesmo assim, ele desviou o olhar para outro canto do meu apartamento.

— Por favor, olhe para mim.

Ele olhou, mesmo que isso pareça ter levado uma eternidade.
Finalmente seus pares de olhos verdes estão grudados nos meus de novo.
Não pude evitar de sorrir, o que fez as bochechas de Alain corarem. Como eu senti falta disso, de tudo isso.

— Caralho, eu te amo!

O puxei pela cintura e o beijei, com paixão, intensidade e principalmente, com saudades. Como senti falta dos seus lábios também.

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