A porta do quarto foi aberta com violência, me assustando.
Nem precisei confirmar se era ou não a Senhora Dubois. Só ela abre portas com tanta violência.
Olhei para Alain, que, graças a Deus ainda dormia tranquilamente em meus braços, não tendo seu sono interrompido pela Dubois.
Olhei para a porta e a Senhora Dubois nos olhava um tanto surpresa. Ela respirou fundo e passou a mão por de baixo do óculos, coçando seus olhos.— Maurice, acorde seu colega e desçam para o café. — disse, tentando ignorar que eu e Alain estávamos na mesma cama, com corpos colados.
— Pode deixar, Senhora Dubois.
— E avise que depois do café ele tem que se preparar para ir ao psicólogo.
— Psicólogo?
— É, só porque ele está no orfanato não significa que vai parar de ir.
Antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, ela fechou a porta, indo embora.
Psicólogo? Por que ele tem que ir ao psicólogo? E os cortes? Meu Deus, os malditos cortes! É óbvio que ele está mentindo para mim.— Alain? — mexi seu corpo para lá e para cá, até que parei, quando vi ele abrir os olhos.
— Maurice? — ele encostou em meu rosto, parecendo confuso. — Caralho!
Ele se afastou e tudo aconteceu rápido demais. Só deu tempo de escutar um estrondo no chão.
Alain tinha caído da cama, o que não me impressionou, já que essa cama é pequena demais para duas pessoas.— Meu Deus, Alain! — exclamei, deixando a cama e ajudando ele a se levantar.
— Desculpa — sussurrou, com o rosto vermelho. — Eu acabei dormindo durante meu choro todo, não é?
— Sim, mas tudo bem.
— Certeza?
— Sim, dormir com você não foi um incomodo.
— Certeza? — repetiu, mas não me dei ao trabalho de repetir a mesma resposta também.
— A Senhora Dubois mandou avisar que você tem psicólogo logo depois de tomamos café.
— Ah, sim, o psicólogo...
Ele parecia sem graça, sem graça da mesma forma como alguém que está escondendo algo e acabou de quase ser descoberto.
— Lembra do que eu disse?
— O que?
— Você não precisa mentir para mim.
Ficamos em silêncio por um tempo, mas, quando menos esperei, ele respondeu um ok.
Tentei ignorar tudo, começando a me vestir para o café.— Senhor Morrice, o nosso motorista está te esperando.
— Eu já estou indo, Senhora Dubois.
Ela assentiu, fechando a porta.
— Tchau, até mais tarde.
Ele se virou para mim, com um sorriso amarelo.
— Tchau, Maurice, até mais.
Senti vontade de abraçá-lo, quem sabe até dar um beijo de despedida. Mas ele apenas se foi pela porta, me deixando sozinho no quarto.
Me sentei na cama, passando minha mão entre meu cabelo.
Eu não posso me apaixonar por Alain, por mais bonito e gentil que ele pareça. Eu não posso. O amor é uma droga, e eu sei disso melhor que ninguém. Por que me arriscar? Não, não posso me arriscar, preciso me manter seguro. Ser diferente em mais de 7 bilhões de pessoas. Me manter seguro nessa cidade do amor.
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A cidade do amor
RomanceÀs vezes eu me pergunto, o que pode ser pior do que viver em Paris, a cidade do amor, mas não conseguir acreditar nele?