Capítulo 11

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— Muito legal da sua parte decidir acompanhar Alain nas consultas, Maurice.

Dei um sorriso amarelo para a psicóloga.

— Por nada, sempre estarei aqui quando ele precisar.

Dei uma olhada de lado e vi que Alain ficou um tanto vermelho na cadeira.
A psicóloga colocou um óculos quadrado sobre o rosto e deu uma olhada na papelada em cima da sua mesa.

— Tem tomado os remédios adequadamente?

— Sim. — Alain respondeu.

— Bem, como você tem se sentindo em relação a morte dos seus pais?

— Eu ainda me sinto triste, porém, eu não quero decepciona-lós — olhei para o lado de novo, vendo que ele realmente tinha confiança com a sua psicóloga. Ele expressava cem por cento dos seus sentimentos e às vezes isso me derrubava, porque eu quero, preciso fazê-lo feliz outra vez. — Eu preciso continuar vivendo, eles podem estar mortos mas talvez estejam torcendo por mim de algum lugar.

— Creio que sim, eles realmente te amavam.

— Sinto falta deles — ele abaixou a cabeça e vi que lágrimas começaram a descer. Peguei em sua mão, dando coragem para que ele continuasse e ele continuou: — E do Adam.

Adam? Quem é Adam?

— Eu entendo, querido, eles eram tudo que você tinha.

— Não, meu ex me deixou, meus pais estão mortos mas jamais me deixaram! Ele não merece sentir minha falta.

Ah, claro, Adam é o ex-namorado idiota dele.

— E o que você vai fazer a respeito?

Ele respirou fundo.

— Eu já sei.

— Bom menino, exatamente como aprendemos.

Fiquei um pouco confuso mas continuei firme na cadeira.

— Mas, sabe, agora eu tenho alguém.

— Sim, o Maurice, você me disse na outra consulta.

— É, só que agora eu tenho certeza.

Senti minhas bochechas queimarem e olhei para Alain. Ele parecia um tanto feliz. E pelo visto, a culpa da sua felicidade sou eu. Me sinto tão bem.

— A sua primeira semana de aula da escola nova já se passou, não é?

— Sim.

— E então, como foi?

— Eu gostei, não tinha ninguém para pegar no meu pé dessa vez.

— Algum amigo?

— Não, mas tudo bem. Maurice para mim já é o suficiente.

— É melhor ter um único amigo do que não ter ninguém.

— Você está certa — ele sorriu. — E eu o amo muito.

Alain falava aquilo com tanta coragem que parecia que ele tinha se esquecido que eu estava bem ao seu lado, segurando sua mão.
Eu também te amo muito, Alain, só que mais que um amigo. Consegue entender?

Alain saiu na nossa frente com o Senhor Carpentier, já que a psicóloga quis conversa comigo em particular.

— Sabe, Maurice, eu sei que já pedi isso antes, mas por favor não o decepcione — ela deu uma olhada em alguns papéis. — Eu nunca o vi assim antes, ele está melhorando. Eu sempre costumo dizer que o amor cura. Seu amor está o curando.

— Certeza? — pensei em voz alta. — Eu costumo dizer que o amor é uma droga.

Ela sorriu.

— O amor não é nada disso, querido, apenas as pessoas fazem ele parecer uma droga — ela ajustou o óculos em seu rosto. — Mas quando você encontra a pessoa certa, o amor é o que realmente deve ser.

— Alain é a minha pessoa certa?

— Maurice, pela primeira vez estou diminuindo as doses dos remédios, as consultas estão ficado mais leves e eu verifico o braço dele todas as vezes e quase não tenho mais surpresas com cortes recentes. Estão todos sendo cicatrizados.

Lembrei-me do que ele disse, prometeu que jamais se cortaria de novo. Pelo visto, ele está cumprindo com essa promessa.

— Não vou decepciona-ló porque eu também o amo — me levantei. — Mesmo que seja mais que um amigo.

Ela parecia um pouco surpresa mas apesar de tudo sorriu.
É incrível como até eu consegui desabafar com a psicóloga dele.
Ela abriu a porta e me despedi dela, caminhando até o carro para voltar ao orfanato.

— Tome. — eu disse, colocando um copo de água em sua mão direita e um comprimido na esquerda.

— Odeio tomar esses remédios.

— Pense pelo lado bom, ela diminuiu as doses de remédio. Você está melhorando.

— Verdade?

— Pensei que ela havia te contado.

— Não, ela não me disse nada.

— Mas é, você está melhorando e as doses do antidepressivo diminuindo.

Ele abriu um sorriso imenso e bebeu o remédio.
Me lembrei do que a psicóloga dele disse. O amor cura. Cura mesmo? Se sim, quero que Alain me cure também. Na verdade, ele já está fazendo isso. Não posso descrever o quanto mudei desde que ele atravessou aquela porta e entrou no quarto acompanhado da Senhora Dubois.

— Antidepressivo?

Olhei por de cima do ombro de Alain e vi que era Adrien parado ali, com seu pijama azul de sempre.
Eu não sei como descrever como eu quero que ele morra, sempre aparecendo nas piores horas.

— A quanto tempo está espionando a gente, loiro de merda?

— Que absurdo! Eu jamais espionaria vocês! Eu apenas vim tomar uma água.

— Então tome a sua água no seu canto.

— Mas eu fiquei curioso — ele se aproximou de Alain e na mesma hora o puxei para o meu lado. — Você tem depressão, Alain?

— Não é da sua conta.

Ele se aproximou mais e apertei mais Alain em meus braços.

— Desse jeito você vai sufoca-ló, sabia?

— Eu não quero que você encoste um dedo nele!

Ele cruzou os braços.

— Vamos ver o que Alain tem a dizer, você nunca o deixa falar.

— Eu não preciso falar sendo que ele já fala tudo por mim — Alain respondeu, me surpreendendo. — Eu realmente queria que você morresse, babaca.

— Parece que a companhia com o Maurice não te fez bem.

— Deixe o Maurice fora disso, não era da minha vida que você queria saber? — ele se afastou um pouco de mim e se aproximou de Adrien. Ele estava furioso e eu pensei que jamais o veria assim. — Eu tenho depressão sim, eu sou gay sim, meus pais morreram em um acidente de carro sim. O que mais quer saber?

Adrien fechou a cara, porém não disse mais nada, apenas saiu da cozinha emburrado.
Olhei para Alain, que parecia um tanto orgulhoso de si mesmo. Esse com certeza é o meu garoto.

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