Capítulo 21

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1 ano depois

Retiro meu casaco e jogo no sofá de casa. Abro um pouco a janela e vejo que lá fora ainda está nevando. Por esse motivo, ligo o aquecedor e decido preparar um café quente.
Enquanto o café não fica pronto, vou para meu quarto, arrumando algumas coisas, já que ele está tão bagunçando.
Pego uma vassoura e vou varrendo um pouco o local, até que encontro um papel estranho de baixo da cama. Confuso, o pego e começo a ler.

Eu te dei todo meu amor,
e mesmo assim você foi embora

Eu estava lá quando ninguém estava,
e mesmo assim você foi embora

Eu me mostrei à você,
e mesmo assim você foi embora

Eu fiz tudo por você,
e mesmo assim você foi embora

Porque todo mundo sempre vai embora,
até você.

Abro um pequeno sorriso.
Era esse o poema favorito de Alain, me pergunto se ainda é ou se ele agora prefere outro.
De qualquer forma, nunca pensei que ele faria tanto sentindo agora.
Amassei o papel e o joguei no lixo, mesmo sabendo que essa ação não vai mudar nada.
Volto para cozinha e o café quente está me esperando. Coloco um pouco em minha caneca e saio para a varanda, aonde eu posso observava esse bonito dia de neve.
Tomo um gole do meu café e minha cabeça me leva de volta para o poema, o que me faz pensar em Alain.
Já faz um ano que ele se foi e eu sempre continuei fazendo o que Louis me disse para fazer: esperar. Mas esperar por um ano é exagero, então parei de esperar. Confesso que ainda mando mensagens para Alain, naqueles dias que mais sinto sua falta, naqueles dias que encontro alguém na rua que é tão parecido com ele que corro atrás, feliz, pensando que é Alain. Mas claro, nunca é.
Nesses dias que eu lembro como o amor é uma droga e eu me destrui por não conseguir cumprir uma simples promessa.
Talvez tenha sido só um amor da adolescência, é o que eu sempre penso, mas continuo sentindo a falta dele.
Agora, eu tenho 18 anos, já faz bastante tempo que sai do orfanato e estou morando em um apartamento sozinho. Comecei a minha faculdade. Porém, ainda moro em Paris. Talvez um dia eu me mande daqui, ainda não tenho certeza. Pretendo me mudar para Nova York, por isso também comecei a ter algumas aulas de inglês.
Olho para o meu copo, que agora está vazio. O deixo de lado e decido acender um cigarro, o que me faz lembrar de Louis. Foi por causa dele que comecei a fumar. Depois que Alain se foi, Louis sempre esteve me confortando, até o dia que ele se apaixonou por mim. Eu não me apaixonei por ele de volta, mas fingi que me apaixonei, então eu namorei com ele por um tempo. Louis me mostrou as coisas que gostava de fazer durante esse período. Fugimos muitas noites do orfanato para ir em festas, aonde ele me mostrou o cigarro e até conseguiu me fazer ficar bêbado por conta de bebidas alcoólicas. Eu ainda bebo, mas não tanto e eu fumo somente quando preciso. Afinal, isso pode me matar logo e eu fumo para morrer, não por diversão.
Eu e Lou duramos bastante tempo, até que cansei de fingir, porque mesmo com Louis eu ainda não tirei Alain da minha cabeça e não era justo com ele. Por isso terminamos e ele passou a me odiar desde então. Fiquei sozinho outra vez naquele orfanato.
O cigarro chega ao fim e o jogo fora.
De repente, a campainha toca, me pegando de surpresa, até porque raramente recebo visitas.
Caminho até a porta e quando a abro, um garoto é revelado para mim. Ele é menor que eu, sua pele é clara, seus cabelos castanhos e ele tem olhos verdes. O admiro por um tempo, vendo que ele têm muitas semelhanças com Alain, mas claro que não é o meu Alain, porque o garoto tem uma cicatriz enorme no pescoço e Alain nunca teve uma dessas. E os olhos verdes são tão triste e eu acredito que onde quer que Alain esteja, ele provavelmente está muito feliz com a sua nova família. E, afinal, eu já perdi as esperanças de pode ver Alain outra vez.
Observo um pouco mais o garoto e vejo que ele tem uma caixa nas mãos, e ele está olhando para ela, parecendo com vergonha de me encarar.

Oi, eu sou seu novo vizinho. — ele sussurrou e me surpreendi como sua voz era parecida com a de Alain.
Não, não é possível.
O garoto ergue a cabeça e vi que suas bochechas ficaram coradas no mesmo instante. Ele ergue as duas sobrancelhas e ficou boquiaberto, ficando com uma expressão de surpresa.
De repente, ele deu um passo para trás e a caixa caiu de suas mãos, derramando coisas para todo lado.

Meu Deus! — eu exclamei. — Tá tudo bem?

Eu iria me abaixar para ajuda-ló pegar as coisas mas paro, assim que escuto ele sussurrar meu nome.

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