Não durmo direito.
Fico acordando toda hora para ver se Hunter ainda está comigo, até que apago de vez, e quando acordo com as luzes acesas, a cama está realmente vazia.
Me levanto num pulo e vou ao banheiro, mas ele não está lá. Visto minha roupa de ontem e saio sem me importar em ser vista. Entro no elevador correndo e aperto o primeiro andar, torcendo para que não pare em nenhum outro. Quando enfim as portas se abrem para a saída principal, totalmente protegida por guardas e soldados, não os vejo lá.
Fico parada, totalmente sem esperanças de vê-lo de verdade pela última vez, sem uma despedida decente, enquanto os guardas me encaram como se eu fosse louca.
— Tudo bem, senhorita? – um deles enfim pergunta, e não sei se ainda tenho voz.
— Os soldados... O grupo de 10 que saíram para a 5º Resistência...? – não consigo terminar de falar, mas eles entendem.
— Saíram antes das luzes acenderem, senhorita.
A realidade cai sobre meus ombros e sinto um buraco do tamanho do mundo se abrir no meu estômago.
Nem nos despedimos direito...
Tento me convencer que estou sendo boba e imatura e que Hunter é forte e esperto o suficiente para não deixar que nada lhe aconteça. Tento me convencer e lembrar que já passamos por coisas piores e sobrevivemos. Tento me convencer que em dez ou quinze dias ele estará de volta e tudo estará no seu lugar.
Vou para a creche porque preciso ver Lucy e colocar minha cabeça no lugar. Preciso de um lugar calmo com alguém que me proporciona calma. Preciso, acima de tudo, ver a primeira pessoa mais importante para mim, já que a segunda não está tão perto quanto gostaria. Preciso, nem que seja por alguns minutos, sentir que não estou sozinha.
Todos os sons parecem abafados demais, e a gritaria e animação das crianças não me desperta nada, nem mesmo atenção. Foco meus olhos a procura da pequena cabeça repleta de cabelos castanhos, até que ela me acha primeiro e vem ao meu encontro. Tento sorrir e mostrar que está tudo bem, mas Lucy é inteligente demais para deixar qualquer coisa passar.
Me sento num canto afastado da sala e deixo que ela sente em meu colo. Acaricio seu cabelo e pergunto como foi sua noite, mas ela continua a me olhar com o cenho enrugado.
— Está tudo bem, mãe? – pergunta, e sei que não adianta mentir.
— Só estou um pouco preocupada. – digo como se não fosse grandes coisas.
— Preocupada por causa do tio Hunter?
— Como assim, preocupada com o Hunter?
Tento saber quais as probabilidades dela saber da missão dele na Quinta Sede da Resistência, e me parece simplesmente impossível, já que eu mesma só fui saber disso ontem a noite.
— Preocupada sobre ele ter sido mandado para a outra Resistência.
Ok. Tem alguma coisa errada.
— Como você sabe disso, Lucy?
Talvez a pergunta tenha sido mais rígida do que queria, pois ela se encolhe e me olha com a cabeça baixa, como se tivesse feito algo errado.
— Ele me disse... – ela começa a falar tão baixo que quase não consigo escutar. – Veio ontem me avisar que iria passar uns dias foras. Disse também que talvez você fosse ficar preocupada, mas que era para eu te deixar tranquila...
— Quando ele veio aqui? – pergunto, tentando me lembrar de ter visto Hunter na creche.
— Antes de você aparecer para me pôr para dormir. Depois do jantar... Não fica brava com ele, por favor...

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LIGHTS - Livro II
Ficción General"Fui torturada a vida inteira. Experimentei vários tipos de inferno. Mas nenhum se compara a esse." Depois da missão falha na Capital e descobrir que tem um irmão gêmeo, Lorely, Hunter e toda sua equipe da Resistência se encontra prisioneiros do Sup...