Entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim.
Tentei secar meu cabelo mais uma vez, porém foi inútil, então deixei que eles permanecessem molhados e a toalha branca ficasse sobre eles.
Alain estava deitado em sua cama, com seu celular em mãos. Seu rosto ainda estava inchado depois de tanto chorar. Ele não disse nenhuma palavra, apenas chorou nos meus braços e pra mim foi mais que suficiente. Talvez ele confie em mim, quem sabe?
Me aproximei. Alain não deixou de perceber meus movimentos e desligou o celular, jogando seu olhar e atenção para mim.
Fiquei de joelhos sobre o chão e antes que eu pudesse pensar se deveria ou não, comecei a acariciar seu cabelo que é tão macio. Percebi isso quando comecei a fazer carinho na sua cabeça enquanto ele chorava, uma tentativa de acalma-ló e mostrar que tudo poderia ficar bem. Vai ficar bem. Pelo amor de Deus, tem que ficar!
Ele fechou os olhos e eu apenas continuei, até parar e ele abrir os olhos de novo.— Já tomei banho — sussurrei. — Sua vez.
— Eu posso fazer isso pela manhã.
— Vamos, Alain. Um banho vai te deixar melhor, eu prometo.
— Maurice, eu não...
— Por favor! Se você quiser, eu posso ajudar. — interrompi.
Alain ficou vermelho e não foi como de costume. Ele estava extremamente vermelho, cheguei a pensar que alguma hora ele iria explodir. Foi quando eu percebi o que tinha acabado de dizer e minhas bochechas coçaram.
Droga, Maurice!— Porra! — resmunguei, apertando meus olhos. — Desculpa, eu não falei na maldade.
De repente, suas bochechas não estavam mais tão exageradamente vermelhas e ele gargalhava alto. Aquela risada gostosa, do tipo que faz seu coração aquecer ou acelerar até você morrer de amor.
Sem que eu pudesse perceber, acabei acompanhado sua risada também. O que eu podia fazer? Era contagiante. Sem falar da merda que eu falei, e que merda.— Desculpa, sério.
— Tudo bem, Maurice — ele se sentou na cama. — Eu vou tomar banho.
Me levantei do chão, dando espaço para ele, que saiu para tomar seu banho.
— Maurice?
Joguei meu olhar para a porta, me deparando com um Alain de pijama. O que eu posso dizer? Bem, uma graça!
— Estou aqui.
Ele entrou por completo no quarto, secando o cabelo molhado com a toalha. Caminhou até mim e se sentou ao pé da minha cama.
— Queria te agradecer, por ter... sabe... deixado eu chorar mesmo sem saber o que se passa na minha cabeça.
— E quando vai me contar o que se passa na sua cabeça?
— Não sei, mas... não é só porque eu estou aqui, nesse orfanato, que me tirou meus pais e meu namorado. Foi antes disso, só que isso, me fez ficar pior.
Espera, namorado? Eu avisei! O amor é uma droga!
— Namorado? — perguntei, me assustando com a irritação na minha voz.
Não, não, eu não estou com ciúmes.— Na verdade, agora ex-namorado.
Me senti um pouco aliviado por ser ex-namorado, mas acho que foi maldade da minha parte.
— Ele também estava no acidente de carro?
— Não, ele está bem vivo.
— Então o que aconteceu?
— Quando ele ficou sabendo que eu séria órfão terminou comigo.
— O que?!
— Ele acha que séria uma vergonha namorar um órfão, sabe? — uma lágrima surgiu e, me senti feliz, porque dessa vez ele não a limpou e nem se segurou. Ele está sendo sincero. Ele confia em mim. E isso tudo em menos de 24h, o amor é realmente uma droga. E eu sou um tolo. — Na verdade já é uma vergonha namorar alguém como eu.
— Vergonha? Por quê?
— M-m-meu braço, m-m-meus... — ele começou a tremer. Não conseguia falar pelas lágrimas que o interromperam. — D-d-desculpa... n-n-não consigo... e-eu...
— Ei, eu estou aqui. — disse, o puxando, fazendo com que se deitasse ao meu lado na cama, que sendo pequena, fez nossos corpos se grudarem, literalmente. Acho que é o mais perto que um dia vou chegar dele.
Ele deitou a cabeça no meu peito, chorando mais uma vez ali enquanto eu acariciava seu cabelo.
Bem, senhoras e senhores, descobri que existe sim alguém que eu odeio mais que Adrien. Não sei a porra do seu nome, mas vamos o chamar de ex-namorado escroto de Alain. Um desgraçado, não? Como tem coragem? Alain é perfeito, por que ele não valorizou isso? Qual o problema dele? Provavelmente falta um parafuso a menos, né? Babaca!
Apertei Alain mais forte em meus braços, querendo ser capaz de o proteger de todo mal desse mundo. E eu me odeio por isso porque é amor, não é? Eu não deveria. Só que esse é o problema. A gente nunca deveria deveria deveria, e mesmo assim, cá estamos.Uma mexa do seu cabelo caiu sobre seus olhos, mas o afasto, querendo observar mais do rosto de Alain enquanto ele dormia em meus braços.
O sol batia com força lá fora, indicando que era um novo dia. Algo como vamos, levantem!
Não posso, querido sol, tem um anjo nos meus braços, respondi a ele.
No final das contas, Alain chorou até dormir. E eu, como o tolo que tenho sido recentemente, não me deixei leva-ló para sua própria cama. Preferi dormir com seu corpo grudado ao meu, e tenho que admitir que foi perfeito.
Afastei meu olhar do rosto de Alain e encarei seu pijama de manga comprida. Foi quando me lembrei dos cortes, que ele afirma ser feridas do acidente de carro e depois... o que ele tentou dizer ontem à noite mesmo? Era algo relacionado ao seu braço.
Com cuidado, deixei minha mão fazer o que ela queria. Então, ela desceu até seu braço, levantando com calma a manga.
O braço dele ficou exposto para mim e meu estômago se revirou mais do que da primeira vez.
Abaixei a manga de volta, escondendo os cortes.
Deus, que isso seja apenas do acidente de carro mesmo!
O que se passa na cabeça dele? No coração dele? O que faz de Alain assim?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A cidade do amor
RomanceÀs vezes eu me pergunto, o que pode ser pior do que viver em Paris, a cidade do amor, mas não conseguir acreditar nele?