Vinte e três

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Já perdi noção do tempo que estamos nessa sala.

Conseguimos uma conexão boa com as outras três sedes da Resistência e seus representantes, e mostramos nossas ideias para eles. De início foi difícil fazê-los entender sobre James e acreditar que ele poderia realmente ajudar, mas quando o mesmo começou a falar e explicar e dar exemplos de formas de ataques que ninguém em nem mesmo um milhão de anos pensaria, todos pesaram a ideia e aceitaram.

Passamos horas fazendo balanceamento de armas e homens e localidade e pensando em estratégias legais e válidas para esse ataque. Primeiro, vamos começar o ataque por longe, fazendo barreiras da Central para os aglomerados e lugares mais pobres. Isso dificultará a transição dos soldados inimigos e nos dará uma vantagem, pois estamos infiltrados em todos os lugares. O pensamento de tantos mortos me preocupa, e cada plano de bombas explodindo e ataque surpresa e morte em grande escala, me deixa ligeiramente enjoada.

— Não há guerra sem derramamento de sangue. E se não for o deles, será o nosso. – James diz. Sei que tenta me acalmar, mas isso não ajuda muito.

Não é preciso passar recado a ninguém. Essa conexão direta que tivemos com os representantes de cada Resistência nos permitiu acertar tudo ao vivo. Foi somente James meter a mão, digitar alguns códigos, baixar alguns programas e tudo funciona. Ele é tão bom com computadores como é bom segurando uma arma ou lutando. Na verdade, não sei no que ele não é bom.

Somos liberados uma hora antes do jantar e vou para o quarto de Hunter com ele. Tomamos banho juntos, nos amamos por longos minutos e nos preparamos para ir para o refeitório. O mundo pode estar entrando em conflito, eu sei, mas esse tempo nosso faz tudo parecer mais fácil, como uma válvula de "escape", e percebo que agora que demos esse passo na nossa relação, não vamos mais parar. Nunca mais.

— Você pode vir para cá, se quiser. – ele diz quando estamos nos vestindo pela segunda vez.

— Como assim? – pergunto, sem entender o que quis dizer.

— Pode pegar suas coisas e trazer para cá, se quiser. Se antes disso tudo você já passava quase todas as noites aqui, o que mudará agora?

Isso é verdade. Meus pesadelos tinham ficado bem mais frequentes nos últimos tempos, e isso fez com que estivesse sempre em seu quarto. Só não ia quando dormia com Lucy, o que de certa forma, não era sempre.

— O que acha que as pessoas vão dizer sobre isso? – pergunto, mas não por mim, e sim por ele. Logo Hunter que confessou para mim que não estava preparado para que as pessoas o olhassem dessa forma. As pessoas que nunca tinha o visto tão vulnerável ou aberto a qualquer tipo de relacionamento.

Mas esse é o mesmo Hunter que de ombros e se abaixa para amarrar o cadarço do coturno.

— O mundo está pior do que esteve nos últimos tempos e tudo isso pode acabar de uma hora para outra. Estou pouco me lixando para o que as pessoas vão pensar ou dizer. – ele volta a se levantar quando amarra os dois e dá o passo que nos separa, segurando meu queixo com o indicador.

— Se ficar melhor para você, pode vir. Vou ficar feliz em poder chamar esse quarto de "nosso". E quer saber? Já quase perdemos um ao outro mais vezes do que o necessário, e sempre acabamos com o pensamento de "eu poderia ter feito ou dito isso". Não mais, ok? Se o mundo acabar amanhã, quero que pelo menos tudo esteja certo entre nós.

Tem raios do sol saindo de mim, pois nunca pensei que ouviria esse tipo de coisa vindo dele. Nunca pensei que Hunter perderia o medo do que as pessoas falariam. Nunca pensei que ele me chamaria para dividir o quarto com ele. Nunca nem mesmo pensei que poderia chamá-lo de "meu" na frente dos outros ou olhá-lo de verdade, como estou olhando-o agora.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora