Dezenove

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Pensei que não conseguiria. Pensei que depois de tudo o que aconteceu, ninguém me daria ouvidos, mas é essa correria que acontece na Resistência que me dá essa certeza.

Estamos de volta. Só tivemos uma recaída.

Vou para a cela de James logo pela manhã, mas ao contrário dos outros dias, não vou poder ficar muito tempo. Agora que meu braço está parcialmente melhor, tenho que voltar a treinar a luta e todo o resto. Por mais que não esteja no controle dessa missão, sou uma soldada, e preciso estar preparada.

Os guardas abrem a porta, e dessa vez não me revistam.

Eles devem saber de algo que eu não sei, ou simplesmente estão de bom humor. De qualquer forma, não questiono. Bato duas vezes antes de entrar e quando coloco a cabeça para dentro, encontro James parado no meio do quarto. Parece que estava andando de um lado para o outro, e imagino que seja para esticar as pernas. Já fiquei presa como ele, e sei o quão ruim é ficar sentado ou deitado o tempo todo.

Seus olhos azuis infinitos me encaram com atenção, e fazem milhares de perguntas das quais entendo completamente.

Ele quer saber se eu disse algo a alguém.

Quer saber se vai dar certo.

Quer saber – e essa pergunta talvez ele não queira mostrar, mas consigo ler – se essa sua atitude o faz da Resistência tanto quanto hoje eu faço parte dela.

Imagino o quão desesperado está por fazer parte de uma ideia tão grandiosa e de um movimento tão fascinante que é a Resistência. Imagino o quão ansioso está para pertencer, enfim, a um lugar seguro, onde seus medos e seus ódios não são errados, onde você aprende a encará-los e enfrentá-los. Imagino, pois sei o quanto esperei por isso, por fazer parte de algo, por não ser mais inútil, por ter algum propósito na vida, e ao perceber isso, tenho vontade de soltá-lo e deixá-lo de frente à esse ataque. Afinal, não seria nada mais justo.

Infelizmente, essa decisão não cabe a mim.

Mas sei que por mais que não caiba a mim, posso influenciar pelas beiradas, e é isso que vou fazer. Muito em breve.

— Sua ideia está, nesse exato momento, sendo executada pela Resistência. – digo séria, mas tenho vontade de dizer com um grande sorriso no rosto.

James arregala os olhos por cinco segundos, sem acreditar, até que desvia o olhar, senta na beira de sua cama e encara o nada. Não faço ideia do que se passa pela sua cabeça.

— Isso é uma boa notícia, não é? – pergunto, confusa, quando ele não diz nada.

— Sim... É uma ótima notícia. – diz enfim, ainda sem olhar para mim. Ele apoia os cotovelos nos joelhos e cobre a boca com as mãos. Se seus olhos não tivessem tão sérios, poderia jurar que ele está sorrindo por trás dos dedos. – Só é novidade para mim que alguém tenha dado ouvidos ao que penso.

Então imagino que sua opinião na Central não tenha tido muito valor. Não consigo imaginar como isso pode acontecer, pois James é preciso e delicado na hora de traçar um plano e estratégia, parte por ter sido treinado a vida inteira para isso, parte por ter presenciado de perto ataques gerenciados pela Central. Ele sabe os pontos fracos e fortes do inimigo, e conhece esso Novo Estado tanto quanto o próprio Superior. Para dizer a verdade, não sei o que seria de nós se ele não tivesse dado sua ideia.

Agora, temos uma saída. Uma chance. E ela está sendo posta em prática nesse exato momento.

— Teria como me trazer um mapa completo do Novo Estado, canetas e um caderno? – é o que James pede depois de abrir a boca após um longo tempo calado. – Acho que posso deixar as coisas mais claras com anotações de locais e tudo o mais...

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora