Vinte

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Não durmo direito.

Fico acordando toda hora para ver se Hunter ainda está comigo, até que apago de vez, e quando acordo com as luzes acesas, a cama está realmente vazia.

Me levanto num pulo e vou ao banheiro, mas ele não está lá. Visto minha roupa de ontem e saio sem me importar em ser vista. Entro no elevador correndo e aperto o primeiro andar, torcendo para que não pare em nenhum outro. Quando enfim as portas se abrem para a saída principal, totalmente protegida por guardas e soldados, não os vejo lá.

Fico parada, totalmente sem esperanças de vê-lo de verdade pela última vez, sem uma despedida decente, enquanto os guardas me encaram como se eu fosse louca.

— Tudo bem, senhorita? – um deles enfim pergunta, e não sei se ainda tenho voz.

— Os soldados... O grupo de 10 que saíram para a 5º Resistência...? – não consigo terminar de falar, mas eles entendem.

— Saíram antes das luzes acenderem, senhorita.

A realidade cai sobre meus ombros e sinto um buraco do tamanho do mundo se abrir no meu estômago.

Nem nos despedimos direito...

Tento me convencer que estou sendo boba e imatura e que Hunter é forte e esperto o suficiente para não deixar que nada lhe aconteça. Tento me convencer e lembrar que já passamos por coisas piores e sobrevivemos. Tento me convencer que em dez ou quinze dias ele estará de volta e tudo estará no seu lugar.

Vou para a creche porque preciso ver Lucy e colocar minha cabeça no lugar. Preciso de um lugar calmo com alguém que me proporciona calma. Preciso, acima de tudo, ver a primeira pessoa mais importante para mim, já que a segunda não está tão perto quanto gostaria. Preciso, nem que seja por alguns minutos, sentir que não estou sozinha.

Todos os sons parecem abafados demais, e a gritaria e animação das crianças não me desperta nada, nem mesmo atenção. Foco meus olhos a procura da pequena cabeça repleta de cabelos castanhos, até que ela me acha primeiro e vem ao meu encontro. Tento sorrir e mostrar que está tudo bem, mas Lucy é inteligente demais para deixar qualquer coisa passar.

Me sento num canto afastado da sala e deixo que ela sente em meu colo. Acaricio seu cabelo e pergunto como foi sua noite, mas ela continua a me olhar com o cenho enrugado.

— Está tudo bem, mãe? – pergunta, e sei que não adianta mentir.

— Só estou um pouco preocupada. – digo como se não fosse grandes coisas.

— Preocupada por causa do tio Hunter?

— Como assim, preocupada com o Hunter?

Tento saber quais as probabilidades dela saber da missão dele na Quinta Sede da Resistência, e me parece simplesmente impossível, já que eu mesma só fui saber disso ontem a noite.

— Preocupada sobre ele ter sido mandado para a outra Resistência.

Ok. Tem alguma coisa errada.

— Como você sabe disso, Lucy?

Talvez a pergunta tenha sido mais rígida do que queria, pois ela se encolhe e me olha com a cabeça baixa, como se tivesse feito algo errado.

— Ele me disse... – ela começa a falar tão baixo que quase não consigo escutar. – Veio ontem me avisar que iria passar uns dias foras. Disse também que talvez você fosse ficar preocupada, mas que era para eu te deixar tranquila...

— Quando ele veio aqui? – pergunto, tentando me lembrar de ter visto Hunter na creche.

— Antes de você aparecer para me pôr para dormir. Depois do jantar... Não fica brava com ele, por favor...

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora