Não há nada que eu possa fazer. Nada.
Tudo o que há agora, é caos. Medo. Terror.
Pessoas estão falando com tanta intensidade e chorando e querendo entrar em contato com membros da família que não está nessa unidade, enquanto eu continuo aqui, sentada nesse chão gelado, encarando o nada.
Não posso fazer nada.
Estou de mãos atadas...
— Ei, Lore. – essa pessoa tá me chamando a tanto tempo que desisto. Tiro os olhos do nada e olho para o lado, encontrando Hunter agachado perto de mim. – Está me ouvindo?
Faço que sim duas vezes e perco o foco dos olhos de novo. Tudo o que vejo na minha frente, é Superior e as vinte pessoas que ele acabou de matar.
Vinte pessoas que em breve serão trinta e então cem e então não restará nada de nós. Nada, além de um mundo vazio e desgraçado.
— Lore! – ele me chama de novo e volto a olhar para sua figura que toma forma e some à minha frente, tudo rápido demais. Estou quase tonta. – Preciso dar um jeito nessa confusão, mas não posso deixar sozinha agora. Pode ir para o meu quarto? Consegue chegar lá?
Ele segura meu rosto entre as mãos e espera até ter uma resposta positiva e clara vinda de mim.
— Toma meu cartão de acesso. Só entrar e me esperar, ok? Não deixe ninguém entrar. Vou usar o nosso código para você abrir quando eu chegar, ok?
Assinto de novo e deixo que ele me levante. Hunter espera alguns segundos até se certificar que estou segura em minhas próprias pernas e me acompanha até o elevador. Chama o primeiro que vê e me põe dentro, acionando o andar do seu quarto. Recebo um beijo rápido na testa antes que ele saia para salvar o mundo e seu caos. Enquanto eu vou para seu quarto me encolher e chorar.
Talvez não tenha ficado tão forte assim.
Talvez eu tenha voltado da Central mais fraca do que fui.
Encaro o painel com a sequência infinita de números dos andares.
Vejo o andar de Hunter piscar em uma frequência exata, enquanto meus olhos descem quase até o final, encarando o andar que tenho acionando bastante ultimamente.
Não hesito antes de apertá-lo de novo, e quando o elevador para no andar de Hunter, não desço.
Quando saio para o corredor, vejo somente um guarda, ele não hesita em abrir a porta sem nem mesmo me revistar. Quando entro, vejo James deitado, com o livro erguido sobre o rosto. Ele se assusta por minha chegada brusca e em segundos está sentado. Não sei o quanto isso machuca o seu ferimento que a essa altura está tão bom quanto o meu, mas isso logo sai da minha cabeça.
Estou transtornada.
Não me sento. Não consigo.
Fico andando de um lado para o outro no pequeno espaço, respirando e respirando e respirando. Não sei exatamente o que vim fazer aqui, mas vim.
— Lorely...? – ele chama meu nome como se fosse me acordar de algum transe, e em tese, realmente acordo, pois ouvir meu nome de sua boca me dá coragem para falar o que tenho em mente.
Preciso dizer isso em voz alta...
— Ele... Ele acabou... – estou ofegante e há um nó do tamanho do mundo entalado na minha garganta. – Ele acabou de fuzilar... Vinte pessoas... Em rede nacional...
Pronunciar isso em voz alta é o que basta para que me derrube ao meio. Caio na cadeira que nunca mais saiu do seu lugar e sinto o peso e a responsabilidade por todas essas mortes. Por cada pessoa que tem perdido sua vida e sua liberdade, e cada criança que é explorada e cada pai que se mata de trabalhar e cada lágrima desse povo ferido e infeliz...

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LIGHTS - Livro II
Genel Kurgu"Fui torturada a vida inteira. Experimentei vários tipos de inferno. Mas nenhum se compara a esse." Depois da missão falha na Capital e descobrir que tem um irmão gêmeo, Lorely, Hunter e toda sua equipe da Resistência se encontra prisioneiros do Sup...