Nove

109 8 0
                                    

Minha mente decidiu voltar a funcionar, não sei bem quanto tempo faz. Meu corpo está sendo ligado lentamente, e aos poucos, recebo os sentidos de volta. Primeiro, a audição. Ouço passos a vozes cochichadas e gavetas sendo abertas e respirações profundas e preocupadas. Depois, o olfato. Sinto cheiro de álcool, medicamentos e hospital. Em seguida, volto a sentir meu corpo. Os músculos doloridos por terem ficado tanto tempo parados, o pulmão reclamando por estar sendo expandido mais um pouco e então, as dores mais fortes, como a das costas, o ombro e meu braço esquerdo.

Me sinto acabada.

Por fim, com muito esforço, consigo abrir meus olhos.

Fico cega por longos segundos e minha cabeça dói com o esforço que faço para enxergar através do véu que cobre minha visão. Sei que o ambiente em que estou não é tão claro assim, o que me faz ter dúvidas sobre meus sentidos estarem voltando com certa lentidão.

Vou me adaptando aos poucos e noto que ainda não consigo me mexer.

Meu corpo está pesado como uma pedra, então fico parada.

Aproveito os sentidos que ainda tenho e presto atenção a minha volta. Agora está silêncio. O cheiro de álcool continua no ar, e olhando a minha volta, percebo que conheço essas paredes cinzas. Estou de volta à Resistência. Conheço esse cheiro e essa porta e ao olhar para a grande janela de visualização, do lado de fora, no corredor, vejo Hunter. E ele discute com alguém.

— Não tem essa de horário de visita! – ele diz, e agora consigo ouvir. – Olha, Gerda, me deixe entrar antes que eu faça alguma besteira.

— Primeiramente, abaixe sua voz. Você está numa área hospitalar. Tenha respeito, em primeiro lugar, aos doentes, e em segundo lugar, a mim. – ouço a mulher dizer de modo rígido, e sei que ele não vai conseguir se livrar dela com tanta facilidade. ― Você está alterado e nervoso, isso não vai ajudá-la de modo nenhum. Deixe-a descansar.

Essas palavras parece quebrá-lo ao meio, e toda sua carrancuda cai. Hunter respira fundo e deixa os ombros caírem, encostando a testa no vidro. E ao erguer os olhos para me observar, ele me vê.

Acordada.

Olhando para ele.

Como se Gerda não tivesse dito nada para impedi-lo, Hunter consegue passar por ela sem nenhuma dificuldade e abre a porta, entrando no quarto como um louco. Seu desespero misturado com felicidade e incredulidade é palpável, e quase consigo sorrir.

— Hunter, eu vou ser obrigada a chamar... – Gerda para no meio da frase quando me vê de olhos abertos, e os dois estão paralisados no meio do quarto, me encarando.

— Obrigada a chamar Trade? – Hunter termina sua frase e está sorrindo. – Pode chamar. Avise também que Lore acordou...

A mulher fica sem saber o que fazer por dois segundos, até que então sai correndo pela porta, pronta para espalhar a boa notícia.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora