Três

115 11 0
                                    


— Não confio nele.

É a primeira palavra que Hunter diz quando sou levada para a cela.

Minha conversa com James não durou muito mais que aquilo. Não rolou abraço nem beijos nem declarações calorosas de irmãos. Ele apenas apertou minha mão com força, deu um aceno de cabeça e reforçou a ideia de que – preciso confiar nele‖.

Preciso confiar nele.

Hunter está vestido com um macacão idêntico ao meu. Seu rosto agora está limpo e os ferimentos, tratados. Ele está sentado no chão com as costas apoiadas na parede e as pernas esticadas ao longo.

Poderia até dizer que ele está relaxado, se seus ombros não tivessem tão tensos quanto rochas.

Olho em volta e vejo que estamos em uma cela melhor. Há duas camas baixas e um sanitário mais limpo. O chão não é sujo e temos roupas de cama que, mesmo não sendo de luxo, esquentará quando o frio chegar. Sei que não era pra ter nem metade das coisas que temos, mas mesmo assim, estamos aqui.

— Vai precisar confiar em alguém. – digo e faço um esforço para me sentar na beira de uma das camas. A morfina ainda faz efeito, mas não quero me extrapolar para sofrer quando ela for embora.

Vejo-o desviar os olhos do nada e me encarar. Quase consigo sentir o gelo que ele me lança.

— Confio em você.

— Confiar em alguém que não esteja limitado a uma cela com você. – passo a mão pelo cabelo e na mesma hora puxo-a de volta. Não quero ver o estrago agora. – Não vou poder fazer nada daqui de dentro, Hunter. E você mesmo disse que não sou a única da família a odiar o Superior.


Peguei-o em suas próprias palavras, e é por isso que ele fica quieto. Não temos um plano nem uma estratégia nem uma esperança de podermos sair daqui. Tudo morreu no momento em que fui dominada pelo Superior no mesmo segundo que entrei na sala dele. Tudo foi destruído quando vi Hunter quase morrer na minha frente.

— Ele deve ter uma boa influência quando se trata do Superior. – ele diz. – Deve ter aprendido bastante e o suficiente para odiá-lo tanto quanto você ou eu. Mas mesmo assim...

— Você não precisa confiar nele, mas precisa confiar em alguma coisa para sair daqui. – olho para minhas mãos. – Eu acredito nele.

O silêncio que segue é torturante e não sei que será agora. Estou tão cansada e quebrada e sem esperanças que não quero mais saber de nada. Hunter pode me chamar de louca, até traidora. Não vou me importar.

— Não acha que é muito cedo para isso? – pergunta.

Respiro sem esperanças e tento dar de ombros.

— Talvez seja...

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora