Capítulo 10

140 11 0
                                    

Tirei aquele maldito uniforme e coloquei roupas mais confortáveis.

— Finalmente em "casa" — disse, me jogando na cama, cansado da escola. — Então, o que achou do primeiro dia de aula?

Ele deu de ombros.

— Legal, eu acho.

— Seja sincero.

— Não foi como eu imaginei, então eu acho que tudo bem.

— E como você tinha imaginado?

— Um monstro de 7 cabeças.

Ele se deitou na cama também, mas virou de costas para mim.

— Alain, eu disse para ser sincero comigo.

— Eu estou sendo sincero.

— Então por que você está tão triste? — perguntei, me levantando e indo até a cama dele, sentando na beirada. — Você ficou assim de repente, desde da hora do intervalo.

— Por que é impossível esconder algo de você?

— Os olhos falam, anjo.

— Anjo?

Dei de ombros.

— Vai ser sincero comigo ou não? — ele se encolheu na cama, começando a chorar. — Vem aqui.

O puxei pelo braço, ele se sentou mas não me abraçou como de costume. Em vez disso, abraçou os próprios pés e continuou a chorar.

— Você tem razão, o amor é uma droga.

Congelei no lugar, o mundo todo parecia ter parado. Só conseguia sentir meu coração se quebrando naquele momento.
O que você fez?!
Essa não era minha intenção.
Agora ele também não acredita no amor como você, feliz?
Não, nada feliz.
Como pretende conquistar alguém que não acredita no amor agora? Me conte!
Eu não sei, sou um babaca.
Ainda bem que sabe disso! Babaca!

— Por que está concordando comigo?

— Bem, primeiro meu ex-namorado e agora... agora...

— Agora o que?

— Estou apaixonado! — meu coração doeu mais. — E ele não... não... o amor não deve mesmo existir, não quero mais isso.

Me aproximei, limpando as lágrimas em seu rosto.

— Olha para mim — ele ergue a cabeça e olhei em seus olhos, aqueles olhos verdes que me deixavam louco. — Acho que é a hora de você saber.

— Saber o que?

— Eu parei de acreditar no amor pelo mesmo motivo que vim parar no orfanato — ele parecia prestar bastante atenção, então continuei, tentando não me sentir mal. Era difícil desabar sobre esse pesadelo que me acompanha todos os dias. — Meu pai é um homem abusivo.

— O certo não é "era"?

— Não, ele ainda está vivo.

— Então o que você está fazendo no orfanato?

— Você já vai entender, me deixe continuar — ele assentiu e continuei: — Um dia, ele passou dos limites. Chegou em casa e matou a minha mãe na minha frente. Ele foi preso e eu fui enviado para o orfanato. Desde então, eu prometi para mim mesmo que jamais arriscaria cair no amor como minha mãe.

— Meu Deus, Maurice, eu sinto muito!

— Não sinta, não é sua culpa — acariciei seu cabelo e percebi que ele hesitou um pouco. Parece que ele está tentando ficar longe de mim. — Eu não quero que você seja como eu, não pare de acreditar no amor.

— Mas o amor também está me machucando.

— Não, por favor, não deixe de acreditar no amor sendo que até eu estou tentando acreditar nele de novo.

— De novo?

— É, quando eu te vi, soube que tinha que tentar de novo.

Suas bochechas ficaram coradas.

— Sim, você disse que precisava tentar o amor da amizade — ele abaixou a cabeça. — Apenas amizade.

Meu Deus, não, quero mais que a amizade dele.

— Eu não sei, eu quero tentar mais algo — suas bochechas ficaram vermelhas. Será que ele entende que eu quero ele? Mas ele não me quer, ele está apaixonado e com certeza não sou eu. — Por que não me fala mais do cara que você ama?

— Não quero.

— Ah, vamos lá, ele tem que ser bom o suficiente pra você.

— Por quê?

— Porque se eu não puder ser seu namorado então tem que ser um cara que eu sei que não vai te machucar.

— Espera, o que?!

Dei uma risada nervosa.

— Brincadeirinha!

O empurrei, fazendo o deitar na cama novamente. Deitei ao seu lado e ele sorria para mim, aquele sorriso irresistível.
Eu odeio isso. Quanto tempo vou conseguir esconder meu amor por ele? Por quanto tempo? Se eu continuar assim acho que vou acabar morrendo.

Já se passou uma semana de aula, Alain está gostando da escola, apesar de nunca tentar conversa com ninguém. É sempre apenas eu e ele, e eu gosto disso.
Porém, meu coração continua quebrado, porque ele está apaixonado. Agora ele me conta mais sobre o garoto que gosta, porém nunca é o suficiente para eu descobrir quem é. Fico atento mas nunca o pego olhando para ninguém intensamente durante as aulas, durante o intervalo ou aqui no orfanato mesmo. Seus olhos verdes estão sempre voltados apenas para mim. Mas eu acho que seja impossível que ele me ame e também não posso me arriscar.

— Maurice?

— Sim?

— Daqui a pouco eu vou no psicólogo, e sabe, meus pais costumavam me acompanhar nas consultas, porque às vezes eu não sei o que falar e começo a chorar. Às vezes até meu ex-namorado ia comigo — fechei o punho. Eu odeio quando ele fala do seu maldito ex. — Eu queria saber se você podia me acompanhar daqui em diante. Você pode?

— Claro que eu posso!

Ele sorriu e me abraçou. Como eu adoro o seu abraço, é assim que seu perfume fica grudado no meu corpo.

— Obrigado, Maurice, você é a pessoa mais importante para mim, sabia?

Então por que diabos não sou eu por quem você está apaixonado?

— Você também é a pessoa mais importante para mim, Alain. — isso também vale como "eu realmente amo você, Alain".

A cidade do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora