Capítulo 19

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Como prometido, Alain me ligou, por chamada de vídeo.
Ele parecia estar feliz então fiquei feliz por ele. Eu sei que é injusto que eu fique triste só porque agora ele tem uma família.
Alain me mostrou sua nova irmã, que mesmo não sendo sua irmã de sangue, era parecida com ele. Seu nome é Charlotte, ela tem apenas 6 anos. Seus olhos também são verdes como os de Alain, por isso os acho tão parecidos. Porém, ela tem cabelos loiros, enquanto os de Alain são castanhos.
De acordo com Alain, ela foi adotada quando tinha um ano de idade.

— Ela dormiu — Alain sussurrou e o vi fechar a porta do quarto da irmã. — Então, você disse que queria sair, vamos marca um dia agora.

Abro um pequeno sorriso, feliz por ele não ter esquecido. Por que ele esqueceria?

— Não pode ser amanhã?

— Não vai dar, prometi para minhas mães que iria sair com elas.

— As flores vão acabar morrendo se demoramos muitos. — pensei em voz alta.

— Flores? Que flores?

— Não, esquece.

— Bem, o que você acha do próximo sábado?

— Tudo bem.

— Aonde vamos?

— Me encontre de frente à torre eiffel.

— Ok.

— Não, quer saber? Eu vou te buscar — eu disse. — Me passa o endereço?

— Claro.

Peguei rapidamente um papel e uma caneta, para anotar o endereço que Alain dizia.

— É isso.

— Obrigado, Alain.

— Eu tenho que ir agora.

— Até sábado.

— Até.

— Espera!

— O que?

— Posso te ligar amanhã?

— Ligue quando quiser.

— Ok.

— Boa noite, Maurice.

— Boa noite, Alain. Eu te amo.

Consegui ver suas bochechas ficarem vermelhas pela câmera, como sempre ficam e ele abriu um sorriso pequeno.

— Eu também te amo.

Ele desligou.

Uma semana se passou. Finalmente é sábado e eu finalmente verei Alain outra vez.
Eu sei que liguei para ele por chamada de vídeo todos os dias, mas não é a mesma coisa do que pessoalmente.
Eu não posso beija-ló, abraçá-lo e ficar agarrado na cama enquanto ele conta para mim como foi seu dia.
E o seu cheiro? Está marcado por todo lugar desse quarto vazio e isso me faz sentir mais falta dele.
Eu tenho que admitir que todo esse tempo estive dormindo na cama que ele costumava dormir. Indo na biblioteca e terminando de ler os livros que ele pegou de lá no primeiro dia e não conseguiu termina.
Ainda estou tentando me acostumar com o fato de que não posso mais tê-lo em cem por cento dos meus dias.
Eu estou feliz por ele, mas como ele deixou saudades.
O que importa, é que verei ele de novo. E, não apenas o verei, como irie pedi-ló em namoro. Eu acho que ele vai aceitar.
Eu planejei tudo. Chegarei na casa dele e entregarei os girassóis. Então, vou acompanhá-lo até a torre eiffel. Quando chegarmos, pegarei em suas mãos e citarei seu poema favorito. Poema esse que eu fiz questão de decorar, porque não quero olhar para um papel, quero mergulha no verde daqueles olhos. E então eu vou fazer finalmente a pergunta. Você quer namorar comigo? E ele — eu espero — irá responder que sim.
Olho para o relógio e vejo que a hora chegou.
Dou mais uma olhada no espelho, pego os girassóis e saio do orfanato com a autorização da Senhora Dubois.

Bato na porta e seguro o girassol com força, para tentar esconder meu nervosismo. Acho que nunca estive tão ansioso durante minha vida toda.
A porta, finalmente se abriu, revelando um senhor de idade. Ele têm os cabelos totalmente brancos, que estão sendo escondidos um pouco pela boina vermelha e usa um macacão marrom velho.
Fiquei um pouco confuso. Quem é esse senhor? Eu esperava que Alain atendesse a porta, e se não ele, uma de suas mães, ou até mesmo sua irmã de 6 anos.
Ignorei isso e comecei a falar:

— Licença, senhor, o Alain está?

— Alain?

— Sim, Alain Morrice.

— Ah, sim, o garoto do casal de mulheres.

— É, ele mesmo.

— Querido, ele mudou de cidade ontem mesmo, não ficou sabendo?

— O que?!

— O casal lésbico não mora aqui em Paris, elas apenas estavam de passagem, agora elas voltaram para terra natal.

— E elas levaram o Alain junto?

— Claro que levaram, é o filho delas.

Eu sinto lágrimas querendo descer, porém as segurei a todo custo.

— Obrigado, Senhor.

— De nada, filho.

Ele fechou a porta e então me afastei.
Comecei a caminhar pelas ruas de Paris, deslocado e perdido. Até que, sem querer, percebo que fiz o caminho para chegar até a torre eiffel.
Me aproximo um pouco mais dela e começo a pensar que era para eu estar aqui com Alain.
Me sento em um banco que tinha ali perto e começo a olhar em voltas, têm tantos casais felizes. E eu começo a pensar de novo, era para eu estar aqui com Alain e fazer parte de um casal feliz também. Mas ao me vez disso, estou sozinho e nada feliz.
Tiro meu celular do bolso e mando uma mensagem para Alain.

Por que não me avisou que iria se mudar?

Meu coração se aperta e me permito chorar ali mesmo.
Coloco os girassóis de lado e começo a chorar mais e mais.
De repente, sinto uma mão em meu ombro. Ergo a cabeça e vejo uma garota.

— Moço, está tudo bem? — ela perguntou.
Seco minhas lágrimas.

— Sim, está tudo bem.

Pego os girassóis e penso em jogar eles fora na lixeira que está ao meu lado. Porém, hesito, percebendo que tenho uma ideia melhor para fazer com eles.
Olho por cima do meu ombro e a garota ainda me olhava. Dei um pequeno sorriso para ela e então sai.

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