Quatorze

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Passei um longo tempo com James, mas não consegui nada que seja útil. Na verdade, esqueci meu verdadeiro objetivo enquanto conversava com ele, e tive alguns raros momentos em que ele falava uma frase com mais de dez palavras.

As coisas entre eu e Hunter estão estranhas, e agora que estou mais calma, anseio por poder falar com ele. Sei que não fiz nada de errado, mas mesmo assim, tenho vontade de pedir desculpas, somente para poder tê-lo de volta.

Odeio isso em mim.

Preciso ser mais forte.

Não volto para treinar. Preciso dar esse gelo nele, e o tempo vago que tenho, passo com Lucy, até que Dara e Clara possam chegar de suas tarefas e possamos fazer coisas de meninas.

Clara cortou mais um pouco do meu cabelo que ficou danificado pelas chicotadas e o desfiou nas pontas, para disfarçar a grande quantidade de fios quebrados. Aproveitamos e aparamos as pontas do cabelo de Lucy que já estava bem grande. Acho incrível como pequenas coisas deixam essa menina tão feliz.

A ideia de eu ser mãe dela realmente pegou, de modo que as pessoas se referem a ela como "sua filha". Adoro essa ideia. Talvez eu nunca vá gerar uma criança que seja minha. Talvez eu não viva tempo suficiente para isso ou não ache alguém para realizar isso comigo ou então eu continue com essa minha ideia justa de não colocar nenhuma criança no mundo para sofrer, mas ainda tenho Lucy, e agora, sinto o gosto de ser mãe de verdade.

— Agora só falta um pai. – Dara alfineta e Clara dá uma cotovelada tão forte em suas costelas, que ela pula.

Fico vermelha e me pergunto se as pessoas já repararam algo entre eu e Hunter. Talvez sim, talvez não, e na verdade, pouco me importo, porque nem eu sei o que tenho com ele, isso se tenho algo de verdade.

Já se passou quase uma semana que não dirijo minha palavra a ele, e por sorte – ou não – nos esbarramos poucas vezes, e todas elas foram em horas inapropriadas. Mas é quando estou voltando para o meu quarto depois de ter colocado Lucy para dormir na creche, que esbarro com ele no elevador. E estamos sozinhos.

Hunter entra, olha para mim, aciona o seu andar e não diz nada. Fecho os olhos lentamente, respiro fundo e conto até dez, tentando me segurar para não pedir desculpas aqui e agora. Nem que seja somente para falar no quanto ele é idiota e o quanto está sendo infantil e que sinto saudades do seu cheiro e dos seus beijos.

Não digo nada.

O elevador para em seu andar e vejo a porta abrir. Por um segundo Hunter olha pelo corredor, como se procurasse por alguém, e como está tudo deserto, sou surpreendida quando ele pega meu braço bom e me puxa para fora. Não tenho tempo de protestar, pois atravessamos o espaço que falta com tanta rapidez, que nem percebo quando ele abre a porta do seu quarto com o cartão e me empurra para dentro. Sou jogada contra a parede e perco o fôlego com a dor, mas então sou anestesiada por seus lábios nos meus.

Hunter nunca foi tão bruto assim.

Descubro que gosto.

Procuro desesperadamente um lugar para me segurar, pois estou caindo num abismo sem fim e o mundo não para de girar ao meu redor. Suas mãos seguram minha cintura com tanta força que sinto que pode me quebrar ao meio, e não duvido disso. Estou na ponta dos pés enquanto ele está curvado sobre mim e bebemos com tanta sede um do outro, que parece impossível.

Impossível.

Sou tirada da parede, somente para ser jogada em sua cama. Num estado normal, eu teria gritado de dor, mas estou completamente submersa nessa paixão cega que nunca vi antes. Nunca presenciei tanta ferocidade.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora