Vinte e quatro

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Sou acordada quase de madrugada por Hunter. É uma rara noite em que durmo bem, e sou acordada meia hora antes das luzes se acenderem. Quando ele puxa minhas cobertas, joga minhas roupas de treino sobre a cama e grita "A cada minuto que você ficar nessa cama desde agora, será mais meia hora na sala de treino", sei quem me acordou não foi meu Hunter, e sim o Hunter Professor.

Demoro dois minutos para me levantar, então ganho mais uma hora de treino totalmente grátis.

Tomo um banho que não deveria ser chamado de banho, escovo meus dentes superficialmente e saio do banheiro com os cadarços desamarrados enquanto tento prender meus cabelos, que por alguma razão – nem digo qual – está todo emaranhado.

Hunter já está completamente vestido para treinar/dar aula e olha para o relógio quando dou as caras. Sei que tenho que estar pronta antes das luzes se acenderem, e alguma coisa dentro de mim diz que isso acontecerá muito em breve.

Sento na beira da cama, amarro rapidamente os cadarços e fecho a jaqueta. Me levanto no mesmo segundo que as luzes acendem, e estou ofegante.

— Evitou mais uma hora de treino. – ele diz, e quase sinto o medo que tinha por ele escalar meu estômago e ameaçar sair, somente pelo jeito de falar. – Tá esperando o que para sair?

— Nada. – respondo, e bato em retirada para a sala de treino.

Sou a primeira a chegar, e começo o aquecimento antes que ele mande. Alguns minutos depois outras pessoas vão chegando e me acompanham. Quando James passa pela porta, estou lutando com Hunter com tanta intensidade, força e determinação, que quase perco sua expressão de espanto. Paramos no segundo em que desvio de um soco ágil e, por ser pequena, passo por debaixo do seu braço em meio ao movimento e imobilizo-o. Então, é quando vejo James parado na porta com Dany ao seu lado. Os dois admirados pela cena.

Largo o braço de Hunter e finjo que não fiz nada demais. Com um gesto, todos estão formando um círculo no meio da grande sala, e consigo contar, facilmente, mais de 70 pessoas aqui.

— Treinamos para isso a vida toda e não é tão difícil assim. Ao som dessa sirene, – Hunter aperta um botão de um pequeno objeto que emite uma sirene forte e com três intervalos. – saberemos que chegou a hora. De início, estamos enviando pequenas tropas para ataques diários, mas caso a coisa toda exploda, todas as forças serão usadas. E se vocês já não tiverem lá em cima, subiremos.

Eu que estou aqui somente há alguns meses, já conheço todo o protocolo de ataque, fuga e evacuação, mas mesmo assim, Hunter cita todos eles e como acontecerá. Fala de como temos a "sala segura" que será liberada no mesmo instante do ataque, onde as crianças e os idosos serão protegidos. Fala de como essa sala é forte e como foi arquitetada e projetada e como tem saídas de emergência que levam a túneis com diversas direções do Novo Estado.

Depois de todo o seu discurso e explicação e esclarecimento, partimos para o treino.

E, Deus, como eu queria ter continuado na cama hoje.

Ganhamos vários tipos de armas sem munição e somos divididos em dois grupos. É formada uma linha de combate frontal, uma mediana e traseira, que tem as armas mais fortes e potentes, como carros-tanques, bombas e outras tecnologias.

E nisso, temos que lutar um contra os outros, até a morte.

A batalha é intensa, e o oponente é considerado morto quando supostamente acertado num lugar vital ou jogado no chão. Se caiu, permanece onde está. Somos obrigados a continuar a luta com todos ali.

— Na guerra não vai ter ninguém para tirar o corpo do seu amigo ou do seu inimigo da sua frente! – Hunter grita, e nunca o vi tão agressivo assim.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora