Cinco

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Temos quase uma rotina aqui. Somos acordados quando colocam comida pela pequena abertura da porta, comemos quando estamos com vontade, e vez ou outra, nos levam para um banheiro apertado que tem água gelada, e se quisermos, podemos tomar banho. Os cuidados médicos vêm a nossa cela, agora. Cher e Viktor entram, trocam nossos curativos, nos medicam e saem sem dizer nada.

Já se passaram cinco dias, mas parece uma eternidade.

Parece que esse dia nunca vai chegar.

Estou espremida numa das camas pequenas com Hunter ao meu lado. Está tão frio, que tenho certeza que desligaram o aquecedor para nos torturar. Os dedos – mesmo debaixo das cobertas e meus pés estando debaixo da perna de Hunter – parecem que vão cair. Estou deitada na ponta da cama, de lado, para não machucar as costas, enquanto ele me abraça com seus braços longos e tenta me aquecer. Estou morrendo de frio e tremo até os ossos, Hunter se sustenta somente com um dos seus cobertores, e ainda faz o favor de me aquecer.

Está quente como o inferno, e me pergunto do que ele é feito.

Passam mais alguns longos minutos até que sinto surtir algum efeito vindo de todo esse esforço. Parei de tremer um pouco e parece que meus dedos não vão cair hoje. Abro os olhos depois de apertá-los por tanto tempo e espero alguns segundos, até a vista se acostumarem com a luz da cela. Hunter está encarando o teto sem piscar, e sei que ficou assim por horas. Não é a primeira vez que isso acontece.

— Hunter. – chamo-o e no mesmo segundo ele vira para mim. Os olhos atentos.

— Oi.

— Acha... Acha que vamos conseguir voltar para a Resistência?

Estive pensando nisso durante todo o tempo que estamos aqui. O que não nos falta é tempo para pensar e raciocinar e refletir, e é sobre isso que estou pensando. Sobre nossa fuga, sobre voltarmos para a Resistência sem termos completado nossa missão. Voltarmos, talvez, com mais problemas do que tínhamos quando saímos.

Hunter me observa por um longo tempo, não sei se me avaliando ou se pensando em minha pergunta.

— Fiz muitas promessas antes de sair de lá, Lorely. Metade delas já foram quebradas, mas tem uma última que dou minha própria vida para cumprir.

De repente meu coração está acelerado e estou ruborizada e com os olhos arregalados. Sem palavras. Sem reação.

— Prometi para Lucy que manteria você segura e te levaria de volta para ela. Prometi que te deixaria viva. Sã. E esse é o meu plano. Então, sim. Vamos conseguir voltar para a Resistência, de um jeito ou de outro.

Respiro com força e fecho os olhos lentamente, enquanto assinto. Ok.

Vamos voltar para a Resistência...

Agora, teoricamente, partirmos amanhã.

Estamos mais inquietos que todos os outros dias. Não consigo ficar parada em um só lugar, e depois de 8 dias aqui, estou mais que agoniada por sair. Fico fazendo movimentos circulares com o ombro e tento ignorar a dor. Sei que vou precisar passar por isso para que ele volte ao normal, e como não sei o que será desse trajeto, prefiro me prevenir.

Hunter faz flexões e luta com o vento, levando involuntariamente a mão à costela machucada às vezes. Sei que é inútil que eu peça para descansar, então ele se alonga, alonga mais um pouco, soca as paredes, chuta o ar e faz movimentos tão rápidos que quase não vejo. Agora estou sentada na cama e deixo o resto do espaço da cela para ele. Tirei meus curativos com cuidado e estou com um top improvisado para cobrir os seios enquanto deixo os ferimentos tomar sua quantidade de ar diário. É incrível o modo que se concentra e esquece da minha presença enquanto treina. Olhar para ele nesse estado faz com que me lembre dos treinos e do quanto me assustava.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora