Capítulo 14

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Entramos dentro do orfanato, tão encharcados que nossas pegadas molhadas marcaram o chão. Mas ainda não estamos preocupados. Em vez disso, estamos rindo alto, com nossos corpos mais grudados possíveis. Até me esqueço que deveríamos ter entrado em silêncio, para não sermos pegos. Só me lembro disso quando escuto um passo mais pesado no ambiente e de repente as luzes são acessas.
Pisco meus olhos várias vezes, tentando me acostumar com a luz forte.
A Senhora Dubois está de braços cruzados, com a sua cara fechada de sempre. Porém, não consigo leva-lá a sério, é a primeira vez que a vejo de pijama, que consiste em uma camisola branca, daquelas de um modelo que apenas velhas usariam.
Tentei segurar minha risada, mas quando olhei para Alain, ele também estava tentando segurar. Não resisti e comecei a rir mais uma vez, agora da Senhora Dubois. Ele acompanhou minha gargalhada.
Não bebemos nada, mas eu realmente me sinto tão feliz como se estivesse bêbado. É esse o lado bom do amor? Quero beijar Alain de novo, não importa se Dubois está em nossa frente.

— Acham isso engraçado? — ela perguntou, e paramos de rir por um tempo. — Vocês fugiram do orfanato nessa chuva e olha só como voltam! Vocês tem ideia de que horas sejam?

— Não. — sussurrei, mas não é como se eu me importasse com o horário.

— São duas da madrugada! — ela exclamou. — Vão tomar banho, coloquem essas roupas para secar, depois vão direto dormir pois amanhã vocês vão ajudar as empregadas na limpeza como castigo!

Naquele momento, não consegui me importa. Mas eu geralmente teria reclamado. Eu já fiquei de castigo uma vez e no dia seguinte estava acabado por ficar tanto tempo ajudando nas faxinas do orfanato.
Porém, agora, não estou nem aí para isso, mesmo sabendo que no dia seguinte isso vai ser um peso nas costas. Agora eu só quero sentir os lábios de Alain contra os meus até cansar.

— Tanto faz. — resmunguei, pegando na mão de Alain e subindo para o segundo andar, deixando uma Senhora Dubois puta na sala.
Subimos até nosso quarto e peguei uma toalha para nós dois.

— Eu vou tomar banho primeiro. — Alain disse, já abrindo a porta para caminhar até o banheiro.
Segurei em sua cintura, puxando o para perto.

— Espera aí.

— O que foi?

— Não quer companhia no banho?

Ele corou.

— Não mesmo, pervertido!

Dei risada e o beijei, antes dele sair pela porta.

Uma batida na porta, que me fez acorda, mas continuei na cama abraçado ao corpo de Alain.
Sim, dormimos juntos. Se antes dormíamos, imagina agora que nós declaramos em frente a torre eiffel. Paris é realmente a cidade do amor.
Outra batida na porta, no mínimo abri meus olhos. Que horas devem ser?
Mais uma batida e dessa vez foi Alain quem acordou.

— Bom dia, gato. — sussurrei em seu ouvido e antes que ele pudesse responder, a porta foi aberta com violência. Quem mais poderia ser?

— Bom dia, meninos — a Senhora Dubois disse. — Levantem!

— Que horas são? — perguntei.

— Seis horas da manhã.

— Seis horas? Mas hoje é domingo!

— Sim, e vocês estão de castigo! — ela bateu o pé com força no chão. — Agora se arrumem e comecem limpando os banheiros!

Ela fechou a porta com a mesma força que a abriu.
Suspirei. Me sentei na cama, passando a mão sobre meu cabelo. Estou cansado para ter que lidar com esse castigo.

— Que droga, não deveríamos ter saído ontem a noite escondidos. — disse Alain, se sentando na cama também. Ele parecia mais cansado do que eu.

— Vai me dizer que não valeu a pena? — dei um sorriso malicioso e me aproximei dele. Ele sorriu do mesmo jeito e agarrou meu cabelo, então comecei a beija-ló intensamente. É a única coisa que estou disposto a fazer agora do que lavar banheiros.

— Tudo bem, tenho que admitir que valeu a pena. — falou, assim que me afastei dos seus lábios.

— Bem, vamos logo antes que ela volte mais furiosa.

Ele deu risada, antes de se levantar da cama.

— Eu estou tão cansado! — Alain exclamou, enquanto eu enchia mais um balde de água. — Acho que vou desmaiar!

— Que exagero!

Ele passou a mão sobre a testa e ergueu as mangás, mostrando todos seus cortes que estavam em fase de cicatrização. Começo a pensar que assim como os cortes em seus braços, sua tristeza também está sumindo aos poucos.

— Não é exagero! A Senhora Dubois é maluca, acho que ela planeja nos matar hoje.

Deixei uma risada escapar. O balde está cheio, eu só preciso jogar a água na última parede. Então, secaríamos o banheiro e depois colocaríamos tudo em ordem. Mas em vez disso, olhei para Alain ao meu lado, que já está esgotado de limpar banheiros.

— Se anime, amor.

— Amor?! — suas bochechas ficaram vermelhas.
Sem pensar duas vezes, taquei o balde de água sobre o corpo dela.

— Maurice! — ele gritou. — Seu filho da puta!

Comecei a rir sem parar, daquelas risadas que fazem sua barriga doer.

— Olha a boca, Alain!

Ele fechou a cara e caminhou até mim.

— Se é guerra que você quer — ele ligou a torneira. — É guerra que você vai ter.

Pegando um pouco de água com as mãos, ele a jogou em mim.

— Ei! — gritei, cambaleando um pouco para trás.
Tentei ir atrás dele quando recuperei meu andar, mas Alain já estava com um balde cheio em mãos. A água foi derramada sobre mim, me deixando ensopado.

— Gostou da sensação, meu bem? — ele sorriu vitorioso com o balde em mãos.
Corri até ele, com cuidado, já que o chão estava escorregadio pelo sabão.

— Volta aqui!

— Vem me pegar!

Eu não sei quantas vezes corremos em volta daquele banheiro, mas quando eu finalmente o peguei, acabamos caindo no chão, rindo sem parar.

— Te peguei — prendi seus braços contra o chão e o beijei. — E te roubei um beijo.

— Idiota.

Ele me puxou pela camiseta que eu usava e nos beijamos mais uma vez. Correspondi o beijo com intensidade, esquecendo que tínhamos um banheiro para terminar de lavar.

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