— Pronto, parou de sangrar — eu disse. — se sente melhor?
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, afastando seu braço de mim e escondendo os cortes outra vez por de baixo da mangá comprida. — Eu não quero que finja se importa comigo quando tudo que eu mais quero é morrer.
— E eu não quero que você acredite no Adrien.
— Eu não acredito nele.
— Então por que diabos você não confia mais em mim?
— Eu não confio em ninguém, tá legal? — ele abaixou a cabeça. — Mas eu estava quase confiando em você, até as palavras do Adrien fazerem sentindo.
— As palavras dele não fazem sentindo, você nem se quer me conhece direito. E Adrien me conhece muito menos.
— Ele era seu colega de quarto.
— E isso não significa nada. Ele só me odeia e eu o odeio.
Alain junta suas pernas e apoia sua cabeça nelas.
— Não sei no que acreditar. — ele sussurrou.
— Tudo bem se preferir acreditar naquele maldito loiro, o que eu posso fazer?
Me levantei do chão do banheiro, me preparando para ir embora, mas achei a lâmina que Alain havia usado no chão. A peguei e andei até a lixeira.
— O que você está fazendo?
— É pro seu bem.
Sem pensar duas vezes, abri a lixeira e joguei a lâmina fora.
— Não!
Senti Alain atrás de mim.
Olhei por cima do meu ombro e ele estava chorando de novo.— Ei, Alain.
— Não! — ele repetiu. — Você não sabe o que é melhor para mim!
— Talvez eu não saiba, mas ficar se machucando não vai te levar à lugar algum.
— Não, você não entende!
— Alain, por favor! — segurei seus dois braços e, sem perceber, lágrimas saltaram dos meus olhos. — Eu não quero ver você se machucando, eu me importo com você. Eu sei que eu não posso entender como as coisas funcionam, mas eu me importo com você. Eu me importo com você não importa o que diabos Adrien tenha dito.
— Maurice, você... está chorando? — ele perguntou, com os olhos arregalados.
Sequei as lágrimas em meus olhos e segurei todo o resto que queria sair.— Não, não estou.
Virei de costas para ele novamente e comecei a andar em direção à saída do banheiro.
— Por favor, espera!
Fechei a porta com tudo. O suficiente para ficar com medo de ser pego pela Senhora Dubois mais tarde. Vou levar uma bronca daquelas. Estou brincando com a sorte.
— Bom dia. — ele sorriu, um sorriso tão sincero que era impossível acreditar que o mesmo garoto esteve chorando e se cortando no banheiro a algumas horas atrás.
— Alain?
Ele se deitou do meu lado.
— Maurice, desculpa. Eu não deveria ter acreditado no Adrien.
— Tudo bem.
— Não, não tá tudo bem! — exclamou. — Eu me importo demais. Tenho medo de te perder, você é a única coisa que eu tenho.
Acabo deixando um sorriso escapar.
— Olha, você tem que começar a escolher com o que se importa.
— E isso é possível?
— Claro, pensa comigo, com o que é melhor se importa? Com o que caras idiotas dizem ou com seu namorado chorando e precisando da sua ajuda?
— Eu não tenho um namorado, não mais.
— Bem, então vamos supor que eu seja seu namorado.
Suas bochechas coraram.
— E-eu me importaria com você.
— Isso! Então, vai se importa com o que o Adrien disso ou...
Ele me abraçou, de repente, interrompendo minha fala.
— Não dou a mínima pro Adrien. — me afastei do abraço e peguei em seu braço. Ergui sua manga, vendo os cortes. — Eu prometo não me corta mais.
Respondi com um sorriso e me abaixei, começando a beijar cada corte no seu braço.
— Eu sempre estarei aqui.
— Eu te amo, Maurice.
Senti minhas bochechas arderem. Quero tanto beija-ló.
— Eu também te amo, Alain.
— Sabe, ainda tem tempo para dormir. Desculpa te acorda cedo.
— Tudo bem — peguei na sua cintura, o puxando mais para perto. — Dorme comigo?
Ele sorriu, com as bochechas vermelhas e balançou a cabeça em resposta.
Alain deitou sua cabeça em meu peito e fechou os olhos. Também fechei os meus e dormir.— Garotos, acordem!
Despertei do meu sono. Nada assustado, já que de alguma forma me acostumei com os gritos da Senhora Dubois. Afinal, estou aqui à 7 anos. A única coisa que não consegui me acostumar é o fato de eu ter perdido minha mãe para aquele monstro.
Mas, por outro lado, Alain acordou bem assustado. Leva tempo. Eu me lembro que acordava bastante assustado também com os gritos de Dubois.
Falando nela, a mesma nos olhava com o mesmo tom que olhou da outra vez. Ela deve estar tentando se acostumar com o fato de que talvez vai encontrar a gente sempre deitados juntos em minha cama. E, quem sabe um dia, na cama dele. Ou até mesmo em camas separadas.— Se arrumem e desçam pro café — ela disse, assim que eu e Alain ficamos de pé. — E Alain, amanhã é o seu primeiro dia na nova escola.
Ele assentiu e ela saiu do quarto.
— Espero que dê tudo certo nessa nova escola.
— Por quê?
— Bem... — ele hesitou.
Coloquei a mão sobre seu ombro.— Pode confiar em mim.
Ele sorriu e continuo:
— Eu sofria bullying por ser gay, sabe? E eu não sei como, mas descobriram minha depressão, e então as coisas ficaram piores.
— Relaxe, você tem eu agora. Não vou deixar que façam nada com você.
Ele sorriu mais e correu para me abraçar.
Depois disso, começamos a nos arrumar para descer pro café. Em silêncio, mas um silêncio confortável. Daqueles que te arranca um sorriso bobo.
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A cidade do amor
RomanceÀs vezes eu me pergunto, o que pode ser pior do que viver em Paris, a cidade do amor, mas não conseguir acreditar nele?