Quinze

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Caminho com tanta naturalidade por esses corredores, que nem chamo mais atenção. À essa altura do campeonato, os guardas já abrem a porta automaticamente assim que me veem sair do elevador. Sou revistada rapidamente, mas sem real intenção de encontrarem algo. Mais por rotina do que por precaução.

Estamos indo para a terceira semana que visito James em sua cela, e já se tornou tão normal, que quando passo pela porta, ele já está sentado, me esperando, como se já tivesse gravado a hora que chego, mesmo não tendo um relógio para guiá-lo.

Hoje estou com uma pilha de livros nos braços, e deixo todos em cima da mesa, fazendo um barulho estrondoso.

Carrego um sorriso enorme no rosto, e ele só aumenta ao notar a expressão de incredulidade que toma James.

— Já fiquei presa e sei o tédio que é isso, então trouxe esses livros para você se distrair enquanto não estou o aqui, o que é, na verdade, a maior parte do tempo.

Sua expressão não muda, e posso dizer que é uma das primeiras vezes que vejo uma expressão de verdade nele, já que James aprendeu deixar o rosto livre delas durante toda a vida.

Sem expressões, como o Superior.

Mas isso me agrada. Ver e saber que enfim, fiz uma coisa que o deixou incrédulo.

— Peguei-os do quarto do Hunter. Espero que ele não note.

Me sento na cadeira que está encostada na parede desde o primeiro dia que o visitei, e não mudou de lugar desde então. Espero mesmo que Hunter não note, mas é impossível uma quantidade tão grande de livros assim sumir e ele não perceber. Não me importo. Terei uma boa desculpa para ele.

Vejo James pegar cada um dos livros e admirar as capas velhas – alguns nem tem capas – observar as folhas amareladas. Seus olhos observam tudo com tanta atenção, que me assusto quando ele pergunta, ainda ser erguer os olhos.

— Há quanto tempo você está com esse Hunter?

Sua voz tem um quê de ironia, por mais que seja fria, e sei que há algo dentro dele que não gosta de Hunter tanto quanto Hunter não gosta dele.

Eu poderia ter ficado sem graça com sua pergunta tão íntima, mas não fico. Na verdade, fico feliz por ele estar interessado em saber alguma coisa, e acima de tudo, estar falando comigo.


Dou de ombros, tentando parecer indiferente.

— Não contei os dias. Uns três, quatro meses. Não sei ao certo. – penso em parar de falar, mais sei que ele vai voltar a ficar calado, ainda mais agora que tem livros em mãos, o que, de certa forma, são coisas mais interessantes do que eu que venho atrapalhar seu dia, então continuo a falar. – Quando eu cheguei aqui, morria de medo dele. Na verdade, eu tinha medo de todo mundo. Temia minha própria sombra, mas Hunter me fazia tremer, com todo o seu tamanho e força e ainda mais quando pegava tanto no meu pé e era grosso comigo nos treinos.

James está com os olhos erguidos e me observa enquanto falo.

Parece interessado.

— Fica com uma pessoa que te trata mal?

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora