Vinte e cinco

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É um dos raros sonhos que tenho que são bons. Que me trazem paz. Que me deixa aquecida e me sinto protegida. Me sinto segura. Me sinto bem.

O céu está do azul mais lindo que um dia pude imaginar. As poucas nuvens que têm são tão brancas como algodão. O vento está morno como uma carícia, e sinto sob os pés o que um dia poderia ter sido chamado de grama. Um campo vasto e grande e gigante de grama verde e macia. Por baixo dela, consigo sentir até mesmo a terra úmida

Esse deveria ser um mundo perfeito, penso. Repleto de paz e dias ensolarados e bonitos e com cheiro de liberdade e esse sentimento de complemento.

Pela primeira vez na minha vida, não sonho com o Superior ou com mortes ou com ataques ou com a perda das pessoas que mais amo. Pela primeira vez não sonho que estou sendo violentada e maltratada e espancada e torturada. É a primeira vez, desde que me lembro, que sonho com algo bonito. Com algo leve. Com algo que faça com que eu deseje continuar sonhando. E eu continuaria o resto da vida.

Isso se a sirene ensurdecedora não me arrancasse daqui com toda sua brutalidade.

Estou sentada na cama de volta à Resistência e tudo está escuro. Meu coração bate com tanta força contra o peito que chega a doer. Estou paralisada pela troca repentina de cenário, e a primeira coisa que posso pensar em fazer, é tatear o outro lado da cama.

— Estou aqui. – ouço-o responder acima da sirene alta, e é tudo o que preciso para juntar forças e levantar.

No segundo seguinte todas as luzes se acendem e fico cega por alguns instantes. Percebo que ainda estou nua, e por isso, corro até a cômoda e pego a primeira peça que vejo.

"Isso não é um treinamento. Soldados, por favor, sigam o protocolo indicado. Isso não é um treinamento. Soldados, por favor, sigam o protocolo indicado. Isso não é..."

A voz mecânica no alto-falante continua a dizer isso eternamente, e já estou completamente vestida quando Hunter pega nossos rádios, jogao meu em minha direção e abre a porta.

E não pensamos duas vezes antes de sair correndo por ela.

Os corredores e elevadores estão lotados. Todos os soldados ainda estão com cara de sono, mas o medo e o espanto e a determinação tira toda atenção de qualquer outro vestígio. Estamos indo para o mesmo andar, e por isso, quando a porta do elevador que estamos se abrem, todos saímos no andar da Sala Principal, a qual está preparada para esse momento há dias.

Minhas pernas estão se movendo e estamos andando e atravessando portas, e tudo o que consigo associar, é do quão forte meu coração está batendo contra o peito, e do tamanho do medo que estou sentindo.

Estou totalmente apavorada.

Nunca pensei que esse dia chegaria. Nunca imaginei que seria assim. De repente, me sinto dentro de um sonho. Dentro de um grande e horrível sonho. Mas sei que não é.

Essa, é a mais crua realidade.

Passamos pela fila que se forma e vamos direto para o pequeno grupo conhecido. Todos estão falando rápido e baixo, e quando chegamos, olham em nossa direção.

— James estava na Sala de Controle e conseguiu capturar uma comunicação entre alguns dos Superiores Secundários. Começará hoje. – Dany explica rápido, e assentimos.

— Se troquem e ajudem os outros. Devemos seguir o protocolo e estarmos prontos o quanto antes. – Trade ordena, e fico novamente admirada pela calma que carrega na voz.

Como se não tivéssemos prestes a subir e enfrentar uma guerra.

Foi programado um percurso para o protocolo indicado. A Sala Principal é gigante, e por isso, correspondeu a todas nossas expectativas, onde, primeiro o soldado recebe sua roupa, tem um espaço para se vestir com todo o equipamento que lhe é oferecido e, depois que toda sua farda estiver completa, recebem os armamentos e por último, uma mochila prática feita com o mesmo material do uniforme, com um kit de sobrevivência e primeiros socorros. Só Deus sabe quanto tempo isso tudo vai levar.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora